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Notícias / Ciência & Saúde

Crack leva a duas internações compulsórias por dia na Grande SP

G1

Na Grande São Paulo, o consumo de crack é responsável por quase duas internações compulsórias por dia para tratamento de adultos. A reportagem do Jornal Nacional mostra como isso funciona e os cuidados necessários para que o dependente da droga seja recuperado.

Alucinações, ansiedade e confusão mental são sintomas comuns aos dependentes de crack no início do tratamento. De 61 internados em uma clínica municipal em São Paulo, 14 foram contra a vontade.

Um taxista, por exemplo, foi levado pelos pais depois de morar um ano na rua. “Achava que ia ser preso, que estava sendo preso, mas aos poucos fui vendo que estava sendo libertado, que estava sendo libertado das drogas”, conta o taxista.

De acordo com um levantamento do Ministério Público, nos últimos oito anos, foram registradas, na Grande São Paulo, mais de 5 mil internações de adultos sem o consentimento deles.

A internação contra a vontade do paciente está prevista em uma lei de 2001 que fala dos direitos das pessoas com transtornos mentais. Ela pode ser pedida por um parente ou determinada pela Justiça. Nos dois casos, é obrigatório um laudo médico indicando a internação.

Quando o pedido parte da família, a clínica tem 72 horas para informar a internação ao Ministério Público - uma forma de evitar abusos. “O marido que esteja em litígio com a esposa e quer mostrar que ela está com problema. Familiares que querem ficar livres de pacientes”, exemplifica o promotor Mario Coimbra.

Segundo o promotor, nem sempre o poder público é avisado das internações porque as clínicas clandestinas se multiplicam. O taxista já passou por uma delas. “Era clínica de contenção. Eu só apanhava”, afirma.

O juiz Marco Antonio Marques da Silva diz que é preciso fiscalizar a qualidade dos serviços de recuperação. Mesmo assim, defende a internação compulsória quando o dependente de drogas põe em risco a vida dele ou a de outras pessoas. “Seria uma irresponsabilidade do Estado, da sociedade, deixá-lo ao léu, deixá-lo na rua, literalmente para um quase um suicídio assistido”, justifica.

Parte da memória dos seis anos em que outro dependente, Fabian Nacer, conviveu com o crack está em anotações, feitas nas ruas. “Comecei a andar pelas vielas de esgoto e andar por debaixo das ruas mesmo o tempo todo como se fosse um rato. Por causa da paranoia que eu sentia, do desespero, eu achava que todo mundo estava me perseguindo”, relata.

Ele foi internado 25 vezes, cinco delas contra a vontade, entre elas a última. “Se não tivesse ficado contra a minha vontade esses 30, 40 dias, eu não teria engatado essa primeira para ter entrado nesse tratamento de um ano, um ano e meio a que precisei me submeter. Hoje a sensação é muito boa. Há oito anos que estou limpo, me casei. Tem sido tudo cada vez melhor”, diz.
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