O espetáculo da Paixão de Cristo movimenta várias cidades de Pernambuco. Os moradores do bairro de Casa Amarela, no Recife, acompanham o drama da Paixão de Cristo na praça lotada. Em cena, Marly e George representam Maria e Jesus. Eles são mãe e filho no palco e na vida real. “Ver meu filho ali, ensanguentado... Imagina o que Maria sentiu”, reflete a auxiliar de escritório Marly Câmara. “No momento em que eu estava no colo dela, eu senti toda a tristeza que ela estava passando para o público. Foi muito emocionante”, resume o representante comercial George Acioly. Na cidade de Paulista, o estudante Nilton Dário teve dor de cabeça para colar os cabelos longos. “Em relação ao personagem, não incomoda, mas dói um pouco a cabeça”, conta. Sem contar os imprevistos. Durante o espetáculo, o jumento tropeça e derruba o ator. Em Bom Jardim, no agreste do estado, moradores também representam o calvário de Cristo. “É o sonho que está se tornando realidade para mim, todos os anos aqui na minha cidade”, comemora o ator Wilton Augusto Martins. São 28 encenações em todo o estado que acabaram gerando um número recorde de atores no papel de Jesus. Um deles é responsável por uma maratona. O ator José Pimentel participa de dois espetáculos em cidades diferentes. Ele é sempre Jesus, há 35 anos. Aos 78, se esforça para não perder o ritmo. “Faço musculação, jogo pelada duas vezes por semana. Claro que não corro como um jovem de 20 anos, tenho 33”, brinca. Em cena, José Pimentel parece incansável. Mal termina o espetáculo em Olinda e começa a corrida contra o tempo. O ator já está sendo esperado no palco do centro de Recife para repetir o drama da Paixão de Cristo. Ele vai de ônibus com a roupa do personagem para o segundo espetáculo da noite. O público nem imagina o esforço do ator. “Tenho que pagar um preço pela pretensão de ser Cristo. Mas estou feliz”, conclui.