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Notícias / Cultura

Dilma, escritores e colegas lamentam falecimento do jornalista Ivan Lessa

G1

 A presidente Dilma Rousseff, artistas e colegas lamentaram neste sábado (9) a morte do jornalista, cronista e escritor Ivan Lessa, de 77 anos. Dilma disse, em nota, que "Lessa foi um escritor indomável. Foi irônico, mordaz, provocador, iconoclasta e surpreendentemente lírico – acima de tudo brilhante no trato com as palavras" 

Lessa morreu na sexta (8) em sua casa em Londres, mas a morte só foi divulgada neste sábado. Filho dos escritores Origenes e Elsie Lessa, nasceu em São Paulo, mas foi criado no Rio. Com Ziraldo, Millôr Fernandes, Tarso de Castro e Jaguar, fez parte do grupo que criou o jornal "O Pasquim", em 1969. Inspirado em Sigmund Freud, deu o nome de Sig ao ratinho símbolo do jornal.

Morava em Londres desde 1978. De lá, escrevia suas crônicas - em geral, criticas aos problemas do Brasil. Ele era colunista da BBC Brasil.

Segundo a viúva, Elizabeth Fiuza, Lessa sofria de enfisema pulmonar e tinha problemas respiratórios graves, mas o motivo da morte ainda não é conhecido. O corpo do escritor será cremado em Londres, em data e local ainda não definidos.

"Era uma pessoa com muita sensibilidade, extremamente e às vezes assustadoramente inteligente", disse Elizabeth, em reportagem exibida no Jornal Nacional.

A viúva contou que, ao chegar à noite em casa, encontrou Ivan Lessa morto em seu escritório. Ela estima que ele tenha morrido entre as 16h e as 18h30, pelo horário local.

Para Elizabeth, a morte não foi uma surpresa. Nos últimos tempos, Lessa tinha dificuldades para sair e havia montado uma estrutura em casa para não precisar ser hospitalizado, o que não queria.

Ela conta que Lessa se queixava de falta de ar e dizia que não queria viver, mas continuava trabalhando. Ele enviava três crônicas semanais para a BBC Brasil.

Um dia antes da morte, ele mandou sua última coluna, publicada nesta sexta-feira. Nela, ele lista frases ironizando a morte.

'Pasquim'
Ivan Pinheiro Themudo Lessa nasceu em 9 de maio de 1935, em São Paulo, mas foi criado no Rio. Ele era filho do escritor Orígenes Lessa e da escritora e cronista Elsie Lessa, que escrevia no jornal "O Globo".
Ivan Lessa trabalhou e colaborou com vários órgãos de imprensa, como a TV Globo, as revistas "Senhor", "Veja" e "Playboy" e os jornais "Folha de S. Paulo", "Estado de S.Paulo", "Jornal do Brasil" e "Gazeta Mercantil". Também atuou como publicitário.

Foi fundador, em 1969, e um dos principais colaboradores do jornal crítico e satírico "O Pasquim", durante os anos de resistência à ditadura militar brasileira.

No "Pasquim", ele escreveu, entre outras, as colunas "Gip! Gip! Nheco! Nheco!", "Fotonovelas" e os "Diários de Londres". Ele também criou, em parceria com o cartunista Jaguar, o ratinho Sig, símbolo da publicação.

Lessa publicou os livros "Garotos da Fuzarca" (contos, de 1986), "Ivan vê o mundo" (crônicas, de 1999) e "O luar e a rainha" (2005). Também trabalhou como tradutor.

O escritor, que conheceu o Reino Unido em 1968, morava desde janeiro de 1978 em Londres, e pouco voltou para o Brasil desde então. Ele e Elizabeth Fiuza ficaram juntos por 39 anos e tiveram uma filha, Juliana, hoje com 36 anos. Ela mora em Kent, na Inglaterra.

Mainardi e Caruso lamentam morte
Para o escritor e colunista Diogo Mainardi, Lessa "foi o melhor escritor brasileiro". "Ele foi o melhor escritor brasileiro até o fim, até sua última crônica, quando ele precisava de uma bomba de oxigência para poder respirar. Com sua morte, quem fica sem oxigência é o Bananão, como ele chamava debochadamente o Brasil. Por sorte, uma cultura de zumbis como a nossa não precisa de oxigência para respirar", disse em depoimento ao Jornal Nacional.

O cartunista Chico Caruso, amigo da época do jornal "O Pasquim", relembrou o último encontro com Lessa. "Uma hora ele falou assim: 'agora eu vou levantar e sair por aquela porta sem olhar para trás'. E fez isso exatamente', disse Caruso.

Dilma Rousseff
Leia a seguir a nota da presidente divulgada no Blog do Planalto: "Ivan Lessa foi um escritor indomável. Foi irônico, mordaz, provocador, iconoclasta e surpreendentemente lírico – acima de tudo brilhante no trato com as palavras. Sua contribuição à resistência democrática está registrada nas páginas do Pasquim, um espaço de liberdade e crítica que Ivan e seus companheiros souberam abrir, com humor e astúcia, para toda uma geração de brasileiros, num momento em que isso parecia impossível. O Brasil perde um de seus cronistas mais talentosos".
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