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Alexandre Cesar homenageará fundadora de dezesseis bairros em Cuiabá

Da Redação/Com Assessoria

O deputado estadual Alexandre Cesar (PT) apresentou Projeto de Resolução para conceder título de Cidadã Mato-grossense à senhora Geni Rodrigues dos Santos Pascoal, de 53 anos de idade. Ela liderou sem tetos na ocupação de dezesseis bairros em Cuiabá. Pessoas que assim como ela não podiam pagar por aluguel e moravam de favor ou em barracos. “Éramos excluídos de qualquer programa habitacional que na época só valiam para quem tinha renda de no mínimo sete salários mínimos”, lembra dona Geni.

Filha de trabalhadores rurais, Geni veio de Minas Gerais para Mato Grosso com a família aos oito anos de idade e aqui no Estado migrou por diversos municípios até se fixar em Cuiabá. Depois de uma infância dura sem brinquedos ou brincadeiras, mas apenas cozinhando para trabalhadores rurais e cuidando dos irmãos, Geni passou a comandar ocupações por pura necessidade. Ela protagonizou a luta por um dos direitos humanos mais prementes: o direito à moradia.

Geni foi a primeira representante do Movimento de Solo Urbano em Mato Grosso, entidade da sociedade civil organizada que pressionava os governos por moradia para sem tetos. Mais tarde a entidade liderada por Geni mudou o nome para Movimento Nacional de Luta pela Moradia, onde ela foi representante no Estado por dois anos (um mandato).

Nessa luta Geni foi responsável por liderar a ocupação de bairros como o Canjica, Três Barras, Tancredo Neves, Jd. Fortaleza, Osmar Cabral, Jd. Vitória, Jd. Florianópolis, Jd. União, Três Poderes e Novo Paraíso II, entre outros. “Foi a época em que houve mais ocupação urbana em Cuiabá. Organizávamos as pessoas que não tinham onde morar e fazíamos um levantamento da área. Fazíamos a invasão e íamos reivindicar a infraestrutura do prefeito e do governador. Juntávamos o povo e íamos em frente da prefeitura”, conta ela.

As invasões obviamente não foram pacíficas. Geni era considerada “a pedra no sapato” de muitos figurões políticos que mandavam homens armados perseguirem-na e ameaçarem-na de morte. Ela teve os documentos roubados e chegou a apanhar até o ponto de sangrar. Na ocupação da Morada do Ouro teve as costelas quebradas pela polícia. Nos piores momentos era o padre José Ten Cate quem a auxiliava (e também a outros sem teto) levando comida entre outras provisões.

Em um dos episódios mais complicados de sua vida, no Novo Paraíso II, Geni se colocou diante do braço de uma máquina retroescavadeira que ameaçava derrubar os barracos. Ela não arrefeceu diante da ameaça de um secretário do município que enviou a máquina para destruir tudo.

Em outra ocasião Geni precisou se disfarçar com roupas de gari da prefeitura para conseguir falar com o então prefeito Dante de Oliveira, que não queria atendê-la sobre a regularização do Três Barras.

Mas Geni lembra que o tempo mais difícil mesmo para ela foi quando ocupou o Jd. Florianópolis, bairro onde foi presidente por quase três mandatos e que completou 18 anos no dia 15 de maio de 2009. “Foi um verdadeiro terror, meu filho Valdemir Pascoal nem podia me visitar para que não o matassem em vingança contra mim. Meus parentes não podiam me ver para não sofrer retaliações também. Mas tive fé e lutei. Hoje nossa luta continua pela melhoria do bairro”, diz.

Filiada ao PT desde 20 de abril de 1988, Geni tem saudades das grandes mobilizações organizadas naquele tempo. “Lutávamos em parceria com o Sindicato dos professores, dos bancários...nós demos um apoio muito grande para as causas deles e eles para a nossa causa. Fazíamos piquetes, passeatas, romarias, éramos muito aguerridos”.

A maioria dos bairros ocupados por dona Geni foi regularizado. Segundo ela, dos governos, o de Blairo Maggi foi o melhor para a regularização dos bairros. Geni também foi presidente do Movimento dos Sem Terra em Mato Grosso na Serra de São Vicente. Hoje ela, que jamais tirou férias, está aprendendo a ler e a escrever na fundação Bradesco. “Naquele tempo das invasões eu tremia muito por ter que falar, com a minha simplicidade, para as autoridades. Sou viúva há 24 anos, meu marido, o Roberto Pascoal, faleceu quando meu filho tinha seis anos. Na época meu filho parou de andar. Saí do Bela Vista com ele nos braços para fazer tratamento. Minha vida toda foi uma luta muito grande, passei por nove cirurgias plásticas por causa de queimaduras que sofri quando criança cozinhando. Hoje é impressionante ver como as coisas são muito mais fáceis e as pessoas tem aquele desânimo”, pondera.
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