Imprimir

Notícias / Variedades

André sobre fama de pegador: 'Tomo quatro banhos por dia, deve ser isso'

Extra

Ser um homem feminino não fere em nada o lado masculino de André Gonçalves. Aos 35 anos, currículo extenso e comentado de conquistas amorosas no meio artístico, o ator agora é notícia como um dos grandes destaques de "Morde & assopra", novela que chega aos finalmentes essa semana. Em cena, olha só!, ele exala sensualidade na pele do divertido homo/bissexual Áureo, envolvendo homens e mulheres em sua trama.

De aparência franzina e gestos tão delicados quanto estabanados ("Sou um Shrek!", repete a cada vez que derruba textos, chaves e celulares no chão), André é capaz de seduzir até poste num bate-papo olho no olho. E, dono de uma história sofrida — que começa pela infância difícil na Favela do Arará, em Benfica, e passa pelo reencontro com a mãe biológica, esquizofrênica, após duas décadas sem saber de seu paradeiro —, esse carioca tinha tudo para bater de frente com a vida, mas prefere recebê-la diariamente com aquele sorrisão aberto. Agora, mais do que nunca, com o sucesso metendo o pé na porta da frente.


— Áureo é seu terceiro personagem gay na TV, depois do Sandro de "A próxima vítima" (1995) e do Tales de "Diversão & cia." (2010). Só que agora a repercussão tem sido boa, né? (André chegou a ser agredido fisicamente por um grupo de pitboys quando interpretou Sandro)

— É... Sandrinho era um personagem de família, mais discreto, recatado. Já Áureo é uma pessoa aberta para a vida, que se relaciona com o mundo com cores e alegria... Conheço uma série de pessoas assim. Eu mesmo, sou muito alto-astral!


— Ficou algum trauma daquela época?

— Sabe que não? Sinto muito orgulho, isso sim! A gente ressuscitou a discussão sobre o amor livre, sem preconceitos. Silvio de Abreu (autor) e Jorginho (Jorge Fernando, diretor) propuseram esse diálogo sobre o homossexualismo, e eu me orgulho de ter feito parte desse projeto, mesmo sentindo na pele. Ser ator é isso.


André fez par com Lui Mendes em "A próxima vítima": polêmica Foto: Domingos Peixoto/ Agência O Globo


— Atualmente, tem sentido algum tipo de rejeição? Dos machões, principalmente?

— Que nada! Frequento tudo quanto é tipo de lugar. Menos boate, porque não gosto de barulho. E madrugada, já diria minha avó, é hora de estar em casa. Prefiro evitar. Mas estive, por exemplo, no último grande evento de MMA. Foi supertranquilo, conversei com uma série de lutadores. São todos pseudomachões, gostam de brincar de dar pinta... Seria um lugar supostamente perigoso, mas no universo dos esportes as pessoas se respeitam muito.

— E nas ruas, o que tem ouvido?

— É sempre uma festa. As crianças, então, adoram! Uns torcem para Áureo ficar com Celeste (Vanessa Giácomo); outros, com Josué (Joaquim Lopes)...

— E você?

— Não gosto de ficar conjecturando, não. Todo trabalho que faço, me coloco à disposição do autor, porque novela é um livro aberto, muda muito. Já parei de sofrer pelos meus personagens, só choro no fim da novela, quando tudo acaba, porque fica a saudade. Mesmo assim, pouco, porque logo vem outro desafio. Mas torço pela felicidade de Áureo, e vislumbro uma terceira opção de final para ele: terminando como pai solteiro, só com a criança.

— Em quem se inspirou para compor Áureo?

— Poderia citar um monte de gente, e foi. Muita coisa veio do Freddy Ribeiro, um ator amigo meu. Mas o jeito de jogar o cabelo, por exemplo, é da minha filha. Áureo é uma mistura de tudo que vivencio, e é uma brincadeira, não importa se ficar caricato. Eu dou muita pinta também! Quando acabar a novela, vou continuar dando pinta. Sou alegre, divertido, irrequieto, cheio de energia.

— Uma das cenas mais comentadas foi a do show que Áureo fez para arrecadar dinheiro para o pai. Ali, na maquiagem e nos trejeitos, você lembrou muito Ney Matogrosso. Como foi essa gravação?

— Acho que qualquer pessoa que levante os braços vai parecer o Ney dançando. É um cara que se joga no palco, um artista completo. Ser comparado a ele é uma honra. Até porque ele também me serviu de inspiração, assim como os Dzi Croquettes. Naquele dia, fiquei umas duas ou três horas maquiando, mas o mais difícil foi ficar tanto tempo em cima do salto alto e pular e dançar. Foi um cansaço físico absurdo. Por fim, minhas pernas tremiam involuntariamente, nem aguentava mais ficar de pé. Mas valeu a pena.

— Em cena, você também abusa da sensualidade...

— Esse personagem mexe mesmo com a libido das pessoas. Tem personagem que você olha e fica com tesão. Áureo tem isso, desperta esse desejo tanto em mulheres quanto em homens.


— O assédio tem sido grande? Você tem recebido cantadas?

— Ganho beijos e elogios, cantadas não. É possível que a mulherada ache que eu possa fazer uma maquiagem melhor do que elas, essa é a verdade (risos). Meu foco tem sido o público infantil: se as crianças entendem, de um modo geral todo mundo vai entender.


— Qual é sua porção feminina? Soube que cozinha muito bem...

— É verdade! Além disso, me viro bem na maquiagem no teatro e cuido do cabelão, né? Sou cabeludo igual a uma mulher, sempre fui. Depois de uma certa idade, comecei a receber conselhos aqui na Globo para usar cremes. Então, essa vaidade é bem aflorada em mim, apesar de nos últimos tempos eu ter dado uma abandonada no meu metrossexualismo e ficado só no homossexualismo do trabalho mesmo (rs). E tenho filhas meninas, tenho que saber como elas se relacionam com a própria imagem. Então, meu lado feminino é liberadão.

— Você sempre viveu cercado de mulheres, né?

— A família é muito grande. Eu e meu irmão somos os mais velhos de uma série de quatro meninas. Então, a gente sempre cuidou delas. E também aprendi muito com a minha madrasta.

— E sua mãe biológica, está morando com você? (André reencontrou dona Maria da Penha, de 56 anos, em 2000, após duas décadas sem ter notícias dela)

— Não, ela e minha irmã mais nova moram na casa delas, em Benfica, e a gente se vê uma vez por mês. Minha mãe é uma responsabilidade minha. Ela tem esquizofrenia aguda, toma remédio todo dia, precisa de cuidados especiais, mas isso não a impede de levar uma vida normal. Passei o último fim de semana lá, levei meus filhos, fizemos churrasco no meio da rua, foi ótimo! Estou sempre presente.

— Apesar de tudo o que você passou na vida, está sempre de bom humor... Qual o segredo?

— Era para eu já estar morto, né? Mas fui salvo pelo esporte e pela arte. Da minha geração de amigos adolescentes, todos morreram. Nos anos 90, praticamente não se passava dos 15 anos morando nas favelas. Ou os garotos levavam balas perdidas ou se envolviam com tráfico, com assalto, e eram assassinados. Mas vim de uma família de gente trabalhadora, tive bons amigos, e aprendi a não me entristecer por pouca coisa. Gosto da minha profissão, é onde me sinto completamente realizado. Problemas são feitos para a gente resolver. Resolvo e dou risada depois.

— Mas você também tem fama de estressadinho...

— Sempre fui pacífico, mas se me tirarem os meus direitos como cidadão, fico nervoso. Sou questionador. O que falam e pensam de mim não me importa muito. Estou mais interessado em ser feliz, dar amor para o meu colega.

— Será que é daí que também vem a fama de conquistador nato?

— Acho engraçado isso! Todo mundo namora, todo mundo pega todo mundo, mas só falam de mim, né?


— É que seus casos se tornam públicos... Que borogodó é esse que você tem. menino?

— Não tenho nada de especial, não, nêga! Só tomo banho quatro vezes ao dia, pode ser isso (risos). Sou naturalmente afetuoso, e as pessoas também acabam confundindo. Pode parecer que estou te dando mole, te azarando, mas não. Só estou te fazendo um carinho, não estou a fim de você.

— E como a mulher sabe que você está a fim de verdade?

— Não sabe.

— Não? Como acontece?

— Não sei... Só Deus (saindo pela tangente). Oremos! (risos)

— Já passou por algum constrangimento em cena?

— Não dá para ficar excitado. São dezenas de pessoas em volta, luz em cima, um gelo no estúdio, tudo horrível.

— Posaria nu?

— Só por R$ 5 milhões. Não me vejo nu a não ser em favor de contar uma história, de um personagem.

— Seus três filhos já dão os primeiros passos na carreira artística. Apoia?

— Qualquer coisa que eles quiserem fazer, eu apoio. Menos assaltar banco.
Imprimir