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Após casamento em SP, gays querem mudanças em documentos

G1

O casal gay que conseguiu na Justiça que sua união estável fosse convertida em casamento civil disse na tarde desta terça-feira (28) que agora irá providenciar a mudança de todos os documentos. Em entrevista horas após saírem do cartório em Jacareí, no interior de São Paulo, onde oficializaram o pioneiro casamento, o comerciante Luiz André Resende Sousa Moresi e o cabeleireiro José Sérgio Sousa Moresi não escondiam a felicidade. “Ainda está caindo a ficha”, brincou José.

Atualmente, todos os documentos estão com os nomes de solteiro. “Agora nessa e na próxima semana, nas horas vagas, iremos trocar RG, CPF, título de eleitor. Será uma correria”, disse Luiz.

A decisão favorável foi divulgada na segunda-feira (27) e pegou o casal de surpresa. O cabeleireiro foi até a loja especializada em aluguel de roupas de casamento de uma amiga e pediu ajuda. Na manhã desta terça, a menos de duas horas da cerimônia no cartório, Luiz e José estavam rodeados de costureiras que faziam os ajustes finais nos ternos emprestados. “Como temos estilos diferentes, não temos roupas parecidas”, justifica o cabeleireiro.

A escolha por uma gravata rosa foi proposital. “A gente queria chamar a atenção mesmo”, disse o comerciante. Devidamente vestidos, eles foram até o cartório e se impressionaram com a quantidade de câmeras e jornalistas. “Isso é bom, para divulgar nossa causa”, acrescentou Luiz, que faz parte de organizações não governamentais a favor dos direitos da comunidade gay.

Durante a cerimônia, que por conta da imprevista decisão judicial foi acompanhada apenas por poucos parentes e amigos, o casal se emocionou. Na ausência de um juiz de paz, o promotor de registros de Jacareí José Luiz Bednarski proferiu palavras que emocionaram o casal. Ele lembrou que na Constituição homens e mulheres são iguais e têm os mesmos direitos garantidos e que espera “que essa semente plantada hoje seja no futuro se transforme em uma grande árvore”.

A história dos dois porém não é apenas de felicidade e de boas notícias. Ambos reclamam do preconceito enfrentado diariamente. “Nunca fomos agredidos fisicamente. Mas tem gente que deixou de falar com a gente quando ficou sabendo [da opção sexual]. E às vezes somos xingados”, disse Luiz.

Quando foi morar com o cabeleireiro, há pouco mais de oito anos, ele sofreu com a comentários feitos por parte de sua família, “que é bem tradicional e católica”. “Mas quem nos importa, como nossos pais e irmãos, sempre nos apoiou.”

Sonhos

Considerada uma conquista não só do casal, mas de toda a comunidade gay, a conversão trará outros benefícios além da mudança de sobrenome. “Agora temos o direito que qualquer casal heterossexual tem. Poderemos dividir o convênio médico, por exemplo”, acrescentou o comerciante.

Apesar de apoiarem a adoção de crianças, ter filhos ainda não está nos planos a curto prazo. O que Luiz e José pretendem fazer após resolver toda a papelada relacionada ao sobrenome da família é simples: juntar as rendas para financiar a casa própria.
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