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Com atitude e glórias, Loco chega a 100 jogos de idolatria pelo Botafogo

Globo Esporte

Depois de Túlio Maravilha, goleador e campeão brasileiro em 1995, o Botafogo sentia a falta da presença de um ídolo. Para resolver jogos difíceis, acalmar os ânimos na hora em que as críticas surgissem e sobretudo para impor o respeito que o clube precisava após uma década complicada e com três vice-campeonatos seguidos para o arquirrival Flamengo. A missão foi dada a Loco Abreu, uruguaio de 33 anos, à época, que havia se tornado um cigano do futebol. Hoje, dois anos e três meses depois, o atacante bate a marca de 100 jogos com a camisa alvinegra e pode encher o peito para dizer: identificado, cumpriu a tarefa com louvor.

Já são 58 gols pelo clube carioca, média de 0,59 por partida. Por nenhum clube, nem o seu Nacional-URU tampouco o San Lorenzo-ARG pelos quais teve duas passagens, atingiu tais números. Neste domingo, contra o Boavista, curiosamente em São Januário, um filme das glórias que teve deverá passar em sua cabeça. Mesmo que o capitão não dê tanta importância, a torcida prepara pequenas homenagens e a diretoria seguramente não irá esquecê-lo.

O título do estadual, em 2010, pôs fim a um estigma e foi conquistado com um toque especial de Loco: o pênalti com cavadinha que o alçou à condição atual. As relações se estreitaram mais quando o jogador esteve longe: na Copa do Mundo e na Copa América, pelo Uruguai, o camisa 13 fez questão de exibir a bandeira do Botafogo pelo apoio especial que teve dos alvinegros. Não demorou, também, para que seu rosto fosse estampado em frente à sede de General Severiano, o qual chama de "o muro do povo", onde apenas ídolos estão. O fato o emocionou.

Mesmo que os fracassos a nível nacional se sucedam - por duas vezes, o time falhou na reta final do Brasileirão e ficou fora da Libertadores -, o atacante segue em alta. A atitude traduzida em algumas comemorações de gol furiosas, conhecidas como "cojones" (colhões), e as declarações contundentes, são outros detalhes marcantes de sua personalidade.

A nova temporada, porém, não começou da maneira ideal. São sete gols, mas sete jogos de ausência em menos de 20 compromissos - com uma lesão e uma contusão. Um trabalho especial físico e técnico chegou a ser pedido por ele para que os melhores dias possam voltar. A tendência, segundo o departamento médico do clube, é que Loco passe a evitar o alto desgaste de partidas diretas quartas e domingos, como outros craques de sua idade.

O contrato vai até o fim da Copa, em 2014, e só então é que o uruguaio pretende pensar em outros planos, como retornar ao Nacional, sua equipe de coração, para encerrar a carreira. Até lá, portanto, outros recordes serão batidos.

- Há a possibilidade de jogar no mundo árabe quando eu perceber que não posso manter o nível competitivo no Brasil. Depois, iria para o Nacional. Quero é continuar desfrutando do futebol de forma positiva, sem me preocupar com outras coisas. Tenho dois sonhos: ajudar o Botafogo a conseguir os grandes objetivos e jogar a Copa de 2014. São situações que se cruzam e obviamente preciso jogar bem para isso - afirmou ao programa Globo Esporte, em entrevista exclusiva, em sua casa, que vai ao ar durante esta semana.

Loco Abreu liga o Alvinegro à sequência de acontecimentos importantes de sua vida.

- A partir do título carioca, foram vários fatos positivos: minha ida para a Copa, a adaptação e o carinho da torcida... Agora tem essa situação de ser o time em que mais fiz gols, vou fazer 100 jogos, então só quero dar mais consagração ao clube e continuar nesse crescimento para ficar dentro da história do clube. Quero que esse grupo esteja na lembrança do torcedor - disse.

Ligação para o goleiro Castillo


Quando já tinha 16 camisas em sua coleção - entre Espanha, México, Uruguai , Argentina e até Israel - e estava no Aris Salônica, da Grécia, foi oferecido a clubes do Brasil, como o Santos e o próprio Botafogo. Ambos se interessaram, e a negociação avançou. Mas uma ligação para o goleiro uruguaio Castillo, que defendeu o Glorioso entre 2008 e 2009, ajudou na decisão.


Acho que (o atual) é o time mais estável, porque a sequência do trabalho fez a diretoria melhorar as características. Um novo treinador, uma maneira de pensar interessante. Mas, sinceramente, por raça e paixão, o primeiro elenco, em 2010, foi marcante"

Loco Abreu

- Foi engraçado porque quando chegou o convite para eu ir para o Botafogo, eu liguei para o Castillo e ele falou pra mim o seguinte: "o time está querendo mudar, melhorar, o clube está com uma diretoria diferente, que honra com os compromissos. Quer mudar uma imagem, mas esportivamente a gente se salvou do rebaixamento só nas últimas rodadas (no Brasileirão) e são três anos consecutivamente perdendo para o Flamengo, o que o torcedor cobra muito". No momento que ele começou a falar tudo isso, eu pensei: "pô, esse é o time que a gente em que ir, pelo desafio. Tem tudo para ganhar e ficar marcado na história" - recordou-se.

A principal certeza de que ainda pode fazer mais pelo Botafogo está na qualidade do elenco.

- Acho que é o time mais estável, porque a sequência do trabalho fez a diretoria poder ir melhorando as características. Um novo treinador, uma maneira de pensar interessante. Mas, sinceramente, por raça e paixão, o primeiro elenco, em 2010, foi marcante porque eu vi muito jogador com a necessidade grande de ganhar. Alguns jogavam sendo xingados e foram homens para superar e dar o título para o Botafogo. Eu fico sempre lembrando da decisão do campeonato e da raça desse grupo - contou Loco Abreu, que não esconde a admiração pelo modo como os ídolos são tratados em General Severiano e, por isso, quer se eternizar.

- O botafoguense tem algo que eu me identifico muito: quando eles falam que têm um ídolo, ninguém mexe com ele. Fica nessa caixinha blindada e ninguém pode bater. Os caras cuidam como se fosse ouro mesmo. Existe a cobrança quando não está dando certo e ela é forte, mas quando demonstra dedicação e profissionalismo, eles entendem. Nosso time não é o Barcelona, não vai fazer quatro gols em todos os jogos. O Botafogo está bem, no caminho certo - concluiu.
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