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Pacaembu prepara "véu de noiva" para reestreia na final

Folha Online

Com 69 anos recém-completados na última segunda-feira, o Pacaembu volta a receber a final do Campeonato Paulista, 1.842 dias depois da última decisão estadual. E o retorno será de gala, com direito a redes e traves novas.

O torcedor desatento não notará a diferença. Mas o goleiro que tomar um gol a partir do jogo de hoje entre Corinthians e Santos vai trabalhar um pouco mais na hora de buscar a bola no fundo da sua meta. É que, por determinação da administração do estádio, as redes, atualmente de tipo "caixote", que segue o padrão europeu e que passou a ser adotada no Pacaembu em 1987, vão ser trocadas pelo modelo "véu de noiva". A mudança dará mais plasticidade ao gol, já que, com o novo padrão, a bola estufa as redes.


No novo modelo a medida das hastes que sustenta a rede (0,8 m) é inferior à do fundo (2,5 m), criando uma "barriga" que amortece a bola e impede a sua volta ao campo de jogo. Já no "caixote", a medida da haste e do fundo é a mesma (2,5 m), o que faz a bola correr livre após tocar a rede e eventualmente sair do gol.

Pai das traves

O "véu de noiva" tem um entusiasta: o ajudante de limpeza Anézio Gazza, 57. Há 30 anos, ele é o responsável pela manutenção das traves do estádio, que inclui retoques semanais na pintura.

A dedicação em trabalhar com as balizas é tão grande, que coube a Gazza --ao lado de Luiz Afonso de Andrade, funcionário do Pacaembu desde 1969-- a tarefa de descerrar a placa de inauguração da escultura "Os Dois Ângulos da Emoção", na última segunda-feira, no Parque das Bicicletas, em Moema, zona sul de São Paulo.

A obra, que se junta a outras duas referentes a esportes, é composta pelas antigas traves do Pacaembu, usadas de 1984 a 2007. As balizas atuais estrearam na reabertura do estádio, após reforma, no jogo Corinthians x CRB, em 10 de maio de 2008, pela Série B.

Gazza diz ter ficado emocionado ao participar da cerimônia. "As traves são como filhas para mim." Nesta quinta-feira, mais uma vez ele repetirá o ritual: "Antes do jogo eu vou lá, pinto a trave para deixá-la bem branquinha. Quando estou pintando eu penso comigo: 'Eu vou clarear para o meu time fazer bastante gol'". 

Corintiano e fã de Sócrates --jogador tricampeão paulista (1979, 1982 e 1983) pelo clube--, ele não viu a última conquista de seu time no Pacaembu, o Campeonato Paulista de 1954. E corre o risco de não testemunhar direito a de agora, caso a equipe do Parque São Jorge se sagre campeão neste ano. É que, nos dias de jogo, Gazza ajuda os funcionários do Corinthians e circula pelo estádio servindo água e café para os jornalistas e para os convidados da tribuna de honra.

Mas às vezes ele tem sorte. Nas semifinais, contra o São Paulo, Gazza viu os dois gols da vitória alvinegra, pois trocava o galão de água das cabines de imprensa. Apesar de ver o jogo "aos pedaços", diz sentir-se coadjuvante da partida: "Parece que eu participo do jogo, porque eu pintei a trave".

O funcionário é tão cioso de seu ofício que critica os goleiros que, ao orientar a formação da barreira, encostam a chuteira na trave, sujando-a. "Mas quando é do Corinthians eu não ligo."



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