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Protógenes nega ter investigado filho de Lula e Dilma Rousseff

Valor Online

No depoimento prestado à CPI das Escutas Clandestina da Câmara dos Deputados, ontem, o delegado federal Protógenes Queiroz usou 45 vezes o direito que lhe foi concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Tribunal Regional Federal de São Paulo para se abster de responder a perguntas que lhe foram feitas sobre procedimentos adotados durante a Operação Satiagraha.

Falou repetidamente, entretanto, sobre grupos econômicos internacionais que, em parceria com autoridades brasileiras, teriam interesse em explorar o subsolo brasileiro. O acordo, segundo ele, teria sido realizado em 1992 e fora descoberto depois que uma ação judicial nos Estados Unidos promovida pela Brasil Telecom contra a empresa Kroll produziu 250 caixas com detalhes de um acordo "guarda-chuva" que envolvia medidas a serem adotadas no Brasil, como a privatização de estatais e a transposição do rio São Francisco.

Dantas seria um dos artífices desse acordo, auxiliado pelo ministro Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Lula, à época seu auxiliar. Outros envolvidos no acordo seriam fundos de pensão e bancos estrangeiros. Em nota, a Kroll negou as acusações de espionagem de autoridades e empresários brasileiros.

Questionamentos como o envolvimento da Abin na operação de grampos na Satiagraha não foram respondidas. Disse apenas que houve participação informal da agência. A oposição, em especial o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), insistiu em perguntas que direcionassem o envolvimento do governo federal em investigações, como da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ex-ministro José Dirceu, e o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Protógenes negou ter investigado tanto Fábio Luís, filho do presidente, quanto Bernardo Figueiredo, assessor da ministra. Do outro lado, parlamentares do P-SOL, como Luciana Genro (RS) e Chico Alencar (RJ), acompanhavam o depoimento e intercediam em favor do depoente.

Houve momentos de tensão protagonizados por Chico Alencar e o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ). Primeiro quando Alencar questionou se Daniel Dantas voltaria a comissão para depor, já que havia um requerimento de reconvocação. O relator, Nelson Pelegrino (PT-BA), afirmou que ele estava desinformado por ser a primeira sessão dele na CPI na condição de suplente. "Chego agora aqui, mas não na vida nem na política. Espero que não haja a crucificação de uns e a ressurreição de outros".

Outro momento tenso foi quando, enquanto Protógenes depunha, aparecia uma imagem no telão com a frase "O delegado Protógenes Queiroz apresenta várias versões nos depoimentos prestados, um a CPI e quatro ao Ministério Público. Onde está a verdade?". Chico Alencar questionou isso e bateu boca com Itagiba. "O senhor está sendo parcial", disse.

As falas de Protógenes centravam-se na participação de Daniel Dantas - o "banqueiro condenado", como se referia sempre a ele - em acordos com grupos estrangeiros para explorar o país. Mencionou como exemplo o fato de Dantas, de acordo com ele, possuir mais de mil liçencas para exploração do subsolo no país e que muitas delas estariam no Pará, onde o banqueiro é proprietário de fazendas.

No plenário lotado, havia uma claque para o delegado, com pessoas vestindo camisetas em verde-amarelo escritas "Protógenes contra a corrupção". A simpatia de uns contrapunha-se à irritação de outros que se agastavam com o delegado, já que na maior parte das respostas iniciava dizendo lentamente "Excelentíssimo senhor deputado federal membro da Comissão Parlamentar de Inquérito que tem por objeto investigar escutas clandestinas".

Protógenes iniciou o depoimento dando boa tarde aos presentes e "ao povo brasileiro que por ventura nos assistem em seus lares com suas famílias". Citou ainda a semana da Páscoa e da "paixão de Cristo" como propícias para refletir sobre a situação do país.

Mais tarde, o relator Nelson Pellegrino afirmou que, apesar de reconvocados pela comissão, o banqueiro Daniel Dantas, o ex-delegado da Polícia Federal (PF) Paulo Lacerda e o juiz Fausto de Sanctis podem não ser ouvidos pela CPI caso ele avalie não ser necessário. O delegado disse que a participação da Abin não se restringiu à Satiagraha, mas espalhou-se por 160 investigações.
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