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Notícias / Informática & Tecnologia

Vídeos auxiliam investigação de confronto policial nos EUA

Terra


Chega de dizer que a câmera nunca mente. As prisões de manifestantes que tomaram conta de um edifício da universidade New School, na última sexta-feira, nos Estados Unidos, viraram um tipo de competição no YouTube, em que vídeos altamente contrastantes gravados pela polícia e pelos civis mostram versões muito diferentes do ocorrido e, mais especificamente, do que cada um estava fazendo.

Enquanto as 23 pessoas presas aguardavam acusação formal no Tribunal Criminal de Manhattan na tarde de sábado - todas foram soltas sob fiança -- policiais e defensores de liberdades civis fizeram um levantamento dos vídeos contraditórios - os artefatos instantâneos derradeiros de uma sociedade na qual as câmeras parecem ser onipresentes, embora a verdade possa permanecer incerta.

O vídeo da polícia, presumidamente feito pela Unidade de Resposta de Assistência Técnica - e postado em seu site no YouTube - mostra os policiais calmamente entrando em um recinto onde os manifestantes estavam sentados. Os manifestantes prestativamente retiram suas mochilas e estendem os braços para facilitar que os policiais os algemem. O nível de educação de ambos os lados parece bem adequado para um chá da tarde.

Mas dois vídeos gravados por pessoas na rua 14 mostraram um clima muito diferente. Um, de Brandon Jourdan, jornalista freelancer, mostra os policiais forçando uma porta fechada enquanto manifestantes resistiam do lado de dentro e eram atacados com spray de pimenta. O vídeo também mostra um policial empurrando o rosto de um homem que gritava e o jogando no chão antes de vários policiais o prenderem - aparentemente sem provocação.

Mas outro vídeo, identificado no site de Liberdade de Imprensa da New School como o trabalho de Chris McCallion, mostra os manifestantes brigando com a polícia e pelo menos um deles arremessando uma barricada de metal em direção aos oficiais. (o Departamento de Polícia divulgou um vídeo mais longo de um ângulo similar, também mostrando um pouco da barricada e o indivíduo de roupas escuras que a arremessou e fugiu quando os policiais correram atrás dele.)

Juntando as imagens, parece que o arremesso da barricada pode ter feito com que os policiais perseguissem um grupo de manifestantes pela rua, incluindo a pessoa responsável pelo ataque e talvez também o homem que foi jogado no chão. Nenhum dos vídeos, no entanto, conta a história toda. E veteranos em batalhas legais sobre a vigilância policial do desacato civil dizem que ninguém deveria se surpreender com isso.

"O mito sobre o filme diz que ele é objetivo, o olho da câmera, e por isso não é enviesado", disse Paul Chevigny, professor de Direito da Universidade de Nova York, envolvido em um litígio contra o Departamento de Polícia devido a filmagens de protestos, como os que ocorreram durante a Convenção Nacional Republicana em 2004.

"Mas, na verdade, não é o caso", ele disse. "O ângulo da câmera, ou o lugar em que ela se posiciona, e o momento no qual ela é ligada e desligada tendem a criar um espaço editorial ao redor da imagem. No entanto, as pessoas ainda continuam a acreditar que ela é a evidência mais confiável da cena."

Manifestantes e observadores têm fiscalizado a polícia com câmeras portáteis há algum tempo, como um policial descobriu no último verão americano, após ter derrubado um homem da bicicleta durante o encontro de ciclistas Massa Crítica, e então ter mentido sobre isso em seus registros. Quando o vídeo veio à tona, o policial foi demitido.

"Os tiras ficam paranóicos com isso", disse Mike Bosak, sargento aposentado que produz um informe eletrônico sobre os acontecimentos da polícia de Nova York. "Muitas vezes, um meliante está em uma briga física com um tira, então o tira perde o controle, o que é fácil de acontecer, você perde a paciência e alguém grava você, e quando percebe, perdeu o emprego."

Mas com o departamento agora incentivando que os nova-iorquinos enviem fotos e vídeos de celulares para seu site Crime Stoppers, os criminosos também estão mais propensos a serem pegos no ato. Porém, a interpretação de imagens não é sempre livre de ambigüidades.

Arthur Eisenberg, diretor jurídico do Sindicato de Liberdades Civis de Nova York, disse que a proliferação de câmeras deu uma qualidade contraditória ao testemunho de crimes. "A tecnologia pode nos ajudar a chegar mais perto de uma imagem correta do que aconteceu, mas, inevitavelmente, assim como as testemunhas vêem os acontecimentos sob suas próprias perspectivas, o mesmo acontece com quem filma," ele disse. O homem jogado no chão foi identificado por sua advogada como David Benzaquen, 25, de Greenwich Village, um estudante de administração pública da New School. A advogada, Yetta Kurland, disse que Benzaquen havia sido acusado de má conduta, resistência à prisão e obstrução da administração governamental, mas acrescentou que nada que ele havia feito justificava o uso da força. Ela também disse que ele havia sofrido escoriações e contusões.

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