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Mãe de palmeirense morto em 2005 diz não se conformar com impunidade

G1

Quase sete anos após a morte do torcedor palmeirense Diogo Lima Borges, com um tiro nas costas de um corintiano na estação Tatuapé do Metrô de São Paulo, em outubro de 2005, a mãe se diz indignada com a demora no processo. “Nada acontece, o processo não anda", diz Clarice Lima, de 51 anos. "O que eles estão esperando para colocar essas pessoas na cadeia?”, questiona ela em entrevista ao G1.

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Torcedor morto em SP tem coração, pulmões e fígado transplantadosGaviões da Fiel vai expulsar envolvidos em briga de torcedoresO Ministério Público apresentou a denúncia em 2009. Foram acusadas 14 pessoas pelo crime. Treze teriam auxiliado de alguma maneira o responsável pelo tiro, Rodrigo de Azevedo Lopes Fonseca, segundo a Promotoria.

A assessoria do Tribunal da Justiça diz que o réu ainda não foi a júri popular, e que o processo aguarda julgamento de recurso. Procurado, o advogado diz que Fonseca não irá se pronunciar sobre o caso.

Diogo tinha 23 anos. No dia do jogo, foi de Bragança Paulista (a 80 km de São Paulo), onde morava com a mãe e a irmã, para encontrar-se com o pai no terminal AC Carvalho e, depois, para o estádio. A estação Tatuapé foi invadida por corintianos, em um ataque previamente anunciado na internet. Ao desembarcar do trem, Diogo foi baleado nas costas. Socorrido, morreu no hospital.


Clarice diz que novas brigas a fazem relembrar a
morte do filho (Foto: Caio Kenji/G1)Clarice, que hoje é cabeleireira, mora em um sítio em Bragança e conta que se tornou dependente de medicamento controlado contra depressão.

Ela diz ficar "arrasada" quando fica sabendo de brigas, como a ocorrida antes do clássico no domingo (25), na Avenida Inajar de Souza, na Zona Norte da capital. Cerca de 300 torcedores das organizadas Mancha Alviverde e Gaviões da Fiel se envolveram na confusão. A polícia apura se o confronto foi organizado pela internet. Dois jovens morreram. Seis foram encaminhados a hospitais.

G1 - Como reagiu à morte, na semana passada, de dois torcedores do Palmeiras?
Clarice - Eu fico arrasada. Volta tudo na minha cabeça.

G1 - Acompanha os noticiários sobre esses confrontos?
Clarice - Só aumentam a revolta da gente. Os vândalos ainda cantam uma musiquinha, eu vi na TV: 'Uh uh uh, ah ah ah, toparam com os Gaviões e morreram na Inajar'. Eles dão risada na cara das mães que perderam filhos. E tudo continua como antes. Quarta-feira foi todo mundo ao jogo, torcer, como se nada tivesse acontecido.

G1 - Como está o andamento do processo?
Clarice - Ninguém foi preso. Nem sei como está o andamento do processo, moro longe e não me informam sobre coisa alguma. Eu me sinto sem ânimo de ir atrás, acho que não vai adiantar. Há três anos entrei com uma ação indenizatória, aqui em Bragança, contra o Metrô, a CPTM e o Corinthians (o processo passou da fase de instrução, agora as partes têm cinco dias cada uma para se manifestar e, se ninguém entrar com recurso, o juiz vai sentenciar). Depois de tudo o que aconteceu, não recebi um telefonema de alguém do Metrô nem sequer para prestar condolências. Nem isso eles foram capazes de fazer.

G1 - Muitas pessoas participaram indiretamente do crime.
Clarice - Sim, muita gente auxiliou naquela barbaridade. Pelos registros das câmeras, descobriu-se que o tiro partiu de uma passarela no andar de cima, mas outros corintianos caminhavam armados pela estação desde a manhã daquele dia. Não é possível que a segurança não tenha percebido. Meu filho estava sem a camisa do clube, não acredito que fosse o alvo, poderia ter pegado em qualquer um que saía do vagão. E tinha gente que estava indo para o shopping ou visitar a família. Ao perceber que houve uma invasão de corintianos à estação, o que a segurança deveria ter feito? Mantido os passageiros dentro do trem.

G1 - Como acha que esses confrontos podem ser evitados?
Clarice - Quem ataca é sempre a torcida do Corinthians. Os corintianos matam duas pessoas e ninguém vai preso. Para mim, eles têm costas quentes com a polícia. No fim, a culpa ainda é dos palmeirenses. Então, eu é que pergunto: como evitar?

G1 - A sra. torce pelo Palmeiras?
Clarice - Gosto quando o time ganha, mas não sou fanática.
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