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CPI restringe investigação sobre Delta

Reuters

A CPI do Cachoeira restringiu nesta quinta-feira a investigação sobre a construtora Delta à Região Centro-Oeste e o Estado de Tocantins, apesar dos apelos de vários parlamentares que queriam estender a quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico da empreiteira a todo o país.


A comissão também aprovou a convocação de 51 pessoas que tiveram seu envolvimento com a organização do empresário Carlinhos Cachoeira apontado pelas operações Vegas e Monte Carlo. A CPI mista pediu ainda outras 36 quebras de sigilos de empresas e pessoas ligadas ao esquema.


O relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), foi pressionado para ampliar a extensão do requerimento que pedia quebras de sigilo da empresa Delta, mas resistiu argumentando que a investigação parlamentar estava focada na organização criminosa e não devia ser estendida a contratos da empresa com governos estaduais e municipais neste momento.


"Não adianta perder o foco. Quero saber o papel da Delta na organização criminosa", disse Cunha. "Quem quer investigar tudo, não quer investigar nada", acrescentou.


O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), afirmou que a restrição imposta pelo relator não tem sentido. "São 23 Estados da federação alcançados pela empresa na prestação de serviços de limpeza pública, aluguel de veículos e obras", argumentou.


A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) também foi na mesma linha e lembrou que a Controladoria-Geral da União (CGU) estava investigando todos os contratos da Delta com o governo federal e, portanto, a CPI também tinha que pedir informações da matriz da construtora.


"Há vários indícios, fortíssimos, nesses autos da aliança da Delta, no seu todo, com o Cachoeira. Por que razão uma empresa vai transferir dinheiro para empresas fantasmas? E aqui nos autos lê-se que a Delta transferiu para quatro ou cinco empresas fantasmas", afirmou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), defendendo a ampliação imediata da quebra de sigilos para toda a empresa.


O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) contrapôs os argumentos dos opositores da decisão do relator. "Nós estamos na CPI investigando o crime organizado dirigido por uma organização criminosa que o senhor Carlos Cachoeira é situado como principal dirigente. Não estamos fazendo devassa. Infelizmente, deputados e senadores quando falam querem uma devassa", afirmou.


Após ouvir as advertências, Cunha foi ainda mais incisivo ao defender que não há indícios, pelo menos por agora, para quebrar o sigilo da matriz da empreiteira ou mesmo convocar seu ex-presidente Fernando Cavendish.


"Nossa tarefa tem foco certo. Não vamos nos arredar daí. Aqueles que querem investigar os contratos da Delta que o façam, proponham uma CPI específica. Eu assinarei. Proponham nos vossos Estados", disse.


Mesmo com as críticas, a comissão adiou a decisão de quebrar os sigilos da matriz da empreiteira para a próxima sessão administrativa até com o apoio de dois deputados tucanos, Fernando Franceschini (PR) e Carlos Sampaio (SP).


“O início da investigação, pelo plano de trabalho que foi formulado, e é fruto do fato determinado, é a Delta Centro-Oeste. "A Delta Sudeste, a Delta Norte, a Delta Sul, ou qualquer outra Delta, ela vai entrar, de acordo com o aprofundamento das investigações, a depender de uma decisão colegiada da comissão", disse o presidente da CPI.


GOVERNADORES


Na próxima sessão de análise de requerimentos, marcada para o dia 5 de junho, os parlamentares voltarão a debater a necessidade de convocação de Cavendish e de pedir a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da matriz da Delta.


Também nessa sessão os parlamentares debaterão a possibilidade de convocar os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).


Por enquanto, o relator não vê indícios suficientes para chamá-los à CPI.


No começo dos trabalhos da comissão foi ventilada a hipótese dos três partidos fecharem um acordo para blindar os governantes, mas PT e PMDB rejeitam a hipótese por motivos diferentes.


Peemedebistas não veem motivos para convocar Cabral, que não é citado nas investigações da Polícia Federal, mas é amigo pessoal de Cavendish. Essa relação não é considerada suficiente pelos aliados do governador para que seja obrigado a ir à CPI.


O PT argumenta que o esquema de Cachoeira não conseguiu se infiltrar no governo de Agnelo Queiroz e alega ainda que um acordo para blindar os governadores só serviria ao PSDB, que impediria o aprofundamento das investigações no governo de Goiás, comandado por Perillo.


O tucano é citado centenas de vezes nas investigações da Polícia Federal e, segundo a operação Monte Carlo, teria firmado um acordo com Cachoeira para nomear integrantes da organização criminosa para sua gestão. Perillo nega as acusações.


"Em nenhum momento estava pré-estabelecido que se votaria (requerimentos de convocação de) governadores hoje", disse o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) ao final da reunião. "Eu posso dizer a vocês que não existe acordo nessa comissão", acrescentou.


Na próxima terça-feira, a CPI espera colher o depoimento de Cachoeira, que está preso desde fevereiro acusado de comandar um esquema de jogos ilegais, e de outras pessoas envolvidas no suposto esquema.
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