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‘Vi mãe de família fazendo programa’, diz Alexia Dechamps ao viver ex-prostituta

EGO

á dois anos, por causa de um problema de saúde, Alexia Dechamps começou a repensar sua vida. Tinha construído uma boa carreira até ali, mas sempre na lógica do mais do mesmo, da personagem loira, bonita e gostosa. Ela superou o percalço, mas resolveu mudar e encher sua vida de coisas que valessem a pena, de causas perlas quais lutar. Começou buscando um bom texto para montar no teatro e acabou chegando ao livro “Gabriela Leite - Filha, Mãe, Avó e Puta”, que conta a história da ex-prostituta e fundadora da ONG Davida e da grife Daspu.

Alexia abraçou a ideia, passou um ano e meio atrás de patrocínio para o projeto, sofreu preconceito como as meninas “da vida”, conheceu a realidade delas e, apesar das dificuldades, seguiu em frente, como sua musa inspiradora. O resultado da persistência poderá ser conferido na próxima quarta-feira, 14, quando a atriz sobe ao palco do teatro III, do CCBB, no Rio de Janeiro, com a peça “Filha, Mãe, Avó e Puta - Uma entrevista”.

“Rolou muito preconceito com uma peça com esse nome e que conta a história de uma prostituta. Quem não sabe, acha que vou fazer apologia”, diz.

Nela, o público poderá ver uma Alexia morena, de cabelos curtos, e até mesmo envelhecida, ao representar a fase sexagenária de Gabriela Leite. Para saber mais sobre a vida da atriz e do espetáculo, o EGO foi conversar com Alexia Dechamps.

Qual vai ser o nome do espetáculo?
ALEXIA DECHAMPS: ‘Filha, Mãe, Avó e Puta - Uma entrevista’, e eu faço mesmo a filha, a mãe, a avó e a puta mesmo. Percorro todas as fases da Gabriela Leite. Eu a faço contando sua história e vou envelhecendo ao longo da peça e das passagens de sua vida. O texto é uma adaptação da biografia da Gabriela Leite, “Filha, Mãe, Avó e Puta”, feita por Márcia Zanelatto, que ajudou Gabriela e escrever o livro.

Esse projeto tem um ano e meio. Por que demorou tanto para sair do papel?
Por falta de gente que acreditasse no projeto, e ele só está saindo agora porque o Banco do Brasil acreditou na ideia. Rolou muito preconceito com uma peça com esse nome e que conta a história de uma prostituta. Quem não sabe, acha que vou fazer apologia. No texto para a captação de recursos, começo falando que as maiores bilheterias do cinema em 2011 falam de algum modo sobre prostituição. Em geral, o marketing das empresas até sabia quem era Gabriela Leite, sua história, mas no consenso geral, achavam melhor não envolver o nome da instituição no projeto. E a Gabriela não é só isso. Ela faz um grande trabalho de inclusão social, o trabalho dela é reconhecido pela ONU, ela viaja o mundo inteiro para dar palestras. Acho que quem apóia, ta apoiando essa ideia também.

E como surgiu seu encantamento com a história da Gabriela Leite?
Marcos Montenegro, meu empresário, me apresentou o livro da Gabriela, porque ele sabia que eu estava procurando um texto de conteúdo para mongtar que me ajudasse a mudar a imagem de Alexia Dechamps loira e bonita. Li, gostei, fui procurar Gabriela para conviver, conhecer e amei. Fiquei impressionada: “Que mulher é essa?”

Durante a concepção do trabalho, você se pegou tendo algum preconceito com alguma das passagens do texto?
Eu não julgo. Peguei esse livro para trabalhar completamente isenta de opinião, nem para dizer o que Gabriela fez de certo ou de errado. Ela tem uma história de vida ímpar e, sem dúvida nenhuma, muito interessante.

Tem algum momento da peça em que você perde o fôlego por ser muito forte? Nossa, eu me emociono sempre. Uma das mais fortes para mim é a cena em que ela transa com um paraplégico, em que ela resolver ter uma relação sexual com um cara que tem defeitos físicos nele todo, e ali ela mesma quebra um preconceito dela. Toda vez que conto essa cena, me emociono. Também mexe muito comigo quando ela fala sobre as filhas, quando ela escondia a gravidez com uma cinta.

Como foi seu processo de convivência com a Gabriela?
Foi uma grande surpresa porque imaginava um mulherão (risos). Aí você encontra com ela, que é pequenininha, tem voz frágil, mas é um furacão. Eu me encarinhei muito com ela, é uma pessoa do bem.

Você chegou a fazer laboratório, conviveu com prostitutas?
Eu fui a Copacabana encontrar com as meninas que eram da boate “Help” e que migraram para outro bar. Encontrei todo tipo de gente: mãe de família, mulher casada, que faz programa para melhorar a renda da casa. Acho que tem que regulamentar a profissão de prostituta. Regulamentar, pagar imposto e dar direitos a essas pessoas, acabar com a violência, com os gigolôs... Com a regulamentação, elas vão ficar protegidas.

Você já teve algum fetiche com a imagem da prostituta?
Acho que tudo é possível, e a prostituta é um fetiche muito forte, sim. Mas nunca brinquei disso, não. Só no teatro (risos). Com o marido eu brinco de outras coisas.

Você mudou o visual e envelhece na peça. Como surgiu essa ideia?
Quis envelhecer, quis me enfear, me desprover de qualquer vaidade. Nunca tinha me visto com essa cor de cabelo, nem desse tamanho. Quis entrar nesse universo desde a convivência, passando pela mudança de visual até mudar conceitos. Quero acabar com preconceitos. Preconceito é uma coisa muito babaca.

Está preparada para ser acusada de fazer apologia à prostituição?
Apologia, não, porque não estou levantando bandeira. Como disse, não julgo, nem contra, nem a favor. Estou contando uma história. Espero com essa peça que as pessoas saiam daqui pensando no quanto é ruim ter preconceito. Vamos convidar a ONG DaVida (Ong fundada por Gabriela Leite e que reúne prostitutas),vamos distribuir ingressos para as meninas que quiserem vir, sem ser identificadas pela ONG.
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