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CPI ouve Dadá e Garcez, apontados como auxiliares de Cachoeira

G1

A CPI mista que apura a relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e autoridades ouve nesta quinta-feira (24) os depoimentos de Jairo Martins de Souza, Idalberto Matias de Araújo, o Dada, e Wladimir Garcez, apontados pela Polícia Federal como auxiliares do contraventor.

A sessão começa na manhã desta quinta e não tem horário previsto para terminar. Na comissão, os depoentes têm o direito de permanecer em silêncio, como fez o bicheiro em depoimento na terça.

Dadá e Garcez são apontados como alguns dos principais auxiliares do contraventor e foram presos no mesmo dia em que Cachoeira, no fim de fevereiro, quando foi deflagrada a Operação Monte Carlo, que apurou a exploração do jogo ilegal em Goiás, supostamente chefiada por Cachoeira, conforme a PF.

Dadá é ex-sargento da Aeronáutica e, segundo as investigações da Polícia Federal, atuava como informante e auxiliar do bicheiro. Wladimir Garcez, ex-vereador pelo PSDB de Goiânia, é citado como o principal elo de Cachoeira com influência no governo de Goiás. Jairo Martins de Souza, sargento da Polícia Militar do DF, é suspeito de "contribuir para o esquema de arapongagem montado por Cachoeira".

Silêncio de Cachoeira
Em depoimento na última terça (22), após duas horas e meia de sessão, o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, se recusou a responder perguntas.

"Estamos fazendo um papel ridículo, diante deste cidadão que está nos manipulando. Estamos perguntando para uma múmia, que não quer responder", disse a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) ao pedir o fim da reunião.

O contraventor Carlinhos Cachoeira afirmou logo no começo do seu depoimento que foi "forçado" a vir a comissão. Ele se negou a responder a todas as perguntas feitas pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), e pelos demais parlamentares.

Cachoeira foi preso em fevereiro pela PF, durante a Operação Monte Carlo, e levado para a penitenciária de Mossoró (RN). Em abril, foi transferido para o presídio da Papuda, em Brasília. Ele foi levado para depor na CPI por um comboio da Polícia Federal e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

"Constitucionalmente, fui advertido pelos advogados para não dizer nada. E eu não falarei nada aqui. Somente depois da audiência que teremos com o juiz, depois, se acharem que posso contribuir, responderei a qualquer pergunta", afirmou Cachoeira na primeira fala na sessão.

Depoimento de Cachoeira
O relator da CPI foi o primeiro a formular pergunta a Cachoeira. Ele quis que Cachoeira dissesse qual era o ramo de atividade dele. Sentado ao lado do advogado Márcio Thomaz Bastos, o bicheiro afirmou que só responderia após audiência na Justiça.

"Eu ajudaria muito, deputado, mas somente depois da minha audiência. Por enquanto, ficarei calado, como manda a Constituição", declarou Cachoeira.

O relator formulou outras duas perguntas sobre empresas relacionadas a Cachoeira, mas ele também se recusou a responder.

O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) reclamou do silêncio do bicheiro. "O depoente não pode achar que aqui tem um monte de palhaço", afirmou.

Na última pergunta do relator, Cachoeira foi indagado sobre a relação com agentes públicos que têm foro especial, como parlamentares com os quais tem vínculo. "Estou respondendo a um inquérito na Justiça e antes disso não posso falar. Quem forçou minha vinda foram os senhores", declarou Cachoeira.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) quis saber sobre relações de Cachoeira com secretários do governador Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal. "Desculpa, por orientação dos meus advogados vou permanecer calado", declarou o bicheiro. Sampaio depois indagou sobre uma suposta relação de Cachoeira com o ex-ministro José Dirceu (PT). "Eu vou permanecer calado", voltou a afirmar o bicheiro.

O deputado Fernando Francischini indagou Cachoeira sobre a "estrutura" usada para "cooptar autoridades e jornalistas" e perguntou se ele aceitaria um acordo de delação premiada eventualmente proposto pela Procuradoria-Geral da República. "Eu só falo...", disse Cachoeira ao ser interrompido pelo presidente da CPI, que passou a palavra a outro parlamentar.

O deputado Filipe Pereira (PSC-RJ) insistiu com a proposta de delação premiada, mas Cachoeira novamente se negou a responder.

O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) perguntou como estava o cotidiano do bicheiro no presídio da Papuda, em Brasília e também quis saber de onde saía o dinheiro para pagar os honorários do advogado Márcio Thomaz Bastos. "Eu só quero permancer calado", afirmou na resposta.

Às perguntas do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), entre as quais as que o indagavam sobre as relações com o governo do Distrito Federal e sobre a eventual convocação da ex-mulher dele, Cachoeira repetiu a frase "Calado, senhor".

"O que estamos fazendo aqui? Estamos permitindo aqui um exercício e um treino ao depoente e aos seus advogados. Estamos antecipando algo que se daria com mais efetividade depois que ele falar à Justiça", afirmou o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE).

Por causa do silêncio de Cachoeira, o líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), deixou a sala da CPI antes do término da reunião. “Nós sabemos que há uma cachoeira de crimes, de corrupção, de sujeira. Mas não houve cachoeira de respostas. O espetáculo é de acinte à instituição parlamentar. Não há juramento para o depoimento e não há respostas às indagações. Então, não há justificativa para a manutenção desse espetáculo grotesco que estamos assistindo agora”, afirmou.

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) propôs a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico da empresa Delta, construtora que teria conexões com Cachoeira, segundo a investigação da Polícia Federal. Ele também sugeriu acareação entre Cachoeira e o ex-diretor do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit). "Sozinho é muito fácil ficar quieto. Mas eu tenho certeza de que quando a quadrilha briga, a sociedade se informa", declarou o parlamentar.

Para deputado Sílvio Costa (PTB-PE), "o Cachoeira pautou a CPI". "O competente advogado Thomaz Bastos vai pegar nossa perguntas e treinar o cliente. Vai todo mundo rir da gente. Para não continuarmos com esse espetáculo ridículo, concordo com a senador Kátia", afirmou Costa.

‎‎O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) considerou que a sessão da CPI não foi "inútil", embora Cachoeira não tenha respondido às perguntas. "Quando o acusado não fala para não produzir provas contra si, é uma declaração de culpa. Esta sessão não foi inútil", disse.

Domingos Sávio, deputado do PSDB-MG, insistiu na proposta de delação premiada, mas Cachoeira novamente se negou a responder.

"As pessoas podem dizer que sou ingênuo [...]. Mas acho que o sr. é um ser humano. Tem o dispositivo da delação premiada. O sr. pode ter sim sua pena não só abrandada, mas também extinta, pelo serviço que o sr. prestar à nação [...] O sr. estaria disposto a contribuir aceitando a delação premiada?", perguntou Sávio. "Com todo o respeito, uso meu direito de ficar calado", disse o bicheiro.
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