O nosso município, que se encontra na área da Amazônia Legal, originou-se e se desenvolveu em torno da exploração da madeira. Atualmente, porém, por força das pressões internacionais, até certo ponto pertinentes, encontra-se totalmente imobilizado. A pujança econômica, o vigoroso crescimento anteriormente em curso arrefeceu. O comércio local, antes em franca ascensão, estagnou completamente. Todos os dias, desde o início da crise, nos despedimos de um amigo, que parte em direção a outro lugar, deixando para trás os sonhos e as esperanças que o trouxeram até aqui. Os que ficam - porque não tem recursos financeiros para sair daqui, permanecem desesperançosos. Por outro lado, a criminalidade cresceu. Migrantes que não podem retornar ao seu estado de origem, em situação de miserabilidade total, pilham a cidade, instalando um clima de pânico total. Por todo o lado, a situação é profundamente desoladora. Muito se fala sobre a preservação da Amazônia, mas nada se fala sobre essas pessoas que, encorajadas a desbravar o Mato Grosso em épocas passadas, venderam tudo que possuíam e rumaram para cá, submetendo-se a toda sorte de dificuldade, para, repentinamente, serem surpreendidos com a notícia de que 80% de suas propriedades deveria ser preservado, o que inviabilizou completamente suas atividades, caracterizando verdadeira DESAPROPRIAÇÃO, sem a correspondente e justa indenização. Estas pessoas que, em outros tempos eram chamadas de desbravadores, passaram , de uma hora a outra, a desmatadores. É importante que se preserve o meio ambiente. Contudo é igualmente importante que se considere o que está acontecendo por aqui. Outrossim, considerando que o meio ambiente é um bem difuso, pertencente a todos, coletivamente, entendo que justo seria que TODOS contribuíssem indistintamente para sua preservação, não apenas alguns, como se tem pretendido. Na França, por exemplo, existe uma tarifa, cobrada nas passagens aéreas que partem daquele país, que incluem uma taxa para aplicação no meio ambiente. Este é um exemplo de como todos podem contribuir para a manutenção do meio ambiente. Por isso é importante a atuação imparcial do jornalismo, que não pode estacionar no lugar comum - que, aliás, não é lugar para aqueles seriamente comprometidos com a informação -, limitando-se a repetir a mesma cantilena, sem, contudo preocupar-se em mostrar o outro lado da questão, tampouco os efeitos nefastos de uma informação parcial. Políticos de todos os gêneros e partidos evitam defraudar a bandeira de defesa de municípios como o de Feliz Natal, para não comprometerem seu futuro político, associando sua imagem com a do desmatamento. No final, ficamos nós, aqui, esquecidos e indefesos, como alvo fácil de toda sorte de achaques. É preciso defender a natureza, mas, friso, é igualmente necessário se preocupar com as pessoas que existem por trás de toda essa situação. Aqueles que querem de fato defender a Amazônia, que saiam da comodidade de seus lares nos grandes centros, abdicando de todo conforto que os cerca, e que venham para cá, passar ao nosso lado as vicissitudes existentes em cidades do interior, nas quais um bom pão francês, é lenda como a do saci pererê. Que venham, senão pelo amor ao próximo, pelo amor às árvores, construir soluções econômicas viáveis para toda essa comunidade de desempregados e abandonados pela sorte. Por isso escrevo, para que este jornal possa divulgar as agruras por que temos passado e monte uma série de reportagens com o objetivo de oferecer soluções viáveis para que cidades como a nossa possam retomar o rumo do crescimento que outrora seguiam. Uma idéia seria abordar a possibilidade da venda dos créditos de carbono e de que forma isto poderia ser viabilizado, de modo que a floresta possa valer mais ''de pé'' do que ''deitada''. Era o que eu gostaria de sugerir e espero, sinceramente, que vocês possam levar adiante essa mensagem. Bruna Baungart.