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'Quase perdi meu filho', diz grávida que foi atingida por enchente

G1

A mensagem “boas festas” no quadro-negro da Escola Estadual Padre Machado, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, não reflete a aflição e a angústia dos moradores da cidade. Famílias desalojados estão em salas de aula porque tiveram as casas alagadas pelo transbordamento do Rio Paraopeba. A cidade é uma dos 71 municípios de Minas Gerais em situação de emergência reconhecido pela Coordenaoria de Defesa Civil do estado.

É o caso da cabeleireira Jussara de Jesus Silva, de 20 anos, que, desde a madrugada de terça-feira (3), está “morando” com o marido, Adriano da Silva, de 22 anos, e a filha, Anne, de 4 anos, em uma sala de aula. ”Quase perdi meu filho. Tive um início de sangramento e precisei ir correndo para o hospital, em Betim, porque aqui em Brumadinho o hospital estava ilhado e os médicos não conseguiam ir trabalhar”, disse a Jussara, grávida de dois meses.

Ela conta que o susto e o pavor por causa da cheia do rio ameaçaram a vida do bebê. Com todos os móveis amontoados, ela reclamou que o guarda-roupa novo precisou ser desmontado às pressas e que isso pode ter estragado o móvel. “Esta cama a gente nem pagou a primeira prestação e ela já está toda arranhada”, completou.

Jussara é cabeleireira em um salão de beleza e, por causa dos alagamentos, não consegue ir ao trabalho porque está ilhada do outro lado da cidade. “Nem sei se a minha patroa vai me querer mais“, queixou-se. Além disso, Jussara precisa respeitar a orientação médica de permanecer em repouso e não carregar peso para não prejudicar a gestação.

Maria Firmina da Silva Santos, de 52 anos, também está abrigada na escola com dois filhos, o genro e a netinha de seis meses. Com a casa inundada, dona Maria disse que não sabe quando poderá retornar ao lar. “Não faço ideia porque a casa está toda cheia d’água. Ainda por cima tem uma rachadura grande”, disse resignada, sobre o imóvel onde mora por um aluguel de R$ 545 por mês.

Na invasão das águas do rio, dona Maria perdeu um guarda-roupa, um armário de cozinha e uma cama. “Graças a Deus ninguém morreu ou se machucou”, agradeceu a cozinheira, que trabalha em um restaurante e, por causa das enchentes, também não vai trabalhar e não sabe como ficará o futuro profissional em 2012.

A dona de casa Maria José dos Santos, de 39 anos, está com o marido e três filhos – de 17, 13 e 5 anos - em outro abrigo improvisado, na Escola Estadual Paulo Neto Alkimim. Além da família, ela também levou os animais de estimação: as cadelas Pretinha e Nikis, um papagaio e um canarinho. “A água subiu de repente, mas consegui colocar a maioria dos meus móveis na casa da minha cunhada, que fica mais alto”, contou. Maria José disse que é a terceira vez que ela precisa deixar a casa onde mora. A primeira foi em 1997, época em que, segundo ela, nada foi recuperado, no ano seguinte.

De acordo com ela, a filha Sara, de 5 anos, chora no abrigo e pede para voltar para casa. “Mas não temos previsão de quando voltaremos. Estamos vivendo uma situação incerta”, falou.

E a situação em Brumadinho também não é boa para os comerciantes que tiveram o negócio atingido pela chuva. Ricardo Vicente de Sales, de 48 anos, tem uma loja de equipamento de informática na Avenida Vigilato Rodrigues Braga, no Centro, e teve o imóvel invadido pela enxurrada. “O meu mobiliário era planejado e, por isso, não tive como retirá-lo. Foi um prejuízo de R$ 10 mil. Agora é trabalhar para conquistar tudo outra vez”, comentou.

Segundo Sales, a água barrenta entrou no comércio dele e marcou a parede em 1,80m. Esta quinta-feira (5) foi dia de limpeza e ajuste. Ele acredita que a loja será reaberta na próxima segunda-feira (9). O comerciante disse ainda que também foi prejudicado em outra enchente, em 2008.

Chuva em Brumadinho
Os rios Paraopeba e Manso, que cortam Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, começaram a baixar com diminuição da chuva, de acordo com a Defesa Civil municipal. Com o transbordamento nos últimos dias, bairros ficaram completamente alagados. Nesta quinta-feira (5), ainda há vários pontos de alagamento na cidade. Cerca de 20 bairros foram tomados pela água.

De acordo com a Prefeitura de Brumadinho, 60 famílias estão desalojadas, o que representa cerca de 500 pessoas. A prefeitura ainda informou que a rádio local está sendo utilizada para passar informações sobre a chuva às pessoas. Jipeiros atuam como voluntários para entregar donativos nos abrigos.

Na cidade, a Secretaria de Ação Social também está recebendo doações na Rua Aristides Passos, 400, Centro. São recebidos alimentos não perecíveis, como leite e água, além de cesta básica. A prefeitura abriu uma conta para doações, que serão usadas na reforma das casas e reestruturação das cidades.
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