Imprimir

Notícias / Variedades

Marcos Frota sobre Tonho da Lua: 'Ele despertou a minha espiritualidade'

EGO

O ano de 1993 foi tão intenso quanto doloroso para Marcos Frota. Em 12 meses, o ator inaugurou seu circo, ficou viúvo e fez história na TV como Tonho da Lua, na novela "Mulheres de areia". E foi justamente o personagem que, segundo Marcos, o ajudou, espiritualmente, a superar a perda da primeira mulher, Cibele, morta em um acidente de carro. "Eu posso dizer que o Tonho me preparou para esse momento difícil. Eu estava em equilíbrio e vivia uma lua de mel com o público", disse.

Dezoito anos depois da exibição da novela - e com 35 anos de carreira -, Marcos se prepara para reviver o personagem que considera um marco em sua carreira, já que "Mulheres de areia" será reprisada pela segunda vez no "Vale a pena ver de novo" a partir de segunda-feira, 12.

Na primeira reprise, em 1997, eu estava com a cabeça em outras coisas e nem me lembrei de que a novela estava no ar. Mas agora quero ver porque será uma forma de me reconciliar comigo mesmo. Estou em uma fase de não gostar de me ver fazendo nada", contou o ator em entrevista ao EGO.

EGO: Como você recebeu a notícia de que “Mulheres de Areia” seria reprisada novamente?
MARCOS FROTA: Eu viajei para ser membro do júri no Festival Internacional de Circo em Cuba. Lá, ainda hoje, há uma lembrança muito forte de três novelas: “Escrava Isaura”, “Roque Santeiro”, e “Mulheres de Areia”. Durante os dez dias em que fiquei lá, em agosto desse ano, fui chamado na rua e apresentado nos eventos como Tonho da Lua. Parecia que estava voltando um filme na minha cabeça. Logo que coloquei os pés em casa, me ligaram da imprensa contando. Foi uma sincronicidade muito grande.

Você assistiu à primeira reprise?

Não. Eu estava com a cabeça em outras coisas e nem me lembrei de que a novela estava no ar. Mas agora quero ver porque será uma forma de me reconciliar comigo mesmo. Estou em uma fase de não gostar de me ver fazendo nada. Conversei sobre isso com o José Mayer há pouco tempo, e ele me contou que só consegue assistir às novelas das quais participa à meia-noite, quando ninguém mais está vendo. Eu falei 'Caramba, eu acho que é isso mesmo'. Também vou assistir para me posicionar e para ter uma aproximação com toda uma geração que não assistiu.

O ano de 1993 foi de sucesso profissional, mas também de luto. Como lidou com essa oposição de sentimentos?

Foi o ano mais intenso e mais marcante da minha vida. Não só por 'Mulheres de Areia' e pela morte da Cibele [com quem Marcos teve três filhos: Apoena, Amaralina e Tainã], mas também pela estreia do meu circo. O Tonho da Lua me ajudou muito porque tive um despertar de espiritualidade com esse personagem. Nos poucos contatos que tive com Ivani Ribeiro [autora da novela], ela me dizia ‘Marcos, ele não é doente, ele é puro’. Trabalhei, então, o lado lúdico dele, já que as tristezas e os conflitos estavam no texto. Posso dizer que o personagem me preparou para esse momento difícil, que foi a perda da minha mulher. Eu estava em equilíbrio e em lua de mel com o público.

Você considera o Tonho da Lua o personagem mais marcante da sua carreira?

Eu faço parte de uma geração que viveu os anos 80 da Globo. Não havia internet, os canais de assinatura eram em números muito menores do que hoje e as audiências eram muito grandes. Eu fiz “Vereda Tropical”, “Cambalacho” e “Sassaricando”, novelas que estouraram. Então eu já tinha experimentado um sucesso muito grande. Já sabia o que era viver um personagem de muita popularidade. O Tonho da Lua não foi uma novidade para mim nesse sentido. Digo apenas que ele foi um divisor na minha carreira. Glória [Pires, que interpretava as gêmeas Ruth e Raquel] era a protagonista, mas foi o triângulo formado pelas personagens dela e pelo Tonho da Lua que levava a história.

Mas você tem um carinho especial por ele?

Tem alguns momentos em que a gente se encontra verdadeiramente com os personagens. E eu experimentei isso com o Tonho da Lua. No início das gravações, tinha muito medo em relação a caricatura. Mas era tudo tão autêntico, tão sincero, que fui perdendo completamente o receio. Eu ficava de costas para a câmera, saía do quadro, errava o texto, improvisava. Ele tinha uma liberdade porque o tempo mental do Tonho da Lua era diferente na hora de contracenar. Com ele também experimentei uma relação com o público que não é a do sucesso, é a do carinho. Às vezes você faz muito sucesso mas não chega no coração das pessoas.

A novela tinha nomes como Paulo Goulart e Laura Cardoso no elenco. Seus colegas também contribuíram para o sucesso do personagem?

Eu posso dizer que Paulo Goulart foi determinante para o sucesso do Tonho da Lua, sem dúvidas. Por ser o antagonista, era ele quem dava o tom para o meu personagem. Até pela sua experiência e imponência em cena. O Tonho era pequenininho, gordinho, frágil... Me lembro também de Glória chorando muito e rindo muito gravando comigo. Ela tinha ataques de descontrole nos bastidores, era difícil segurar. Glória, aliás, é uma das poucas atrizes com quem eu contracenei que impõem verdadeiro respeito dentro de um set de gravação. É impressionante. Do diretor geral da novela ao mais simples contrarregra, todos entram no clima do trabalho dela. Não é a toa que ela é a Glória Pires.

Foi difícil lidar com o aumento do assédio pelo sucesso do personagem?

Não. Foi uma coisa absolutamente natural e orgânica em mim. Encarei com muita naturalidade, até porque eu tinha meu circo. Tinha pouco tempo para ficar cultuando o sucesso do Tonho da Lua. Talvez eu tenha até perdido um pouco de oportunidades no sentido de consolidar a carreira, de viver um pouco mais essa situação. Porque televisão é o momento, é igual a futebol. Temos grandes atores na casa, que são monstros sagrados, mas, neste momento, é a fulana que está fazendo sucesso.

Você aprovaria a volta do Tonho da Lua em outra novela, como aconteceu com o Jamanta, em "Torre de Babel" e "Belíssima"?

Olha, não vejo nenhum tipo de movimentação nesse sentido. Mas esse é um personagem que ficou no inconsciente coletivo de uma geração. Agora, com a reprise, muita gente vai rever e outras tantas vão ver pela primeira vez. Tem personagens que rompem a obra, mas eu não vejo o Tonho da Lua saindo daquele universo dele. O que eu vejo, como pequena possibilidade, é que isso ganhe uma versão no cinema, como uma continuação. Porque "Mulheres de areia" termina com o personagem indo embora com um circo. A história não teve um fim. Acho que isso, sim, justificaria uma nova obra. Quem sabe agora esse sonho não possa ser realizado...
Imprimir