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'Descobridor' da joia, Teixeira avisa:'Vamos brigar até o fim pelo Lanzini'

Globo Esporte

Aos 37 anos, ele ocupava o cargo de observador do Manchester United-ING na América do Sul e sonhava seguir carreira no futebol europeu. Voltar ao Brasil não passava pela cabeça. Foi quando um velho namoro voltou à tona. Convidado para retornar ao Fluminense, Marcelo Teixeira não conseguiu dizer não àquele que considera o maior desafio de sua vida. Há pouco mais de dois meses na gerência de futebol tricolor, o dirigente trabalha em silêncio e, de preferência, longe dos holofotes em busca de um objetivo principal: manter o atual campeão brasileiro sempre no topo. "Descobridor" da joia Manuel Lanzini, ele também prepara um projeto financeiro para tentar comprar em breve a revelação argentina, que tem preço estipulado em cerca de R$ 23 milhões.

Após as dificuldades iniciais, o trabalho começa a entrar no eixo. Dentro de campo, o time acumula quatro vitórias seguidas no Campeonato Brasileiro e figura na zona de classificação para a Libertadores. Fora dele, o clube já consegue driblar com sucesso os diversos problemas políticos que tiraram o Fluminense do caminho no primeiro semestre. Pela primeira vez que assumiu o cargo, Marcelo Teixeira recebeu uma equipe de reportagem em sua sala nas Laranjeiras para falar de carreira, objetivo e opiniões.

Em papo de quase uma hora com o GLOBOESPORTE.COM, o gerente de futebol - que foi diretor das categorias de base entre 2002 e 2007- deixou claro que não pensava em voltar ao clube, falou da relação com a Unimed e com a Traffic, revelou seu extenso banco de dados de jogadores brasileiros e sul-americanos, avisou que o planejamento para a próxima temporada já começou, garantiu que o técnico Abel Braga nunca correu risco de demissão, afirmou que o argentino Lanzini já supriu a saída de Conca e foi além:

- Não queremos outro Lanzini. Queremos o Lanzini. Não dá para querer enganar a torcida do Fluminense e dizer que vamos comprar o jogador hoje. Mas posso garantir que vamos fazer um projeto para isso.

Como você começou sua carreira no Fluminense e chegou até o Manchester United?
Fui diretor de Xerém a partir de junho de 2002. Era conselheiro do Fluminense. Comecei a assistir todos os jogos das divisões de base, era um apaixonado por isso. E um dia me convidaram. Acabou que em 2002 ganhamos tudo aqui no Rio de Janeiro. Campeonato infantil, juvenil e juniores. E fui me envolvendo cada vez mais no futebol, sempre auxiliando o profissional também. Como sempre tive interesse muito grande pelo mercado de jogadores, desde cedo criei ferramentas para fazer meu próprio banco de dados. As pessoas do profissional sempre me pediam alguma ajuda, perguntavam sobre jogadores...

Em janeiro de 2007, a fase era muito complicada financeiramente, com salários atrasados, e isso afetava demais as divisões de base. Além de uma grande briga política. Eu estava em um momento profissional muito bom como auditor. Então resolvi largar o futebol depois de cinco anos e me dedicar apenas à minha carreira. Acumulei durante esse tempo. Não era difícil. Fiquei 2007 todo fora do futebol e depois me arrependi de ter pedido demissão do Fluminense. Fui para o Canadá estudar. Enquanto fiquei lá, de fevereiro a maio, foi tranquilo. Depois bateu a saudade. No fim do ano, recebi uma ligação. Era o Jonh, do Manchester United, que conheci quando vendemos os gêmeos Fábio e Rafael. Ele me disse que o clube queria contratar uma pessoa a mais no Brasil, que tivesse conhecimento de futebol e não fosse um boleiro. Na hora ele pensou em mim e perguntou se eu queria participar do processo seletivo. Fui para a Inglaterra, fiz entrevista e fui contratado. Larguei a auditoria, com o que eu trabalhava havia 14 anos, e estava até para ser promovido a diretor. Foi uma decisão muito difícil. Demorei seis meses para contar para meus pais. Larguei completamente e mergulhei de cabeça. No Manchester, foram quatro anos de muito trabalho, aprendizado, conhecer gente, ir pra Inglaterra fazer treinamento... Aprendi demais.

E pensava em voltar ao Fluminense?
Nesse período todo em que fiquei no Manchester, o Fluminense sempre me namorou em momentos diferentes. Nunca quis retornar, não tinha esse objetivo. Estava vislumbrando minha carreira na Europa mesmo, em um clube de lá. Ainda é um sonho que eu tenho. Mas surgiu a chance do Fluminense. O Peter me convidou, conversamos muito e resolvi aceitar esse que é o maior desafio da minha vida.

Já que você falou dos gêmeos, vamos ao assunto. Você os levou para o Fluminense e os viu sair do clube sem nunca terem atuado pelo time profissional. Isso te frustrou?
Claro. Para mim, é frustrante o fato de o Rafael e o Fábio nunca terem vestido a camisa do Fluminense. É chato. Xerém existe para o jogador se profissionalizar, chegar ao time e dar retorno técnico para o Fluminense. Acho que todo clube que investe na base tem essa expectativa. Mas a realidade do futebol não permite isso. E o Fluminense só não perdeu os dois de graça porque a família foi correta. Eles tinham proposta do Arsenal e não aceitaram porque nós não ganharíamos nada com a transação. Já o Manchester pagou para a família e para o Flu. Mas é claro que é frustrante, como teve o Maurício Alves, que foi para o Villarreal sem também estrear nos profissionais, o próprio Maicon e o Alan, que passaram rápido. Você trabalha anos o menino e vende por um valor que sabe que anos depois vai ser maior. Sou de Petrópolis. Quando assumi a base, pedi aos amigos que me indicassem algum garoto bom de bola. Tinha um vizinho que era treinador do Petropolitano sub-12. Ele me disse que no Boa Esperança tem dois meninos que estão acabando com o campeonato. Inclusive eles jogavam também futsal no Botafogo. E ia ter um clássico contra o Fluminense. Foi quando eu conheci o Rafael e o Fábio e fiquei apaixonado.

Depois de já ter comandado as divisões de base do Fluminense, o que você acha dessa invasão dos empresários? Há alguma maneira de impedir isso?
Ninguém vai conseguir implementar nada novo se não houver mudança na lei. O São Paulo é um dos maiores clubes do Brasil, com uma megaestrutura na base, megacentro de treinamento, um estádio como o Morumbi, e perdeu o Oscar para o Internacional. O próprio Inter também já perdeu jogadores para outros clubes, como o Fluminense perdeu para o Flamengo. Nenhum clube vai conseguir mudar essa atuação dos empresários se não houver alteração nas leis. Está difícil para os clubes segurarem as divisões de base por conta dos empresários. Cada vez mais complicado. O que a gente tenta é se dedicar a família, dar bom salário em dia, estrutura, melhoria técnica. Mas nada disso serve de garantia.

O caso do Rafael Pernão, destaque da base tricolor que recentemente foi para o Internacional, é mais um para a lista?
Pernão foi um caso, ímpar e inédito para fazer um investimento em Xerém. Aconteceu antes da minha chegada. A diretoria decidiu vender para a Traffic o pouco dos direitos econômicos dele que ainda pertenciam ao Fluminense (o restante já havia sido passado ao Chelsea na contratação de Deco) e investir em Xerém. Na minha opinião, estamos fazendo algo que nunca foi feito antes. Usando dinheiro de uma venda para reformar campos e a estrutura das divisões de base. Se esse dinheiro servir para formar outros jogadores, já terá valido a pena a aposta.

Ser observador do Manchester United foi o vestibular que você precisava para trabalhar como diretor executivo?
Foi uma escola. Jonh é um cara que eu trabalhei e me ensinou muito. Mais do que um pai para mim. Um cara excepcional. Aprendi muito com ele e também na questão do conhecimento de jogadores, pessoas, mercado, como funciona um grande clube europeu... Hoje conheço também muito o mercado da América do Sul e devo tudo isso ao Manchester.

Suas ligações com o Manchester podem render alguma parceria para os clubes? Algum intercambio de revelações talvez?
Não creio. Quando eu estive lá, o clube nunca mostrou interesse em parceria com clubes do Brasil. Para o Manchester, é muito mais vantajoso ter parceria dentro da Europa, como as que o clube inglês já tem que tem com clubes holandeses, belga e dentro da própria Inglaterra.
Nome País Nome completo Nascimento Altura Clube
Lanzini ARG Manuel Lanzini 07/02/1993 1.68m River Plate-ARG

Como funciona esse banco de dados, que nasceu no Fluminense, cresceu na Inglaterra e foi de onde surgiu o Lanzini?
Na época do Fluminense, eu tinha muitas ideias de mapeamento e monitoramento de atletas, mas não tinha tempo para executá-las. E nem experiência suficiente para colocar algumas coisas em prática. A partir do momento em que eu entrei no Manchester, passei a ter tempo, conhecimento, viagens... E pude colocar em prática tudo o que sempre imaginei. E daí surgiram alguns trabalhos que eu julgo que, hoje, ninguém tem nem parecido no Brasil. Tenho um megaestudo de jogadores brasileiros espalhados pelo mundo, que eu garanto que ninguém tem nem parecido. Na época do Manchester, eu tinha tempo para alimentar o banco de dados. Agora, meu tempo é muito mais escasso e tenho uma equipe no Fluminense que me ajuda. Uma vez por semana fazemos uma reunião. Tudo pensando em mapeamento de atletas e observação, em uma linha que vai da base aos profissionais. Hoje esse trabalho é integrado. Tenho os jogadores por posição, ano de nascimento, país, critérios técnicos que eu avalio de um até cinco. Se dou uma nota baixa fica vermelho, se dou uma nota média fica cinza, nota alta fica verde. Maturação e biotipo do atleta eu avalio como boa, média ou ruim. Hoje, a avaliação geral do Lanzini é B (veja a ficha do jogador que consta no banco de dados de Teixeira acima e abaixo da resposta), com a seta de crescimento ao lado. Ou seja, eu projeto que ele vai ser um A. A verdade é a seguinte: se perdemos o Lanzini hoje, estamos prontos para trazer outro. Outro banco de dados que tenho é um megatrabalho que envolve desde a avaliação das divisões de base de todos os clubes brasileiros, com ano de nascimento, jogador revelado e nota 10, 7, 4 e 1 para os atletas de acordo com critérios pré-estabelecidos. Além de divisões por estado de nascimento, clube de origem, geração de 83 até hoje.... Fora as notas, ainda tem altura, se passou na seleção de base, em qual trimestre que nasceu, por quanto foi vendido e quando foi a transação. Se eu quero contratar um atacante, tenho aqui todos os que tem qualidade desde a geração 83. Apresentei esse trabalho no Footecon, durante um fórum de discussão de revelação de talentos que foi aberto com essa minha introdução. Além disso, eu aponto os defeitos em diversas divisões de base e várias outras coisas.
Seleção Grau Tendência Potencial Nota Observações
U18 B /\
| Bom 4.10 Destro, muito técnico, rápido, franzino. Profissional com apenas 17 anos.

Você falou que se perder o Lanzini hoje, tem como trazer outro. Mas como não perder o Lanzini até o fim do contrato do apoiador?
Não queremos outro Lanzini. Queremos o Lanzini. Não dá para querer enganar a torcida do Fluminense e dizer que vamos comprar o jogador hoje. Mas posso garantir que vamos fazer um projeto para isso. Se vamos ser bem-sucedidos nessa missão, só o tempo dirá. Mas (o projeto) já está começando a ser formatado. Talvez não seja preciso comprar 100% dos direitos econômicos. Mas pode anotar: vamos brigar até o fim pelo Lanzini. Não conversamos sobre esse assunto com o River Plate ainda. Temos que fazer primeiro o nosso dever de casa e viabilizar a operação. O convencimento sobre os argentinos é proporcional ao dinheiro que conseguirmos. Mas se atingirmos o valor estipulado em contrato (NR: cerca de R$ 23 milhões), ele será nosso.

Você acha que em apenas oito jogos o Lanzini já mostrou que vale todo esse esforço?
Conheço o Lanzini há muito tempo. Eu o vi jogando na Seleção de base, na base do River e, principalmente, em um time do River Plate que era horrível, brigava para não cair e a responsabilidade dele era gigantesca. E ele jogou muita bola. Então a minha avaliação não é por apenas oito jogos.

Mesmo tendo jogado muita bola no River, ele se destacou rapidamente no Fluminense. Tem apenas 18 anos, mudou de país, veio para um clube novo que não estava bem na temporada... E mesmo assim já entrou como titular, nunca foi reserva, fez gol e caiu nas graças da torcida. A velocidade disso tudo lhe surpreendeu?
Foi uma surpresa positiva, sim. Falei no início que ele era um menino muito novo, uma futura estrela, mas que também poderia ajudar muito o Fluminense já nessa temporada. Podia até demorar um pouco, mas seria muito útil. Tinha essa convicção desde que falei para o presidente que não podíamos perder a oportunidade de contratá-lo. Não só pelo jogador, mas também pela carência que o Fluminense tinha na posição de meia-atacante. Conca saiu, Deco e Souza não são meias-atacantes... Assim como o Marquinho também não é. Hoje temos um jogador nessa posição, que é o Lanzini. Não tínhamos esse meia que joga por trás encostando nos atacantes. Quando cheguei, faltava uma semana para o fechamento da janela de transferências internacionais e eu sabia que não íamos encontrar esse tipo jogador no Brasil. Só lá fora, como o Diego, ex-Santos, por exemplo. Era um jogador para ser o camisa 10. Não tinha dúvida nenhuma de que era preciso trazer o Lanzini. A Unimed tentou o Diego até o último minuto, mas não deu certo. A parte financeira não permitiu.

Com esse banco de dados vasto e o bom exemplo do Lanzini, a torcida pode esperar outros argentinos para 2012?
Hoje não temos espaço para estrangeiros no elenco. Temos o Martinuccio, um jogador que eu acho que, na hora em que começar a jogar, vai acabar indo para a Europa logo. É um atleta que tem passaporte italiano, velocidade... Se jogar bem, as propostas altas vão chegar naturalmente. A questão é: estamos preparados. Por mim, sempre que o Fluminense puder vai ter argentinos em seu elenco. Estamos monitorando o mercado. Conheço pessoas na Argentina e estou iniciando conversas. Para a base é mais complicado. Imagina tirar de casa um garoto que não fala a língua do país e colocar ele para morar em uma concentração? Não é muito simples. Mas também não deixa de ser um desejo concreto do Fluminense trazer jogadores sul-americanos para as divisões de base. Não sei quanto tempo vai demorar, mas estamos atrás disso.

No seu banco de dados, o Elkeson aparece bem cotado. Quando você chegou ao Fluminense, ele já tinha ido para o Botafogo. Foi uma grande perda? O que você diria se estivesse no clube naquela época?
Acompanhei muito o Elkeson no Vitória. É um jogador que hoje, no Botafogo, está rendendo mais do que em sua época de Vitória. Futebol tem muito disso. O jogador às vezes chega em um local, se adapta a cidade, ao estilo de jogo do time, e passa a render mais. Elkeson era uma promessa, mas ninguém podia imaginar que ele ia brilhar como agora. Mas era uma boa opção sim.

Algum outro jogador já foi contratado a partir desse seu banco de dados?
Sim. O Eduardo, do Fortaleza. É um atleta que eu já conhecia da época do Manchester. Ele jogou muito bem pelo Fortaleza na Copa São Paulo de Futebol Júnior desse ano e o Klauss Camara, novo coordenador técnico de Xerém, trouxe esse nome recentemente. O jogador estava quase indo pro Cruzeiro. Quando o Klauss falou dessa possibilidade, aprovamos na hora. Agora ele está nos juniores, em Xerém. É uma grande promessa.

Voltando ao Martinuccio, lhe preocupa a demora para ele ter boas atuações e virar titular? Até porque foi uma contratação até certo ponto arriscada sob o aspecto jurídico por causa do pré-contrato com o Palmeiras...
Martinuccio tem um contrato de quatro anos. Sobre o problema com o Palmeiras, só posso dizer que sempre tivemos a sustentação do nosso departamento jurídico. E nosso presidente é um advogado de muito sucesso. Sempre tivemos a certeza de que o Fluminense não estava fazendo nada errado. Mas não me preocupa o momento do Martinuccio. Quando chegou ao Fluminense, o Conca também foi reserva por um bom tempo. O Bottinelli ainda não conseguiu se firmar no Flamengo. Assim como o Chaparro no Vasco... O Montillo foi uma exceção. Lanzini também. E outra: o Fluminense tem um elenco muito forte. O próprio Martinuccio me disse isso outro dia. Falou que nunca tinha visto um elenco tão bom. Que nos seus ex-clubes nunca tinha visto tantos bons jogadores para uma mesma posição. Acho normal ele não ter tido muitas oportunidades. E o clube não está com pressa. O Martinuccio é um projeto de longo prazo. No dia em que algum treinador entender que ele deve jogar, ele vai jogar.

Pelo que você conhece do Martinuccio e do mercado sul-americano, qual a posição exata dele? Porque até agora não ficou claro para a torcida com quem ele disputa posição.
Martinuccio é um atacante pelos lados do campo. Teoricamente a dupla de ataque poderia ser Martinuccio e Fred. Ele joga pelos dois lados, tem muita velocidade, é abusado, parte para cima, prepara as jogadas e também faz gols.

Quando você foi apresentado, falou em contratar um substituto para o Conca. Agora, quase três meses depois, acha que o Lanzini já conseguiu suprir a ausência? Não na idolatria da torcida e nas conquistas em campo, mas como um meia-atacante importante para o elenco?
Claro. Conca foi brilhante na conquista do Campeonato Brasileiro de 2010, mas o Lanzini já vem jogando bem, já fez gol... É um jogador que vem cumprindo bem o papel que era feito pelo Conca há até pouco tempo. E o Lanzini tem um carisma inacreditável. É impressionante como a torcida do Fluminense já gosta dele. Até parecido com o do Conca. No elenco, ele já supre a ausência do Conca, sim. Mas é bom lembrar que Lanzini nem sempre que vai conseguir ter a mesma performance, afinal só tem 18 anos.

Dos três últimos reforços do Fluminense, o mais velho foi o Rafael Sobis, que tem só 26 anos. Nos últimos anos, o clube sempre contratou vários medalhões. Isso mostra uma mudança de postura da diretoria tricolor, no sentindo de apostar em jogadores que em pouco tempo podem render dinheiro ao clube?
Acho que o segredo é mesclar as duas coisas. Tem uma velha frase que é a mais pura realidade: 'Garoto ganha jogo de garoto'. Não adianta ter uma ilusão de que só os jovens vão resolver. É preciso ter jogadores experientes. Marcos Assunção ajuda muito o Palmeiras, como Juninho Pernambucano no Vasco, Ronaldinho Gaúcho no Flamengo... No Fluminense temos que ter um casamento de jogadores jovens com experientes e de qualidade que possam colaborar. Por isso, a Unimed hoje é fundamental para o clube. Temos o melhor patrocinador do Brasil. Só conseguimos ter esses grandes jogadores graças à Unimed. E precisamos desses atletas até para usar os mais jovens. O interessante é ter esse equilíbrio. Tentamos trazer o Diego, que seria fantástico. Deco está com essa sequência de contusões, mas é um craque. Talento nato.

De fora muito se fala da relação com a Unimed e o Celso Barros. Como é a sua relação com eles?
É tranquila. Na semana passada saímos para jantar eu, Celso, Sandrão, Peter e Abel. É legal. As conversas são boas. Ainda estamos nos conhecendo. Mas o principal disso tudo, e acho que o Celso já compreendeu, é que todos nós sabemos que o clube precisa muito da Unimed. Para formar um grande time precisamos dessa parceria. Somos os atuais campeões brasileiros e agora lutamos pelo bi. A grande verdade é que a Unimed até hoje fez tudo que as pessoas que estavam no comando queriam. O Muricy pediu jogador, o Alcides pediu jogador, Paulo Bhering lá trás pediu... A Unimed é uma grande parceira. Se o Fluminense mostrar para ela o caminho, será feito. Não tinha esse conhecimento de fora, mas agora vejo que tudo passa muito por quem está aqui dentro. As contratações que o clube fez nos últimos anos foram pedidas por quem comandava o futebol ou pelo treinador. Raramente foram indicações do Celso.

Preocupa a possibilidade de a Unimed sair?
Demais. Espero que isso não aconteça porque acho que vamos disputar a Libertadores no ano que vem. Nosso elenco hoje já é bom, mas pode ser que precisemos de outros dois grandes jogadores. E para isso contamos com a ajuda da Unimed.

E como está a relação com a Traffic? O Fernando Gonçalves (diretor executivo da empresa) ficou um pouco chateado quando você veio para o Fluminense...
Eu estava saindo do Manchester e tinha uma proposta muito boa para trabalhar na Traffic. Estava estudando seriamente o assunto. As conversas com o Fernando estavam avançadas quando o Fluminense atravessou a situação e vim para cá. Mas já trabalhei com o Fernando e temos uma relação excelente. Só que falam muito de uma parceira entre Traffic e Fluminense, mas isso não existe. Hoje a Traffic é como qualquer investidor. Tem participação em jogadores como outros empresários.

Voltando a falar de Xerém, como estão as obras por lá?
Estão sendo feitos novos alojamentos de nível de hotel três ou quatro estrelas. Os que existiam foram demolidos. No passado, quando o pai via as condições do local, queria levar o filho para outro clube. Agora estamos de igual para igual como nossos adversários. Os campos estão sendo reformados, com irrigação moderna e uma grama diferente.

Você comandou Xerém durante a fase mais vitoriosa das categorias de base do Fluminense. Desde então, no entanto, o nível parece ter caído. O que aconteceu?
Na verdade, eu fiz parte de um grupo, que em 1999, começou um trabalho bem-sucedido. Revelamos jogadores como Marcelo, Carlos Alberto, Diego Souza, Antônio Carlos, Rodolfo, Arouca, Maicon... Depois houve algumas mudanças e a produção não foi mais a mesma. Prefiro não comentar para não criticar ninguém.

A relação do Fluminense com as torcidas organizadas mudou após o Fred ter sido perseguido e ameaçado por torcedores na rua?
A torcida é o nosso maior patrimônio. O clube só existe por causa dela. Mas é preciso ter limite. Torcedor é torcedor, jogador é jogador e dirigente é dirigente. Temos que fazer de tudo para a torcida estar feliz, estar no estádio. Eles são a razão para qualquer um estar aqui.

E como anda a negociação do Centro de Treinamento?
O presidente vem cuidado disso. Não tenho muitas informações. Ele sempre passa coisas positivas, mas é uma negociação tocada pelo presidente e pelo marketing. A ansiedade é tremenda, pois será uma aquisição que vai mudar a história do clube. Dar privacidade aos atletas e às pessoas que trabalham no futebol é uma coisa fundamental. No São Paulo, o atleta entra de manhã e sai de noite. Com isso, ele se sente melhor, trabalha mais. Ter um campo só para treinos é inviável. Podem dizer que o Fluminense foi campeão com um campo só, mas com vários campos vamos ser ainda mais vezes campeões.

Nos últimos anos, o Fluminense viveu altos e baixos. Lutou para não cair e foi campeão. Fazer com que o clube sempre lute na parte de cima da tabela é o seu principal desafio como gerente de futebol?
Acho que isso passa por ter uma estrutura forte, elenco forte, salários em dia, patrocinador forte como o Fluminense tem. Em 2009, brigamos para não cair, mas quase ganhamos a Sul-Americana. No ano passado, fomos campeões. Agora, acho que esse ano vamos brigar de novo. Temos que manter sempre um elenco como esse para nos manter no topo. Apesar que ficar sempre nas cabeças é impossível. Nem o São Paulo conseguiu.

O Fluminense cresceu no Brasileirão e entrou na briga pelo título. Mas já é possível pensar no planejamento para 2012?
Claro. Não só é, como já começamos a pensar. Estamos de olho no Wellington Nem, por exemplo, que vem se destacando no Figueirense. Ele pertence ao Fluminense. Abel sempre fala dele. Além disso, já estamos conversando com o Celso Barros e o Peter sobre reforços. As principais questões são o CT, a manutenção do elenco e algumas renovações de contrato que já estão sendo tocadas.

Na arrancada que livrou o Fluminense do rebaixamento em 2009, muito se falou da blindagem do elenco. O processo está se repetindo agora?
Eu acho que é um somatório de coisas. Hoje temos uma equipe que cuida do futebol. O Abel também é um treinador que sabe blindar muito bem, assume todas as responsabilidades. Sempre esperamos ver o Fluminense brigando pelo título. Imagino que se entramos em 2012 com esse time, essa retaguarda e um treinador como o Abel, não tem como não dar certo.

Agora a equipe parece ter engrenado no Campeonato Brasileiro. Mas o Fluminense passou por momentos conturbados na competição. Em algum momento o cargo do Abel esteve a perigo?
Lembra o que eu falei na minha apresentação? Sobre essa mania de demitir treinador a toda hora? Isso não existe. Encontrei esse mesmo pensamento na diretoria. Quem conhece o Abel no dia a dia sabe que ele é um vencedor nato. Blinda o elenco, tem uma visão tática privilegiada, olha a base, conhece bem o Fluminense, conhece o mercado... Seria uma loucura demitir o Abel.
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