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'Tenho pós-graduação em teste vocacional', diz vestibulando indeciso

G1

O estudante Leopoldo Henrique Vieira Marcelino, de 18 anos, não sabe onde colocar o X na ficha de inscrição do vestibular: direito, comunicação, medicina ou odontologia? “Difícil. Passei todo o ano do pré-vestibular tentando decidir isso e até hoje não consegui”, afirma.

(Série Vestibular: hora da decisão. Entre o fim deste mês e o começo de setembro as principais universidades recebem inscrições. O G1 publica nesta semana uma série de reportagens sobre o dilema dos jovens e as dicas dos especialistas.)

O tempo agora é curto, pois, em setembro, vence o prazo para o candidato se decidir sobre o vestibular da maior universidade mineira, o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No ano passado, Leopoldo começou a buscar ajuda profissional para escolher a carreira e, desde então, tem se dedicado muito a outra tarefa difícil: autoconhecimento.

G1 faz chat sobre orientação vocacional nesta terça, a partir das 16h; participe


Até o fim do ensino médio, cursado em Campos Gerais, no Sul de Minas, Leopoldo sabia que era um estudante dedicado e que poderia se beneficiar disso na universidade. “Eu era um estudante esforçado, que teria um futuro pela frente e teria capacidade de exercer alguma coisa que quisesse fazer, mas não sabia o quê”, responde e sorri.

Segundo Leopoldo, a influência da família não é muito forte, mas existe. “Minha mãe queria que eu fizesse medicina e o meu pai algo que tenha destaque”, conta. Para conseguir a resposta tão desejada, o estudante fez testes na internet, sessões com duas psicólogas no ano passado e participou de dois grupos de orientação profissional no curso pré-vestibular em que está matriculado. A busca assídua virou motivo de brincadeiras entre os amigos.

“Já cheguei a fazer nove testes na internet em um único dia”, conta. “De teste vocacional eu entendo, tenho até pós-graduação nessa área”, brinca. Leopoldo conta que os amigos dizem que vão colocar todas as opções escritas em papeizinhos para que ele retire um e decida o que cursar.

Deixando de lado as brincadeiras, Leopoldo encara suas preocupações. “Primeiro, a responsabilidade de uma escolha que vai ser para o resto da minha vida. Eu alio muito o meu prazer com o mercado de trabalho. Eu tenho que pensar no fator família, realização pessoal e no retorno financeiro”, enumera.

As orientações profissionais ajudam Leopoldo a reconhecer habilidade e aptidões. “A certeza que eu tenho é que gosto dessa relação interpessoal. Isso eu tenho certeza. Os resultados mostram que eu tenho aptidão para duas áreas [saúde e sociais aplicadas]”, disse. Outro recurso buscado pelo estudante foi assistir a aulas experimentais, isto é, se passou por aluno dos cursos de medicina e direito por um dia.

“Estou chegando num momento que já tenho muitas informações sobre mim mesmo, mas falta tomar um posição e, mesmo que isso tenha pontos positivos e negativos, eu vou ter que arcar com as consequências. Falta parar, tomar uma decisão e arriscar”, disse.

Se o vestibular fosse hoje, ele não estaria pronto. Ao ser pressionado, como se este fosse o último minuto para marcar o X, ele diz: “Não sei, precisa responder mesmo? Se eu tivesse que escolher agora, neste instante, eu faria um sorteio” [risos], se decide.

Projeto será refinado ao longo da vida, diz psicóloga
A dúvida que incomoda Leopoldo é muito comum entre os jovens, segundo a doutora em Psicologia Clínica e coordenadora do Programa de Orientação Profissional da UFMG, Delba Barros. De acordo com a especialista, ele está muito confuso entre áreas muito diferentes.

Ela diz que a orientação profissional não vai dar aos estudantes “as garantias” que eles procuram. “Ele [Leopoldo] está buscando ajuda, mas acha que nada é suficiente. Ele tem tanto medo de errar e está tentando se cercar de garantias”, disse.

Segundo a psicóloga é preciso se aventurar. “Por mais que isso seja assustador, desalentador, não há garantia para nada, a vida á assim. Talvez esse seja exatamente o charme da vida. Se existisse garantia, a gente não se aventuraria”, fala.

É preciso colocar um ponto final na dúvida, e o melhor é que isso seja feito de forma consciente. ”O jovem tem que fazer a escolha acreditando que essa é a melhor escolha que ele pode fazer neste momento”. Ao longo da vida é natural que mudanças aconteçam. “A orientação profissional vai ajudar a pessoa a formar um projeto para a vida dentro da perspectiva profissional. Esse projeto vai ser refinado ao longo da vida”, disse.

O momento de escolher entre uma coisa e outra é muito particular, segundo a especialista. “Isso muitas vezes assusta o jovem, porque ele gostaria de ter mais companhia. A família e os amigos estão dando continência afetiva, mas a hora de decidir é profundamente solitária”, disse.

Além da orientação profissional – que conta com dinâmicas, testes psicológicos, testes de personalidade, aptidão e habilidade – o estudante pode se valer de outros recursos. De acordo com a psicóloga, ele deve buscar informações sobre as universidades que pretende frequentar, sobre o curso desejado e sobre a remuneração da profissão. Um recurso prático seria conversar com profissionais que estão no mercado de trabalho. “Eu aconselho entrevistar um profissional de cada área de interesse”, sugere a psicóloga como forma de troca de experiência sobre a vivência da academia e do dia a dia da ocupação.

Ainda segundo a psicóloga é preciso entender as motivações. Isso porque muitos jovens podem ser induzidos a fazer escolhas somente porque elas são apreciadas no contexto social. “A sociedade já reserva para algumas ocupações um lugar de destaque ou um lugar obscuro”, disse.

Aliar prazer a bons salários é realmente desejável. Mas isso pode ser um exercício a ser praticado depois de formado. “Descobrir prazer na sua ocupação e encontrar uma forma de ter uma remuneração naquilo que dá prazer” é a dica da psicóloga.

Tirar na sorte pode não ser o melhor caminho para Leopoldo e muitos outros pré-vestibulandos que estão preocupados com que carreira seguir. “Vendo a história dele, ele tem instrumentos e recursos internos para tomar a decisão com critérios mais coerentes e justos com ele mesmo. Isso porque ele se conhece”, disse. “É preciso fazer um exercício de fantasia, imaginado em qual dessas situações ele poderia ser mais feliz”, completa.
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