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PT usará ‘fator Lula’ por Haddad e PSDB minimiza rejeição a Serra

IG

Especialistas apontam dificuldades para o petista, mas reconhecem força do ex-presidente; para tucanos, Serra não é 'o passado', é a inovação.

Os dois partidos políticos que vêm polarizando as disputas eleitorais em nível nacional desde 1994, PT e PSDB, reagiram de forma diferente à primeira pesquisa Ibope com os nomes de todos os pré-candidatos à prefeitura de São Paulo , divulgada na última quinta-feira, que apontou o ex-governador tucano José Serra líder nas intenções de voto, com 31%, e o ex-ministro da Educação, o petista Fernando Haddad , bem atrás, estacionado nos 3%.No dia seguinte à divulgação dos números, lideranças da Executiva do PT se reuniram na sede do Diretório Nacional do partido, em São Paulo, e o presidente da legenda, deputado estadual Rui Falcão (SP), adotou um discurso otimista e citou a influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como trunfo para levar Haddad ao 2º turno.

Ao iG, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), ex-líder do partido na Câmara, fez coro à fala de Falcão e também citou a campanha na televisão como fator decisivo. “Quando a campanha na TV começar e a população souber quem é o candidato do PT, ele vai crescer. É uma questão de tempo, assim que começar a TV”, disse. “O PT tem um percentual de 35% na cidade de São Paulo. Nosso candidato vai alcançar esse patamar, assim como aconteceu com a Marta (Suplicy), o (Aloizio) Mercadante, o (José) Genoino em eleições anteriores. Não tenho dúvida de que ele vai conseguir (ir ao 2º turno).”

Fator Lula

A expectativa das lideranças petistas é de que Lula, que se recupera do tratamento bem sucedido de um câncer na laringe e ainda realiza sessões de fisioterapia para curar uma inflamação no tornozelo e recuperar massa muscular, comece a participar de forma mais ativa da campanha de Haddad a partir do início de junho. Especialistas ouvidos pela reportagem do iG apontam as dificuldades da pré-campanha de Haddad neste momento, mas reconhecem a importância da futura presença de Lula e acreditam que o pré-candidato do PT conseguirá se viabilizar como contraponto a Serra.

“A eleição em São Paulo está muito indefinida, ninguém sabe ao certo quem serão os candidatos. Provavelmente, nem todos eles estarão na campanha. A única coisa certa em São Paulo é que o Haddad está mal. Acredito que o Lula terá um grande impacto, mas junto com o tempo na TV. Acho que não havia muita expectativa de que o Haddad subisse agora”, diz Carlos Ranulfo, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O cientista político Rogério Schmitt aposta na polarização entre o ex-governador paulista e o preferido de Lula. “O apoio de Lula e Dilma serão importantes e devem fazer o Haddad crescer nas pesquisas. Ele deve disputar o 2º turno com o Serra”, afirma. “Em São Paulo, historicamente, a polarização não é entre PT e PSDB, mas entre PT e anti-PT. Vários partidos e candidatos já ocuparam esse lugar: o Maluf, o Pitta, o próprio Serra, o Kassab... Minha expectativa é de que até o início da campanha eleitoral propriamente dita, no mês de julho, à medida que o Haddad se tornar mais conhecido, ele vai alcançar um patamar muito maior que o de hoje. A faixa dos 30% é a votação tradicional do PT em São Paulo. E me parece que esse estágio atual (3%) não vai durar muito tempo mais.”

Apesar de acreditar no crescimento do pré-candidato do PT, Schmitt aponta que o partido vem enfrentando dificuldades para fazer Haddad cair no gosto popular. “A candidatura do Haddad está precisando desesperadamente de ajuda. Salvo engano, é a primeira campanha do PT em São Paulo em que a candidatura petista aparece em um patamar tão baixo. É preciso dar um desconto, é claro, por tratar-se de um nome desconhecido. Seja como for, eu diria que a candidatura do Haddad está respirando por aparelhos.

A presença do Lula e da Dilma será fundamental para viabilizar a candidatura”, avalia. “Nem mesmo a comparação com a campanha da Dilma me parece apropriada. Em abril e maio de 2010, a Dilma já estava encostando no Serra, já em um patamar muito maior de onde o Haddad está partindo”, completa, em referência à disputa presidencial entre Dilma e Serra há dois anos.

Schmitt lembra que, nas últimas eleições em São Paulo, o candidato a prefeito que contava com o apoio do presidente não venceu. Em 1996, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) apoiou Serra, mas quem venceu foi Celso Pitta (PPB), apadrinhado pelo ex-prefeito Paulo Maluf. Quatro anos depois, FHC apoiou Geraldo Alckmin, mas Marta Suplicy (PT) foi eleita. Nos dois últimos pleitos, em 2004 e 2008, Lula endossou a candidatura de Marta, que foi derrotada por Serra (2004) e Gilberto Kassab (2008). “De fato, a eleição é para o município de São Paulo. Se o PT tem a ideia de que basta o Lula empurrar para o Haddad se eleger, está redondamente enganado”, concorda Ranulfo. “O Haddad tem que se impor. O Lula é um empurrão e é um empurrão expressivo. Mas o Haddad tem que fazer uma boa campanha.”

Rejeição

Apesar das pressões sobre a pré-candidatura de Fernando Haddad neste momento e da ansiedade para que Lula entre definitivamente na campanha, o PT considera a alta rejeição a José Serra um trunfo do ex-ministro da Educação na disputa de outubro – principalmente, em um eventual 2º turno entre os dois. “Acho que a candidatura do Serra representa o passado. Há um desgaste dos oito anos de Serra/Kassab em São Paulo”, afirma Paulo Teixeira. Segundo o Ibope, 35% dos eleitores não votariam no tucano (percentual muito próximo ao do recordista de rejeição, Netinho de Paula, do PCdoB, que tem 38%). Hoje, 12% dos eleitores dizem que não votariam em Haddad.

“O Serra tem mais rejeição do que voto, e você largar com mais rejeição do que voto é muito complicado. É um desastre. Ele está na frente porque é lembrado. Mais nada. Quando começar a campanha, ninguém sabe o que vai acontecer”, diz Ranulfo. “Acho que o Serra é um candidato com sérias dificuldades. Talvez ninguém possa tirá-lo do 2º turno, mas talvez chegue lá e não ganhe O Serra não agrega. É um nome gasto, tem uma boa largada, mas dificuldades de chegada.”

Procurado pelo iG, o coordenador da pré-campanha do tucano, Edson Aparecido, rebateu a tese dos adversários de que o ex-governador representa o “passado”. “A candidatura do Serra, na nossa forma de entender, é a candidatura da inovação, que vem para apresentar novas ideias para a cidade em torno dos novos desafios que a cidade tem neste momento”, afirma. “É a candidatura que está conseguindo alinhavar o maior leque de alianças em torno dela entre todas aquelas que estão colocadas neste momento. Temos muita consciência e tranquilidade de que o Serra é o candidato da inovação, que poderá apresentar a melhor proposta para a cidade. A candidatura é a que está mais antenada com a modernidade para a cidade.”

Sobre os 35% de rejeição, Aparecido atribui o índice ao fato de Serra ser o candidato mais conhecido. “Se você somar os índices de rejeição de todos os candidatos, passa de 100%. Na metodologia dessa pesquisa, a pessoa podia indicar mais de um nome para a rejeição. E é natural que as pessoas acabem se manifestando em torno do candidato mais conhecido”, afirma. A reportagem do iG tentou entrar em contato com o coordenador da pré-campanha de Fernando Haddad e presidente municipal do PT, vereador Antonio Donato (SP), mas ele não retornou as ligações.
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