Imprimir

Notícias / Política BR

Venda de casa deve dominar sessão da CPI para ouvir governador de GO

G1

A venda da casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), deve ser o foco das perguntas de parlamentares durante o depoimento de Perillo na CPI que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários. A sessão que ouvirá o governador tucano está marcada para a manhã desta terça-feira (12).

Há quatro versões distintas sobre a venda do imóvel, no qual Cachoeira estava quando foi preso pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal - confira abaixo.

Reportagem do jornal "O Globo" publicada nesta segunda-feira (11) mostra gravação da Polícia Federal de uma ligação telefônica entre Cachoeira e o ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez, apontado pela PF como um dos principais auxiliares do bicheiro e o principal elo de Cachoeira com o governo de Goiás. Segundo "O Globo", Cachoeira participou da venda da casa e chegou a ordenar que o dinheiro fosse levado para o governador no palácio do governo.

Nos diálogos, Garcez diz que irá se encontrar com o presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, para tratar da venda. Em nota nesta segunda, Perillo negou ter recebido em dinheiro e a intermediação de Rincón.

Parlamentares da base governista já indicaram que vão centralizar as perguntas para a venda da casa. A oposição no Congresso, aliada do governador Perillo, acredita que ele conseguirá esclarecer as circunstâncias da venda do imóvel.

Matheus Mella, delegado da PF que coordenou a Operação Monte Carlo
- Disse que a casa foi comprada pelo sobrinho de Carlinhos Cachoeira e que o governador Marconi Perillo recebeu R$ 1,4 milhão em três cheque.

Em depoimento à CPI no dia 10 de maio, o delegado disse, de acordo com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que as investigações da PF apontam que a casa, localizada em condomínio de Goiânia, foi paga com cheques que somavam R$ 1,4 milhão, com folhas em nome de Leonardo de Almeida Ramos, sobrinho do contraventor.

"Foram três cheques do sobrinho do Cachoeira. O sobrinho do Carlinhos Cachoeira se chama Leonardo de Almeida Ramos. Foram três cheques. Um cheque de R$ 400 [mil], outro de R$ 600 [mil] e outro de R$ 400 [mil] pela venda do imóvel", disse o deputado.

Veja as diferentes versões sobre a venda da casa de Perillo.

Marconi Perillo, governador de Goiás
- Disse que quem intermediou a venda foi Wladimir Garcez, mas a escritura saiu em nome de Walter Paulo. Afirmou que recebeu R$ 1,4 milhão em três cheques que estavam em nome de Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste.

No mesmo dia do depoimento do delegado à CPI, Perillo afirmou, em nota, que a venda no valor de R$ 1,4 milhão ocorreu dentro da lei e que foi declarada no Imposto de Renda.

A nota afirmou que a venda foi intermediada por Wladimir Garcez, que teria se apresentado inicialmente como o comprador do imóvel. Na escrituração, porém, foi informado o nome de outra pessoa, Walter Paulo Santiago.

"Ele [Perillo] recebeu os cheques, depositou-os nas datas combinadas e só escriturou o imóvel após compensação de todos os cheques . O governador não observou o nome do emitente pois a casa só seria escriturada após a devida quitação. Ele não sabia nem sabe quem é esta pessoa citada", disse a nota divulgada pelo gabinete de imprensa.

Wladimir Garcez, ex-vereador de Goiânia apontado como braço-direito de Cachoeira
- Disse que comprou a casa para si e que pediu dinheiro emprestado a Cachoeira e Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta. Que Abreu era dono dos cheques. Depois, teria verificado não ter condições de pagar a dívida e que revendeu o imóvel a Walter Paulo Santiago.

Em depoimento à CPI no dia 24 de maio, Wladimir Garcez disse que comprou a casa para si e depois revendeu a Walter Paulo. "O governador disse que estava vendendo a sua casa. Me interessei pelo negócio, mas não tinha dinheiro para isso. Ele me ofereceu por R$ 1,4 milhões."

Garcez afirmou que ficou com medo de perder o negócio, então pediu que o Claudio Abreu e o Carlinhos lhe emprestassem o dinheiro. "Cláudio emprestou os cheques." Segundo ele, os cheques eram nominais, em nome do governador. Depois, ele teria vendido o imóvel a Walter Paulo Santiago.

Walter Paulo Santiago, empresário que teria comprado a casa de Perillo
- Afirmou que comprou a casa e que pagou em dinheiro para Lúcio Fiúza, ex-assessor do Perillo, e para Wladimir Garcez. Afirmou que, depois de comprar, emprestou a casa a Garcez, que, por sua vez, emprestou a uma amiga, Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira.

O empresário Walter Paulo Santiago disse à CPI do Cachoeira no d5 de junho que o pagamento pela casa que pertencia ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), foi feito em dinheiro e entregue a Lúcio Fiúza, ex-assessor do governador Perillo e ao ex-vereador Wladimir Garcez. A casa, segundo o empresário, custou R$ 1,4 milhão.

"Não paguei com cheque. Paguei com notas de R$ 50 e R$ 100. Entreguei o dinheiro ao senhor Wladimir Garcez e ao senhor Fiúza. Às duas pessoas", disse o empresário.

Segundo Walter Paulo Santiago, embora ele tenha comprado a casa, a deixou sob responsabilidade de Wladmir Garcez até o final de 2011. "Ele pediu a casa para emprestar para uma amiga. Eu nunca vi essa pessoa", disse o empresário.

Primeiro, Santiago destacou que uma "senhora" ocupou a residência durante o período em que ela esteve sob a responsabilidade de Garcez. Depois, perguntado pelos parlamentares, confirmou que era Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira.

Governador nega contradições
Depois do depoimento de Walter Paulo, a assessoria de imprensa do governador de Goiás disse que o pagamento em dinheiro feito por Walter Paulo não chegou a Perillo.

O governador teria recebido os cheques, que foram repassados por Wladimir Garcez. Ainda segundo a assessoria, os cheques seriam do ex-diretor da Delta Cláudio Abreu, e, nas datas combinadas, Perillo apenas depositou os cheques, sem se preocupar em saber de quem eram.

Na semana passada, o governador de Goiás divulgou novos trechos de gravações de conversas telefônicas sobre a venda da casa dele. Numa gravação da Polícia Federal, divulgada pelo Jornal Nacional, Carlinhos Cachoeira menciona o nome de Lúcio Fiúza, ex-secretário especial do governo de Goiás que pediu demissão na semana passada. Segundo Perillo, o nome foi usado indevidamente pelo contraventor.

Nesta segunda, Perillo voltou a afirmar por meio de nota que não recebeu dinheiro por meio de Fiúza ou Jayme Rincón.

Ainda de acordo com a nota, “Jayme Rincón disse que se tivesse participado da venda da casa do governador não teria a menor dificuldade em confirmar isso, pois foi uma operação de um bem particular do governador, feita de forma transparente”.

"Só alguém desconectado dos fatos ou com clara intenção de não querer entender a operação pode levantar alguma dúvida sobre essa transação. Jayme Rincón nunca tratou da venda do imóvel com Wladmir Garcez ou com qualquer outra pessoa. Todas as afirmações do governador à imprensa e os depoimentos de Wladimir e Walter Paulo à CPMI deixam claro que não houve nenhuma participação dele na venda do imóvel”.

Quebra de sigilo
Após contradições nos depoimentos, o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), defendeu a quebra do sigilo do governador, que pode ser votada pela comissão nesta semana.

"O depoimento [do empresário] contradiz o governador. Alguém está mentindo, ou o governador recebeu duas vezes. Vamos perseguir a verdade. A tarefa é dura. Esta contradição amplia a necessidade de que o sigilo do governador seja quebrado", afirmou o relator da CPI.

Vice-presidente da CPI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), afirmou que abordará a divergência sobre o pagamento pela casa. Para Teixeira, Cachoeira, Perillo e Walter Santiago “são entes muito conectados”. “São muitas versões diferentes. Eu creio que tantas são as versões que tem uma nuvem muito forte em torno dessa casa. O que deixou claro é que houve um negócio montado. Feito a posteriori”, afirmou.

De acordo com o deputado, o depoimento de Santiago demonstra a possibilidade de terem sido efetuados dois pagamentos pela casa de Perillo, totalizando R$ 2,8 milhões. “Ficou claro que ele entregou 1,4 milhão para o senhor Fiúza e tem um outro pagamento feito com três cheques na conta do governador Perillo. Há por esse imóvel dois pagamentos”, afirmou.
Imprimir