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Ang Lee é como o professor de 'Karatê kid', diz ator de 'Taking Woodstock'

G1

O ator norte-americano Demetri Martin, que interpreta o personagem principal na comédia "Taking Woodstock", de Ang Lee, foi a sua "grande descoberta" no filme, afirmou o diretor na manhã deste sábado (16), em Cannes. No longa, que fez sua estreia mundial no festival, Martin interpreta um jovem almofadinha que resolve promover um evento de música para ajudar a pagar as dívidas do motel de seus pais.

Com um rosto ainda pouco conhecido em Hollywood, Martin escrevia roteiros para os programas de Conan O'Brien e Jon Stewart na televisão americana antes de ganhar seu próprio show no canal a cabo Comedy Central, "Important things with Demetri Martin".

O timing afiado para a comédia e o jeitão de garoto tímido combinaram perfeitamente com o papel planejado por Lee e o roteirista James Schamus. "Descobrir esse rapaz, pessoalmente, foi a maior conquista do meu filme", disse o diretor em entrevista coletiva.

Sentado ao lado do cineasta, Martin retribuiu o elogio, sem perder a piada. "Trabalhar com Lee foi como estar com o professor do 'Karatê kid'."

Geração limpinha

Nascido em 1973, o ator sequer era vivo quando o Festival de Woodstock foi realizado, em agosto de 1969. "Eu cresci na cultura dos anos 70 e 80, então tudo aquilo já era muito distante. Só fui conhecer por causa da música e, antes do filme, não tinha me dado conta de que era também a época em que jovens estavam sendo enviados ao Vietnã para morrer", comentou Martin.

Esse outro lado de Woodstock está bem representado no filme pelo personagem do ator Emile Hirsch, um ex-combatente que volta aos Estados Unidos enfrentando problemas psicológicos de estresse pós-guerra. "Sempre que eu ouvia falar de Woodstock era quando minha mãe lembrava as histórias de como eles passavam aquele tempo todo sem tomar banho", brinca Hirsch. "E eu dizia: 'para, mãe, é nojento!".

Pois a proposta do filme - que só deve chegar aos cinemas do mundo em agosto, comemorando os 40 anos do festival - é justamente mostrar um outro Woodstock, segundo Lee. "Prefiro deixar o sexo, as drogas e o rock'n'roll de lado um pouco. Os hippies eram uma parte muito pequena, quase decadente, de um fenômeno muito maior. Nem todo mundo ali era cabeludo ou tomava drogas. Ouso dizer que 99% das pessoas ali eram 'normais' ou no máximo aspirantes a hippies."

Hulk cor-de-rosa

Minutos após o início da entrevista coletiva, um humorista do programa "CQC", da TV Bandeirantes, levantou-se e entregou uma camiseta do jogador Ronaldo ao ator Emily Hirsch. "Ele mandou falar que gosta muito de você e quer que você o visite no Brasil." Em seguida, dirigiu-se a Ang Lee e, segurando um boneco cor de rosa Hulk na mão, perguntou ao diretor de "O segredo de Brokeback mountain" se ele esperava fazer uma versão gay do herói dos quadrinhos.

Apesar da saia justa, Lee foi elegante na resposta: "O ser humano é composto por muitos elementos, a homossexualidade pode ser só um deles. Eu mesmo me sinto estrangeiro, seja nos Estados Unidos [onde mora desde os anos 70] ou onde nasci, em Taiwan. Nesse meu filme há ex-soldado forte que é travesti e de certa forma poderia ser o Hulk. Mas a homossexualidade nunca foi o centro da questão. Odeio ser categorizado, prefiro me ver tão complexo como sou e por isso faço o mesmo com os meus filmes."

À pergunta de uma jornalista chinesa - que Lee teve de traduzir para o inglês - sobre se depois de ter ganho o Oscar, Leão e Urso de Ouro, esperava agora receber a Palma, em Cannes, o diretor manteve a humildade. "Fico até constrangido em traduzir essa pergunta. Esse filme me deixou feliz e ao mesmo tempo nervoso. Porque em comédia, se as pessoas não rirem, seu filme é um fracasso. Em drama, é melhor que elas fiquem sérias", afirmou. "Ainda quero fazer comédias, mas não sei se tem algo de ouro para comédia aqui. Para mim, só de estar passando aqui já é uma alegria. O resto, vou com o fluxo."
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