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Falta de porto regional em Santarém atrapalharia avanço de Tapajós

G1

Um dos problemas de Santarém desde sua constituição como município, em 1848, é a falta de um porto regional para cargas e transporte de passageiros. Dezenas de barcos e embarcações de médio e pequeno porte que chegam à cidade atracam de forma desordenada, sem que haja controle local e infraestrutura adequada, o que prejudica toda a região de Tapajós. Santarém é o polo distribuidor de cargas e de transporte pela região.

“Minha percepção é que falta boa vontade do governo para sair algo decente aqui. Estive em uma reunião com a prefeitura e os pescadores há alguns dias e sempre há empecilhos legais para que fique pronto. Na Secretaria de Portos de Santarém ninguém sabe para o que serve. Esse problema é antigo e todo mundo sabe que não vai dar em nada”, reclama Amilton Diniz, dono de um barco de transporte de passageiros e cargas que vai e volta para Juruti, comunidade localizada a 17 horas de Santarém e que ficaria subordinada ao que pode ser o futuro estado de Tapajós, caso seja aprovada a divisão do estado em plebiscito que acontece em 11 de dezembro.

Nesse dia, os eleitores do Pará irão à urnas para responder a duas perguntas: “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Carajás?” e “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Tapajós?”. Em um possível cenário de divisão do Pará, o futuro estado estado de Tapajós, seria composto por 27 municípios, tendo Santarém como capital; Carajás teria 39 municípios, e Marabá como capital; e o novo Pará, 77 municípios, e Belém continuaria sendo a capital.
porto de santarém, atracam em frente à praça tiradentes hoje (Foto: Tahiane Stochero/G1)Barcos atracam em terminal improvisado em frente à Praça Tiradentes, em Santarém (Foto: Tahiane Stochero/G1)



“Eu coloquei no meu barco até um cartaz pelo “sim”. A campanha aqui na região é forte porque os políticos dizem que tudo depende de Belém. Acreditamos que, ao criar o estado de Tapajós, problemas como este do porto podem ser solucionados de forma mais rápida”, afirma Diniz.

Os pescadores ouvidos pelo G1 dizem que um porto regional adequado ajudaria no desenvolvimento da cidade e das comunidades no entorno do Tapajós, porque facilitaria o escoamento de cargas e o transporte de pessoas, gerando mais lucro e renda para a população.

A embarcação de Diniz leva 7 tripulantes e 150 passageiros, além de 120 toneladas de cargas e atraca sempre em um terminal improvisado em frente à Praça Tiradentes, no centro de Santarém, que, em virtude do grande tráfego de caminhões para descarga, interfere na situação do ambiente.

“Estou nas águas do Tapajós e do Amazonas há quase 30 anos. Os rios são a vida do povo aqui. Tudo escorre por eles. Toda a mercadoria e os moradores das cidades da região correm para Santarém para tudo. É fundamental termos um lugar para atracar direito. Se não, fica uma fila, um barco do lado do outro”, reclama.
porto santarém, crianças e doentesa esperam remocao dentro de barco (Foto: Tahiane Stochero/G1)Crianças e doentes à esperam remoção esperam
dentro de barco (Foto: Tahiane Stochero/G1)

Outro que defende a criação de um porto regional para Santarém é o pescador e agricultor José Ribamar. “A gente atraca aqui onde der. Tentamos arrumar por nós mesmos a situação aos poucos. Agora, embarcações com passageiros procedentes de certas regiões param aqui. Outros param na orla. Mas falta alguém para organizar isso”, afirma.

As pessoas descem na areia e no chão de terra, enquanto pacientes procedentes de comunidades ribeirinhas distantes, que também são removidos de barco, são retirados em macas por homens do Samu. O movimento de carga de frutas e outros produtos é intenso.

No lugar de atraque de embarcações de Juruti e Itaituba, em frente a um mercado a céu aberto, chamado de Porto da Tiradentes, o G1 presenciou diversos pacientes procedentes de comunidades ribeirinhas distantes sendo carregados em macas ou aguardando remoção dentro de barcos por muitas horas. Um homem de Itaituba carregava o próprio soro com uma mão e com a outra segurava um tampão sobre a boca. Pessoas que o acompanhavam relataram que ele havia cortado o rosto em uma cerca de arame.

Já em uma embarcação procedente de Óbitos, a cerca de 8 horas de viagem pelos rios de Santarém, Ivanilde Medeiros, de 18 anos, e a menina Orlandinha Pereira, de 6 anos, aguardavam remoção. As duas tinham fraturas nas pernas devido a quedas de motos.

O secretário de Portos de Santarém, Hilário Coimbra, reconhece a situação preocupante e diz que a pasta foi criada recentemente para atuar junto à organização dos portos da orla. Ele afirma que o atraso na construção de um porto para a cidade deve-se a entraves
burocráticos, como licenças ambientais e concessões governamentais. Números da secretaria apontam que pelo menos 1.500 pessoas transitam diariamente pelo terminal de desembarque na orla.
porto santarém atracam na areia (Foto: Tahiane Stochero/G1)Barcos atracam na areia em Santarém (Foto: Tahiane Stochero/G1)

Coimbra lembra que as obras do Terminal Hidroviário de Santarém, que está sendo construído no bairro Prainha, apesar de enfrentarem paralisações temporárias, principalmente devido às cheias do Rio Tapajós, foram retomadas e estão em andamento. Segundo a prefeitura, a obra, que está sendo realizada com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em três etapas, custará cerca de R$ 16 milhões. “A primeira etapa de construção nós pretendemos finalizar em uns quatro meses, até já convidamos o ministro dos Transportes para participar”, diz o secretário de Planejamento, Everaldo Martins.
obras do futuro terminal (Foto: Tahiane Stochero/G1)Obras do futuro terminal fluvial em Santarém (Foto: Tahiane Stochero/G1)

Ao término da primeira etapa, o terminal terá entre 60 e 120 metros quadrados, diz o secretário. Para a Capitania dos Portos, a falta de um terminal fluvial e a situação precária atual interferem principalmente na comunidade dos passageiros e na desorganização da orla, mas ainda não afetou a segurança das embarcações.
pessoas desembarcam na areaia (Foto: Tahiane Stochero/G1)Passageiros desembarcam na areia em Santarém
(Foto: Tahiane Stochero/G1)

“Temos 8.500 embarcações cadastradas só aqui em Santarém, tanto as de passageiros, de cargas como de esportes. Fazemos inspeções rotineiras e, só pelas embarcações maiores, das quais é exigido uma lista de passageiros, contabilizamos mais de 400 mil pessoas embarcando e desembarcando na orla no ano passado”, afirma o comandante Paulo Antonio Carlos.

Dentre os 21 municípios que englobam a Capitania dos Portos em Santarém, em 2011, houve quatro mortes, sendo três delas de quedas na água. Foram três casos de assaltos a embarcações.
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