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Identificadas 2 proteínas-chaves para controlar a doença de Chagas

Terra

Pesquisadores espanhóis identificaram duas proteínas-chaves para controlar a doença de Chagas, uma patologia endêmica na América Latina com mais de 10 milhões de infectados que é transmitida pelo barbeiro, inseto que vive em paredes e telhados de casas feitas com barro e palha.

As descobertas publicadas nas revistas científicas "BMC Infectious Diseases" e "Clinical and Vaccine Immunology" são da equipe Rede de Pesquisa Cooperativa em Doenças Tropicais (Ricet, na sigla em espanhol), formada por diferentes centros espanhóis.

Como contou à Agência Efe o pesquisador Manuel Carlos López, coordenador do trabalho da Ricet, graças à identificação destes dois biomarcadores os analistas poderão conhecer e controlar como atua o agente infeccioso nos tecidos durante a fase assintomática da doença e decidir sobre a conveniência ou não de tratar o paciente.

Apesar de existir pesquisas em outros países na mesma direção, esta é a primeira vez que duas proteínas são identificadas e é possível comprovar a partir de experiência com pacientes a importância dos indicadores para o Chagas, assinalou López.

A doença de Chagas, ou tripanosomiasis americana, é causada pelo parasita Trypanosoma cruzi e tem incidência principalmente na América Latina, onde é transmitida aos seres humanos pelos sedimentos de insetos triatomíneos conhecidos como barbeiros.

A infecção pode passar também de mãe para filho, através de transfusões de sangue ou por meio de um órgão transplantado de um doador infectado.

Embora a doença tenha sido descoberta há mais de 100 anos pelo médico brasileiro Carlos Chagas ainda hoje existe quem tenha a doença sem saber, isso porque os sintomas são silenciosos.

A doença tem uma primeira fase aguda com sintomas similares aos da gripe, e se não for tratada, torna-se crônica, e passados 20 ou 30 anos os pacientes desenvolvem alterações cardíacas, digestivas ou ambas e, em menor medida, neurológicas.

Durante esses anos de fase indeterminada, o parasita está no organismo reproduzindo-se e provocando em silêncio danos em diferentes tecidos sem apresentar sintomas, detalhou López.

Depois de feito o diagnóstico, o problema é saber se é possível tratá-lo ou não, porque se desconhece o grau da infecção.

Até agora, conforme os autores do estudo, não existiam marcadores que indicassem como estavam sendo afetados os tecidos durante essas décadas em que a doença é assintomática.

Os pesquisadores demonstraram que os pacientes com Chagas crônico apresentam um nível significativamente superior de anticorpos frente a três antígenos concretos (KMP11, HSP70, PFR2) do parasita causador da doença, um nível que recua depois do período que varia de seis a nove meses de tratamento.

Eles constataram ainda que uma molécula específica - um peptídeo chamado 3973 - que está presente nos doentes de Chagas.

Precisamente, contou López, a descoberta desses dois biomarcadores permitirá identificar a queda de anticorpos.

Para isso, acrescentou, bastará uma análise sorológica de "fácil realização e baixo custo".

Este teste medirá os níveis de anticorpos diante dessas duas proteínas encontradas e a partir daí se saberá a fase da doença, o dano provocado e outros detalhes.

Para este cientista, o estudo representa um "avanço muito importante" na prevenção, no diagnóstico e na evolução do Chagas.

Segundo o coordenador da Ricet, Agustín Benito, a eliminação da transmissão do mal de Chagas, meta da Organização Mundial de Saúde para 2010, não foi alcançada, entre outros motivos, pela falta de investimento econômico.

"É necessário investir em pesquisa e desenvolvimento da doença, não só nos países endêmicos - 21 da América Latina -, mas também na Espanha - onde o mal atinge principalmente os imigrantes - porque representa uma sobrecarga para o sistema de saúde", afirmou.

De acordo com os dados da organização Médicos sem Fronteiras, o mal de Chagas causa 12,5 mil mortes por ano.
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