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Mesmo com incerteza, otimismo segura pequeno investidor na bolsa

G1

Os dias de perdas e desvalorização do mercado de ações causados desde o ano passado pela crise financeira internacional não deixaram traumas em Leonardo Rusinek, 27 anos.

Em meio à onda de otimismo que ditou o rumo do mercado esta semana – a Bovespa teve seis pregões consecutivos de alta e acumula ganho de 37% no ano – o analista está prestes a estrear com toda a família em um projeto que demonstra convicção em um futuro promissor para a economia: um clube de investimento.

Uma das coisas que me motivaram a fazer isso agora é ver que a bolsa está se recuperando. Ainda temos medo do que pode acontecer nos EUA, mas pretendo começar a operação do clube apostando na volatilidade", diz ele, que reconhece que, apesar das altas recentes, é consenso no mercado de que a crise ainda não acabou e é necessária boa dose de cautela no otimismo.

Na avaliação do economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, o caso de Leonardo não é isolado: embora o número de pessoas físicas na Bovespa tenha diminuído em abril, são muitos os investidores deste tipo que permaneceram no mercado de ações apesar das incertezas que ainda persistem sobre o futuro.

“Entre os clientes aqui da corretora, foi bem dividido. Teve gente que não agüentou e saiu (vendeu as ações) durante a crise. Mas uma boa parte conseguiu ficar”, diz.

Os números confirmam: de outubro, auge da crise, até abril de 2009, o número de pessoas físicas que investiam em ações caiu de 542.142 para 519.057. Ainda assim, os investidores de varejo permanecem na segunda posição do ranking de participação dos investidores na bolsa, com 30,85%. A primeira posição segue com os investidores estrangeiros: 36,23%.

Investimento em família

Para bancar o dinheiro necessário para abrir o clube (batizado de "3R", inspirado no sobrenome), toda a família de Leonardo Rusinek contribuiu com parte de suas economias: mãe, pai, avó, irmão, e o próprio Leonardo. Cada um determinou a quantia de forma proporcional ao otimismo de suas previsões e confiança em uma retomada definitiva da trajetória de alta dos investimentos.

“Eu, como sou o gestor, coloquei todas as minhas economias porque tenho que mostrar que eu acredito. Meu irmão também confia e está entrando com tudo”, diz. Já os pais e a avó optaram por uma fatia mais cautelosa. “É também uma questão de fase da vida, com o tempo, a pessoa vai ficando mais conservadora”, justifica.

Sangue frio

Paulo Barbosa, 32 anos, diretor de uma indústria farmacêutica, acredita que uma das lições mais importantes que aprendeu com a crise é a de como manter a calma em meio à desvalorização de seus investimentos.



"No auge da crise, uma parcela entre 50% a 60% do dinheiro que eu tinha na bolsa sumiu. Você até pensa em sair, em mudar de investimento, mas já é tarde", diz o executivo, que chegou a comprar ainda mais papéis naquela época para minimizar as perdas e atualmente mantém 40% de suas economias em ações. Para ele, quem escolhe colocar dinheiro nesse tipo de aplicação deve "gostar de sofrer e gostar de risco" e não pode se deixar levar pelo "efeito boiada" de pânico do mercado.



" Você tem que pensar que o que vale dez hoje não pode valer dois em meses, então é importante manter a calma e dizer: racionalmente o que está acontecendo não é possível. Há um desespero muito grande no mercado", diz.


Dá para investir agora?

Na opinião do economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, o ânimo observado esta semana na bolsa ainda não reflete uma tendência firme de ganhos ou sequer significa que a crise já passou. Apesar disso, ele já recomenda a seus clientes que apliquem em ações até 60% do total que têm para investir; no auge da crise, a indicação era de que se investisse no máximo 15% em renda variável.

“O risco ainda existe, mas se a pessoa estiver pensando longo prazo, acima de 2010, 2011, vejo boas oportunidades”. É necessário, no entanto, seguir algumas regras básicas.

Investir aos poucos
Não coloque todas as suas economias na bolsa de uma vez, recomenda o analista de investimentos da Spinelli, Jayme Alves. Segundo ele, o melhor é dividir o montante em fatias e ir comprando mensalmente, para não ficar tão vulnerável às eventuais oscilações da bolsa, que não são descartadas daqui para a frente.



"Se colocar um pouco todo mês, ele vai comprar a ação pelo preço daquele dia e não fica sujeito à oscilação toda, um preço máximo ou mínimo. Investindo periodicamente, reduz o efeito dessas oscilações", explica.

Investir no longo prazo

Para comprar ações, nunca utilize dinheiro que fará falta no seu orçamento mensal, ou nos seus planos de realizar um sonho de consumo importante, como a compra de um imóvel.

"É para colocar dinheiro que ele não vai precisar, não é o dinheirinho que ficou a vida inteira poupando", diz.

Atenção às notícias

Se o objetivo é garantir que a empresa cuja ação você quer comprar merece o seu investimento, é preciso estar sempre informado sobre ela. Jornais, sites, revistas e programas de TV devem fazer parte da sua rotina de investidor "antenado".

"O melhor é buscar empresas ou fundos de ações que sejam sólidos, não tenham problemas de caixa, de liquidez. E é preciso acompanhar sempre as notícias sobre essas empresas, porque o cenário muda rapidamente", afirma Jayme Alves, da Spinelli.
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