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Jovens refugiados mantêm 'Parlamento' ilegítimo no Quênia

G1

É perto do mercado, numa construção pequena e modesta, que fica a sede da Organização Juvenil de Ifo. Ali, acontecem quinzenalmente reuniões e debates acirrados entre os 27 partidos que compõem o “Parlamento” dos jovens. Eles têm cargos, funções e muita vontade. Só lhes falta a legitimidade do “povo”.

A Organização Juvenil de Ifo é formada por moradores de um dos três acampamentos de Dadaab, o maior campo de refugiados do mundo, que existe há 20 anos no leste do Quênia. Como não são reconhecidos pelo governo queniano, os habitantes de Dadaab não podem trabalhar, estudar, viajar ou se representar politicamente fora do campo. Dentro, eles tentam viver a juventude como podem.

O G1 esteve em Dadaab entre os dias 1º e 3 de agosto e publica até segunda-feira (15) uma série de reportagens sobre a rotina, a estrutura e as dificuldades de se viver no acampamento.

“Temos reuniões de gabinete para organizar campanhas de saúde. Uma delas é contra a mutilação genital feminina. Há também campanhas de vacinação”, conta Weli Mohamed, presidente da organização. Mas além da promoção da saúde, há pouco sobre o que o jovem Parlamento possa deliberar. O único projeto original de sucesso foi o campeonato esportivo entre os campos.

“Temos uma enorme quantidade de jovens em Ifo. Há pessoas que nasceram aqui e nunca saíram. É quase uma prisão. Se não fizermos nada, eles podem cair no crime”, diz Mohamed. “Atuamos quase como uma missão de paz”, completa Moulid Iftin, um dos executivos do grupo.

Entre os planos futuros, está a tentativa de registrar o grupo como agência humanitária - o único tipo de entidade autorizada a se fixar e trabalhar em Dadaab. “Já tentamos abrir uma Ong e não conseguimos. O governo não aceita”, diz o presidente.

Outra briga é para que mais jovens possam deixar o acampamento para fazer universidade – inexistentes em Dadaab. Hoje, só um jovem de cada campo pode tentar a bolsa por ano. Quem fica, começa a trabalhar geralmente no comércio e casa cedo. "Para pelo menos dar a impressão de que uma etapa da vida foi alcançada, de que se conquistou algo", diz Moulid.
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