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Thiago Neves exalta a qualidade do Flu e diz que era difícil tabelar no Fla

Globo Esporte

O sorriso está estampado no rosto o tempo todo. Polêmicas, incertezas, dúvidas, pressão, cobranças... Estas palavras fazem parte do passado. Agora, Thiago Neves só pensa na palavra alegria. E três fatores são determinantes para que isso possa acontecer. O primeiro é o retorno ao Fluminense. O segundo é ter a certeza de que firmou um contrato longo - vai até 2016 - e saber que no fim da temporada não terá de se preocupar em saber o que vai ser do futuro. O terceiro é hoje perceber que já reconquistou a torcida tricolor, da qual toda a sua família faz parte.

Se os tricolores querem apagar de vez a passagem de Thiago Neves pelo Flamengo, o próprio faz questão de ressaltar que cresceu muito no ano em que vestiu a 7 rubro-negra. Mas, pelo visto, só ele mesmo quer manter as memórias. Na espaçosa sala de sua casa na Barra da Tijuca, de onde deve se mudar em breve para o Leblon, um porta-retrato mostra o jogador nas diversas fases da sua carreira. Tem fotos do Fluminense, do Al-Hilal, da Seleção e nada do Flamengo...

- Rapaz, foi a Marcella quem fez (risos) - despistou.

Esta é uma das provas de como a esposa, tricolor assumida, tem importância na vida do jogador. Se hoje se considera mais maduro deixando no passado polêmicas dentro e fora de campo, Thiago Neves diz que a mulher é uma das responsáveis. Até em pequenos detalhes, como por exemplo não querer rever os lances da final da Libertadores de 2008, que até hoje ferem o casal. Mas o carinho e o respeito pelo maior rival tricolor nem ela consegue tirar. Ele, entretanto, admite que as idas e vindas geraram uma certa tensão entre os familiares.

- A preocupação existia fora de campo. Tinha medo de ser ofendido ou xingado de maneira mais agressiva na rua. Mas graças a Deus nada aconteceu. Minha família sabia aonde podia ir, onde tinha algum problema...

Dentro de campo, Thiago revela que se sente bem mais à vontade nas Laranjeiras.

- Fica mais fácil tentar uma jogada, buscar uma tabela... Você toca e sabe que a bola vai voltar redonda para os seus pés. No Flamengo era complicado. Tinha a qualidade do Ronaldo e do Deivid, mas jogávamos distantes um do outro. Aqui são muitos de qualidade.

Neste bate-papo com o GLOBOESPORTE.COM, Thiago Neves comentou as diferenças entre os dois clubes e revelou o único arrependimento de sua carreira. O futuro? Thiago Neves garante só pensar no Fluminense, na Seleção e em retribuir o carinho e o esforço do Tricolor no processo de sua contratação. Para isso, sonha com o título da Libertadores e vê o time atual ainda mais forte do que o do vice-campeonato de 2008. Enquanto o momento não chega, curte cada dia ao lado da família, dos amigos e da agitada cadela Flor. O sorriso? Segue estampado no rosto.

GLOBOESPORTE.COM: De volta ao Fluminense, contrato longo, permanecendo no Rio de Janeiro, tudo bem com a família, time campeão da Taça Guanabara... Este é o momento mais feliz da sua vida?

Thiago Neves: Sem dúvida. Minha volta ao Flamengo foi por apenas um ano. A gente tinha aquela incerteza , se iria continuar, se o clube teria dinheiro para me comprar... Tudo isso gerava uma falta de tranquilidade. E agora eu acabei aqui no Fluminense. Minha família toda é tricolor e eu estou de volta, muito feliz no Flu e aliviado. Por isso as coisas estão começando a acontecer e meu futebol está cada vez melhor. Feliz eu estive em vários momentos da minha vida. Na primeira passagem pelo Fluminense, no Flamengo, no Hamburgo, no Al-Hilal... Mas de tranquilidade este é o maior

Qual chegada você considera mais delicada? A no Flamengo após se consagrar no Fluminense, ou a no Flu após uma temporada no maior rival?

Acredito que esta agora. Por ter voltado após passar um ano no Flamengo, havia uma desconfiança. Eu tinha uma história aqui e estava ansioso, até porque fiz bons jogos contra o Fluminense e marquei gols. Mas isso passou e eu vejo o torcedor me incentivando muito nos jogos.

Surpreendeu a recepção calorosa com mais de mil tricolores no dia de sua apresentação nas Laranjeiras?

Muito. Achei que teria pouca gente, esperava vaias e cobranças. Mas todos gritaram, me incentivaram, e isso deu um gás fundamental para começar bem no Fluminense.

E ver a torcida gritando o nome da Marcella?

Foi engraçado. Na hora nem eu nem ela esperávamos. Ela ficou toda tímida aí eu fui logo falando: "Faz alguma coisa! Dá um tchau!". Nem sei se ela chegou a fazer (risos).

Em qual apresentação você ficou mais confortável? No Fluminense ou no Flamengo?

No Flamengo, me cobraram muito mais. Estava mesmo nervoso. Pediram para eu me desculpar publicamente pelos gols e comemorações. No Fluminense, deu para perceber meu nervosismo, mas ao mesmo tempo estava aliviado por ter feito um contrato longo e definitivo. Para sair realmente vai ser quase impossível.

Mas em algum momento você sentiu medo ou insegurança?

A preocupação existia fora de campo. Tinha medo de ser ofendido ou xingado de maneira mais agressiva na rua. Mas graças a Deus nada aconteceu. Minha família sabia onde podia ir, onde tinha algum problema... Mas acho que agora o torcedor do Fluminense entendeu o que aconteceu da mesma maneira que o torcedor do Flamengo também entendeu. Hoje ainda existe uma provocação, mas é saudável.

Sua esposa Marcella é uma grande tricolor. Como foi chegar em casa depois do Fla-Flu pelo Flamengo no qual você marcou um gol?

Quando eu chegava em casa procurava esquecer. No primeiro até dei uma "zoada" porque as amigas tricolores dela estavam em casa, mas não passou disso. Ela entende que sou profissional.

Você revelou a tranquilidade por ter feito um contrato longo. Aos 27 anos, jogar no Europa novamente é algo que te seduz?

Agora não me seduz tanto. Minha cabeça está totalmente no Fluminense. O clube fez um esforço grande para o meu retorno e só quero retribuir tanto ao Fluminense quanto ao Celso Barros (presidente da patrocinadora tricolor), por tudo o que fizeram por mim. Hoje, só penso no Fluminense e na Seleção Brasileira.

Analisando a sua carreira, você tem algum arrependimento?

Ter saído em 2008 para o Hamburgo. Este é meu único arrependimento. E digo isso não pelo que aconteceu na Alemanha e sim pelo momento que vivia aqui no Fluminense. Tinha que ter feito o que o Thiago Silva fez, que era ter permanecido mais tempo.

Fora dos campos há alguns anos você se envolveu em polêmicas. Teve o caso do pré-contrato com o Palmeiras além de outros pequenos episódios. Mas de uns tempos para cá isso acabou. O Thiago Neves hoje é um homem mais maduro?

Essas coisas ficaram pra trás. A Marcella me ajudou muito. Eu era garoto, agia sempre na base da empolgação. Quando cheguei ao Flamengo fui cobrado por ter falado muitas coisas e percebi isso. Sei como é o respeito que existe entre os clubes. Estou mais centrado hoje, sou pai... Fiz coisas que são impossíveis de serem repetidas de novo.

As declarações hoje em dia costumam ter um peso grande. Você disse ano passado após vencer o Carioca pelo Flamengo que era mais fácil conquistar os títulos por um clube grande. Esta declaração pegou mal nas Laranjeiras. Acha que o futebol hoje em dia está chato?

Tudo ganha uma repercussão muito grande, não só comigo como com todo mundo. O negócio do clube grande não tem nada a ver com a tradição dos clubes. Os tricolores se sentiram mal porque não tinha vencido um Carioca aqui. Hoje ganhei de novo (a Taça Guanabra) e foi por um outro clube grande. Falo isso porque se você estiver vestindo a camisa de um clube de tradição vai acabar conquistando alguma coisa. Está um pouco chato sim. Não se pode mais brincar que o rival já vai lá e transforma em motivação, cola no vestiário... Falta mais um Romário, um Renato Gaúcho... Não se pode mais brincar.

Lá no início da carreira você sonhava com os rumos que sua vida iria tomar?

Eu sempre quis ser jogador. Na minha família teve gente que tentou, como o meu tio, e não conseguiu. Era algo familiar mesmo. E eu consegui. Estou muito feliz por ter realizado este sonho da família, mas realmente não imaginava que fosse acontecer tudo isso. E os jogadores sofrem muito também com concentração, saudade da família...

Falando sobre a Libertadores, você considera este Fluminense de hoje mais pronto para vencer do que o de 2008?

Está muito mais preparado. É um elenco experiente e com jogadores que têm uma boa bagagem, como o Deco e o Fred. Eles podem segurar uma bronca como vai ser o jogo contra o Boca Juniors. Mas sabemos que só isso não ganha jogo. Então temos de colocar a experiência em campo para conseguir vencer.

Em 2008, uma defesa do goleiro Cevallos, da LDU-EQU, acabou mudando a sua vida. Por muito pouco você não marcou o quarto gol do Fluminense na final da Libertadores, que daria o título ao time. Ainda se recorda deste lance?

É algo que não sai da minha cabeça. O Washington resvalou, e a bola sobrou para mim. Chutei, e o Cevallos pegou com a pontinha dos dedos. Se essa bola entra, estariam me carregando nos ombros até hoje. Seria um título que ninguém esperava, mas agora temos uma nova chance.

Você consegue rever os lances daquela final?

Não vejo. Me dói muito. Arrepia mesmo. A Marcella se emociona também. Não gosto nem de lembrar. A gente correu atrás o tempo todo e perdeu no final. Foi duro.

E a Seleção? Ano passado foi convocado, mas depois não teve novas oportunidades...

Por isso também gostei de ter continuado no Rio de Janeiro. Estou perto de tudo e sei que o Mano Menezes acompanha os jogos. Fui convocado duas vezes no ano passado e tenho de treinar, trabalhar e jogar. Só assim posso voltar. Ele me conhece, mas tenho que jogar bola. Só fui porque estava em um bom momento. Queria ter tido mais oportunidades ano passado para ele ver melhor o meu estilo, mas sei que se fizer o que já fiz tenho chances.

Para você, ter jogadores como Deco e Fred ao seu lado é bom?

É muito mais tranquilo. Fica mais fácil tentar uma jogada, buscar uma tabela... Você toca e sabe que a bola vai voltar redonda para os seus pés. No Flamengo era complicado. Tinha a qualidade do Ronaldo e do Deivid, mas jogávamos distantes um do outro. Aqui são muitos de qualidade. Mostramos isso na final. Nem joguei muito bem, mas me destaquei porque tinha gente de qualidade ao lado.

O fato de não ter feito uma pré-temporada como os demais ainda te prejudica?

Sei como funciona o ritmo do futebol do Rio de Janeiro, como faz para jogar bem aqui... Além disso, já conhecia o Fluminense. Sei que não posso mudar o meu jeito de jogar e procuro fazer o mesmo que fiz no ano passado. Ainda é ruim não ter feito a pré-temporada. Tenho sentido dores que nunca senti na vida. Mas estou muito focado e feliz. A Taça Guanabara mostrou isso. Ainda não estou no meu melhor, mas a alegria compensa esta falta de preparo e isso ficou claro com a conquista. Sabia que se jogasse metade do que joguei no ano passado neste início as coisas dariam certo.

Estas dores foram as que fizeram você pedir substituição nos últimos jogos?

Sim. Exatamente. Na final senti dores na coxa que não são normais para mim. Nunca tive isso. Mas graças a Deus a musculatura não chegou a abrir e eu não devo desfalcar o time nas próximas rodadas.

Como você vê a entrada do Wellington Nem no time? Ele começou o ano por baixo, mas recebeu a chance e deu outra cara ao Fluminense. Era a peça que faltava?

Nao sei se foi a peça, mas para o esquema do Abel era o que precisava. Eu não sou rápido como ele. Meu jogo é mais de qualidade, mais cadência... O Nem dá a velocidade e ele está sabendo usar isso. Tem muita coisa para mostrar. Está tímido ainda. Só nos últimos jogos está sendo abusado. E tem que ser assim. É um bom garoto, escuta todo mundo... Quando falamos algo, ele abaixa a cabeça escuta.

Você está com 27 anos e já tem uma boa bagagem. Como é para você ser um dos experientes do elenco?

É engraçado. A gente fala qualquer coisa e a molecada já vem querendo escutar. Eu costumo falar o que vivi, com quem joguei... A gente quer a felicidade deles, quer que eles arrebentem... E no Fluminense tem uma galera que tem tudo para crescer.

Você disse com quem jogou... Ano passado você conviveu com o Ronaldinho Gaúcho. Como foi? Aprendeu algo com ele?

Claro. Pela sua qualidade em campo e pela amizade que temos, aprendi muita coisa nesta convivência. Mas a humildade foi o que mais me marcou. Por tudo que ele representa dentro e fora de campo, impressiona a humildade.

Na última segunda-feira você completou 27 anos. Como foi a comemoração?

Fiz uma festa aqui em casa. Foi bom que ganhamos a final e veio muita gente do Fluminense. Se tivéssemos perdido seria chato, mas iria comemorar do mesmo jeito. Já estava marcado. Ainda bem que a comemoração foi dupla.

Falando em comemoração, vamos voltar para a assinatura de contrato com o Fluminense. Teve festa também?

Abri um champanhe para comemorar, não é? Foi um alívio de todos. Ficamos muito tempo repleto de incertezas e no fim acabou do jeito que todos queriam. Posso dizer que foi um champanhe muito bem estourado (risos).

Para finalizar, a filhinha Maria Carolina está com pouco mais de um ano. Ela já fala Fluminense como os pais?

Está quase lá. Por enquanto é só "sense" mesmo (risos).
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