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Psiquiatra vê pouco efeito prático em novo programa federal contra crack

Da Redação - Renê Dióz

A expansão do programa de consultórios de rua para atender usuários de drogas será uma medida inócua no combate ao avanço do vício em Mato Grosso, aponta o médico psiquiatra Josemar Honório Barreto sobre o novo programa federal de enfrentamento à dependência química em crack, lançado na última quarta-feira (07) pela presidenta Dilma Rousseff.

Josemar Barreto trabalha com dependentes químicos e alcoólatras em Mato Grosso há 25 anos e acaba de lançar um livro sobre o tema, “Alcoolismo e Dependência Química – Causas, Consequências e Tratamento”. Além de apontar que o governo está atentando tardiamente para a “pandemia” do vício em crack no país, Josemar não vê efeitos muito significativos na estratégia do atendimento volante, uma das principais ações anunciadas no programa nacional “Crack, é possível vencer”.

O atendimento volante contará com a implantação de 308 consultórios de rua nas cidades com pelo menos 100 mil habitantes. Hoje, já existem 92 em funcionamento - dois em Mato Grosso, que receberá mais um até 2014, segundo o governo federal.

O serviço que Josemar chega a chamar de “sem sentido” consiste em intervenções de saúde nos locais que concentram a população usuária de droga, como as chamadas “cracolândias” (em Cuiabá, o exemplo é um trecho da rua Professora Tereza Lobo, no bairro Consil, perto da rodoviária). Equipes formadas por médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem simplesmente vão até os usuários verificar seu estado de saúde e analisar a possibilidade de uma internação.

“Mas isso é como esperar que um alcoólatra se recupere dentro de um bar”, ilustra Josemar, argumentando que o atendimento volante pode até amenizar a situação de risco para a saúde dos usuários, mas não conseguirá desestimulá-los a sair das ruas nem tampouco a pararem de usar drogas. “O indivíduo não vai sair do meio e a prioridade é justamente afastá-lo de lá”.

Além da crítica em relação à eficiência da frente de trabalho com o atendimento volante, o psiquiatra analisa que o governo ainda não inovou em nada sua proposta de enfrentamento ao vício, apenas intensificou as mesmas ações que já vinham sendo tomadas.
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