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Mãe obstinada é o destaque em novo filme de diretor de 'O hospedeiro'

G1

Depois da première de "Thirst", de Park Chan-wook, a Coréia do Sul mostrou mais uma vez em Cannes por que é um dos polos mais interessantes do cinema pop asiático da atualidade. O destaque da mostra Un Certain Regard neste sábado foi "Mother", de Bong Joon-ho, mesmo diretor do premiado "O hospedeiro".

Mistura de thriller de suspense e drama, o longa conta a história de um jovem com deficiência mental (o ator Won Bi) que é preso acusado de matar uma estudante da pequena cidade onde vive. Vítima de problemas de memória, o rapaz é incapaz de negar ou confirmar o assassinato, apesar de ter estado na cena do crime. Sua única esperança reside em sua mãe - interpretada por Kim Hye-ja, uma das maiores estrelas da televisão coreana - uma mulher superprotetora e obstinada que usará de todos os artifícios, alguns nada ortodoxos, para provar a inocência do filho.

A falta de elementos fantásticos como o bagre gigante de "O hospedeiro" não significa, entretanto, que "Mother" seja um filme... normal. A jornada da mãe atrás de pistas sobre o verdadeiro assassino da garota está recheada de encontros com personagens bizarros, momentos de humor e diálogos inusitados, que contribuem para o tipo peculiar de suspense do filme.

Paralelamente à investigação da mãe, o mistério vai sendo esclarecido aos poucos durante a história, através de flashes que retornam à memória do filho preso. Como em todo bom suspense, o trunfo maior de Bong Joon-ho em "Mother" está em sustentar, ao logo de toda a trama, a sensação de que nenhum de seus personagens é 100% bom ou 100% mau.

Temporada de mães

É curioso notar, aliás, como personagens fortes de mães têm estado presentes pelo menos em boa parte dos filmes mostrados em Cannes até agora.

Uma das performances mais elogiadas por enquanto foi a da atriz veterana Imelda Staunton, de "Taking Woodstock". No papel de uma mãe judia opressora, a personagem arrancou risos da plateia com suas atitudes avarentas e turronas - postura que só vai se amenizar no dia em que ela come, sem saber, um bolo de chocolate com maconha feito pelos hippies amigos do filho, talvez uma das cenas mais engraçadas do novo filme de Ang Lee.

Igualmente cômica é a mãe do amigo do padre-vampiro de "Thirst", de Park Chan-wook. Colocada em estado de catatonismo desde a morte do filho, a personagem é a única conhecedora da identidade dos responsáveis pelo crime. Se já sofria nas mãos da sogra quando sua saúde ainda era boa, a protagonista da história continua passando por maus bocados só com o virar de olhos ameaçador da matrona.

Já a mãe de Claireece Precious Jones no filme de Lee Daniels, exibido nesta sexta no festival, não tem nada, nada de engraçada. Mãe solteira no violento bairro do Harlem, em Nova York, ela desconta toda a sua frustração na filha, com surras e agressões verbais que são difíceis de se ver numa tela de cinema, mas que, inegavelmente, também exemplificam o perfil de algumas mães da vida real.
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