Imprimir

Notícias / Brasil

'Tem que ser magrinho para morrer', diz irmã de vítima obesa

G1

Além da humilhação no momento da despedida do irmão, a família da auxiliar de limpeza Célia Regina Faria, de 33 anos, agora convive com as piadas. Na segunda-feira (5), depois de duas horas de discussão, ela conseguiu sepultar em outro cemitério o motoboy Almir Rogério Faria Pereira, o Bob, de 28 anos, em Bauru, no interior de São Paulo. O caso ganhou o noticiário da cidade porque o túmulo aberto era menor que o caixão. “Meu irmão era gordo e estava muito inchado. Não sabia que tem que ser magrinho para morrer. Foi humilhante e constrangedor”, conta Célia.

Ela diz que comprou um “caixão especial” na funerária, destinado a obesos. Só que a urna não coube na sepultura. De acordo com a auxiliar de limpeza, Bob, como o caçula de três irmãos gostava de ser chamado, morreu pesando 130 kg. Media 1,90 m. Célia reclama de informações que diz ter visto na internet fazendo chacota com o episódio. “Queria ver se fosse com alguém da família deles. Não respeitam nossa dor.”

Bob morreu de câncer. “Ele estava lutando contra a doença há um ano e meio. Foi um guerreiro”, afirma a irmã da vítima. Bob ficou um mês internado. O enterro, marcado inicialmente no Cemitério Cristo Rei, foi realizado por volta de 18h no Cemitério Redentor, o único de Bauru que possui túmulos especiais. Célia lembra a situação inusitada: “Foi constrangedor. É muita discriminação. Por ser gordo vou ter que emagrecer para morrer? Foi revoltante. O caixão não cabia nem na largura nem no comprimento.”

Medidas
De acordo com Augusto Cardoso, da Funerária São Vicente, a família de Bob comprou para ele um caixão com 2,10 m e 80 cm de largura. Aqueles destinados a pessoas com medidas consideradas normais têm 1,90 m de comprimento por 50 cm de largura. Assim, a urna do motoboy coube no jazigo para obesos, que mede 2,70 m por 1,10 m de largura e 90 cm de profundidade.

O túmulo padrão mede, em média, 2,22 m de comprimento por 88 cm de largura, de acordo com Paulo André, gerente da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb), da Prefeitura, responsável por realizar os sepultamentos. "Imagino que o túmulo lá (no Cristo Rei) tenha 2 metros por 70 centímetros de profundidade. Agora por que é menor eu não sei", diz Cardoso. "Todos os túmulos deveriam ter o tamanho lá do (Cemitério) Redentor para não ter esse problema", afirma o gerente da funerária.

Ainda abalada com a perda do irmão, Célia diz que não pretende “tomar nenhuma medida”, como abrir um processo por danos morais pelo constrangimento que a família afirma ter passado. “Não quero cutucar a ferida da minha mãe.”

Célia afirma ainda não saber como apontar possíveis culpados pelo fato. “Ficou um jogo de empurra-empurra.” O G1 procurou a Funerária São Vicente, que é uma firma particular. O gerente Augusto Cardoso diz ter comunicado a Emdurb sobre as medidas do morto. “Comunicado foi. Eu avisei (que se tratava de um obeso), mas não custa o rapaz do cemitério perguntar e ele não perguntou.”

Paulo André, gerente da Emdurb, nega que tenha recebido a informação. “Foi um fato isolado, uma falta de comunicação entre a funerária e a Emdurb. Agora, só aceitamos por escrito e sempre antes do sepultamento. Antes, aceitávamos por telefone”, diz, sobre a forma como as informações do corpo a ser sepultado eram transmitidas. Ele afirma que pessoas obesas têm caixão e túmulos especiais na cidade.
Imprimir