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'Era uma carta de suicídio', diz garoto agredido por ser homossexual no RS

G1

O estudante de 15 anos que foi alvo de agressão, preconceito e bullying em uma escola pública de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, foi ao programa Mais Você na manhã desta quinta-feira (22) relatar o episódio. A imagem do adolescente foi preservada. Protegido atrás de um biombo, o garoto revela que o pedido de socorro enviado à Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) era inicialmente uma carta de suicídio.

“Quando eu comecei a escrever, era uma carta de suicídio. Eu não aguentava mais aquilo. Só depois percebi que podia pedir ajuda para outras pessoas. Foi então que eu mandei para a associação. Ainda tenho medo de sair na rua e sofrer retaliação”, diz o estudante. Ele já trocou de escola, mas o receio de preconceito permanece. “Fui para um colégio particular. Não sei como as pessoas vão reagir porque quase ninguém sabe que sou gay.”

O estudante também fez duras críticas ao descaso dos professores e da Escola Estadual Onófre Pires. De acordo com o jovem, a escola sabia dos problemas. "Pedi ajuda diversas vezes para os professores e eles me ignoravam. Falavam que a escola era uma democracia." Procurada pela G1, a escola disse que não iria se manifestar sobre a agressão.

Apesar de ter sido agredido a socos e pontapés por um colega de turma do lado de fora do colégio, o menino destaca o apoio dos pais em casa. “Meus pais me deram muito apoio. São pessoas inteligentes, não têm preconceito. Eles têm uma mente aberta e toleram as diferenças das pessoas.” Este suporte familiar foi fundamental no processo, segundo o psiquiatra infantil Gustavo Teixeira, convidado do programa. “A família tem uma função importantíssima nesses casos. Precisam apoiar para superar o trauma. Sozinho ele não conseguria”, ressalta.

“Um em cada três estudantes estão envolvidos com bullying no Brasil, seja como autor ou como vítima. Trata-se de uma violência continuada. Provoca casos de depressão e até suicídio se não detectados em tempo pela família. É preciso sempre estar atento às notas da criança na escola e ao relacionamento com os amigos”, explica Teixeira, autor de um livro chamado Manual Antibullying. “Ninguém está imune a isso, todos podem sofrer como eu sofri. Isso tem que acabar”, apela o adolescente.

A Polícia Civil de Santo Ângelo e a Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul começaram a ouvir na quarta-feira (21) os envolvidos no episódio. O coordenador estadual do Comitê de Combate à Violência nas Escolas da secretaria se reuniu com professores e diretores da escola para ouvir os envolvidos. Ele também passou orientações de como proceder em caso de violência e como detectar futuros casos. “O professor é um educador, ele não pode se omitir apenas encaminhando o problema para a direção”, argumentou Alejandro Jelves. A polícia acredita que o caso esteja resolvido em até 30 dias.
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