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'Prefiro a presença de Yoani Sánchez no Brasil a Oscar', diz cineasta

G1

O cineasta Cláudio Silva Galvão conta os dias, minutos e segundos que faltam para a estreia do documentário 'Conexão Cuba-Honduras', marcada para as 20h do dia 10 de fevereiro, na cidade de Jequié, Bahia. Dado, como é conhecido, passou três semanas entre os dois países da América Latina para retratar as restrições políticas impostas por esses governos sobre liberdades, como a de expressão, no século 21.

Entre os personagens, ou 'atores sociais' - como aponta o gênero -, a principal é Yoani Sánchez, escritora do blog 'Generación Y'. A nove dias da primeira exibição, Dado vive a expectativa da liberação do visto de Yoani pelas autoridades de Cuba. No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores liberou o ingresso no dia 25 de janeiro, por aval da presidente Dilma. "Se perguntasse se eu quero ganhar o Oscar ou a vinda dela ao Brasil, diria que a presença dela", diz.

Dado, que define sua atuação como um "sacerdócio cinematográfico" - pelo ativismo da arte frente ao lucro -, acredita que a visita de Dilma a Cuba deve sensibilizar o governo local. "Conversava agora a pouco com Reinaldo [Escobar, jornalista e marido de Yoani] e vivemos essa ansiedade. Será que a diplomacia brasileira interviu ou não? Apesar dela [Dilma] não ter abordado publicamente as questões dos direitos humanos, acreditamos em um trabalho de bastidores. Temos esperança, porque ela sinalizou com o visto".

Para o lançamento, que ocorre no Centro Cultural de Jequié, já confirmou presença Esdras López, jornalista do Canal 36, portal noticioso de Honduras que teve o trabalho cerceado durante o golpe militar, ocorrido em setembro de 2009. O episódio é um dos retratados nos 45 minutos dedicados à história do país em torno da liberdade de expressão.

"Abordamos a partir do momento em que o presidente Zelaya [Manuel] foi deposto e retornou ao país [Honduras] escondido pela Embaixada do Brasil. Teve uma guerra midiática. O Canal 36 anuncia que Zelaya está em território hondurenho, mas o presidente de fato, Roberto Michelet, dizia que não. Contamos sobre essa história e a do principal jornalista do Canal, Esdras", afirma. As 1h05 que completam a duração se concentram em casos cubanos, dentre eles Yoani e seu marido, Reinaldo Escobar, as Damas de Branco e o Conselho dos Ativistas dos Direitos Humanos.

Segundo Dado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) também comparece à cerimônia e é um dos personagens brasileiros do documentário, pelo apoio dado ao diálogo tentado entre Yoani Sánchez e o ex-presidente Lula."Ele, junto ao deputado Euclides Fernandes, tentaram ações com o Ministério das Relações Exteriores e Lula, mas houve silêncio na época [2010]. O curioso é que recentemente Lula pediu ao senador para avisar a Yoani que escrevesse uma carta a Dilma", comenta. Dado cancelou o lançamento do documentário naquele ano por conta do insucesso na tentativa da viagem de Yoani. Nesse intervalo de quase um ano até o atual lançamento, ele conta que incorporou atualizações políticas e econômicas ocorridas nos países, dentre as quais a autorização dada para compra de automóveis aos cidadãos cubanos.

"A ideia é usar esse documentário para que ela tenha esse direito [Yoani], que é violado. A Declaração dos Direitos Humanos, que é de 1948, diz que todo mundo tem o direito de ir, vir e regressar ao seu país. Ela não responde a processo na Justiça cubana, o que a impede é o fato de ter pensamento diferente do regime atual", comenta. O cineasta pretende inscrever a produção em festivais.

Encantado com uma entrevista que leu sobre a cubana em uma revista brasileira, Dado, que já tinha estado no país em 2008, resolveu tentar contato por e-mail, mas confessa que demorou para obter resposta. Foi quando resolveu deixar um comentário na primeira postagem do blog 'Generación Y'. "Eu disse que estava indo para o Festival de Cinema de Havana e queria encontrá-la. Consegui resposta dias depois. O marido dela me enviou um e-mail com o número de um telefone", diz.

O tempo longo de resposta é causado muitas vezes pela dificuldade de conexão da internet. "Me comunico com ela via SMS e por telefone, quando consigo, já que está sempre bloqueado ou grampeado. Quando tem casos que repercutem fora de Cuba, o telefone fica fora do ar. Internet acontece, mas é muito lenta e cara. Ela precisa de recursos para acessar, para twittar... As pessoas são solidárias e colocam créditos fora de Cuba", conta.

O último documentário lançado por Dado foi 'A Grande Moeda' (2009), sobre a atuação da Pastoral da Criança em dez cidades baianas e que teve a participação de Zilda Arns, médica, sanitarista e fundadora da entidade social.

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