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Ex-presidente iraniano entra na campanha em apoio a rival de Ahmadinejad

Folha Online

No terceiro dia oficial de campanha no país, milhares de rosas vermelhas e de lírios verdes receberam neste sábado o ex-presidente reformista iraniano Mohamad Khatami em um grande comício em Teerã, no qual ele entrou na campanha para apoiar a candidatura à Presidência do ex-primeiro-ministro Mir Hussein Mousavi contra a tentativa de reeleição do conservador Mahmoud Ahmadinejad.

Com a mesma força que tinha há mais de uma década, Khatami reuniu cerca de dez mil fervorosos eleitores, em sua maioria jovens, no ginásio esportivo Azadi, na parte sul da capital iraniana.

"Vim aqui por Khatami. E votarei em Mousavi porque está com Khatami", disse Negare, uma jovem de 23 anos que estava acompanhada por sua mãe e suas irmãs. Vestida de preto dos pés à cabeça, Negare resumia o sentimento de uma multidão. "Não queremos que Ahmadinejad se reeleja. Não quero nem pensar nisso."

Algumas fileiras depois, acompanhada de um grupo de amigas da universidade, Malika garantia que os iranianos "precisam de Mousavi. Precisamos de reformas, de libertar o Irã, e precisamos disso agora".

Embora mantenha um enorme prestígio entre os jovens, Khatami também sofre forte rejeição entre os que se sentiram frustrados pelo fracasso de seu programa de reformas. O ex-presidente ameaçou concorrer nas eleições de 12 de junho, mas resolveu declarar seu apoio a Mousavi.

Khatami sempre apostou na candidatura do ex-primeiro-ministro. O aparente objetivo da parceria é conquistar o voto reformista jovem e o conservador moderado de meia-idade para derrotar Ahmadinejad. O ex-presidente garante o apoio dos iranianos abaixo dos 30 anos, que ainda parecem manter intacta a esperança que marcou o início de seu mandato.

Já o discurso de Mousavi, mais centrado em atacar a gestão do atual presidente, atrai os eleitores desencantados e cansados das políticas de Ahmadinejad, mas que ao mesmo tempo têm receios em relação aos reformistas.

Tal estratégia combina o respeito aos princípios da Revolução Islâmica --encarnados pelo ex-primeiro-ministro, que governou o país após o movimento (1980-1989)-- e às ânsias de abertura ainda representadas por Khatami. Entretanto, o elemento-chave final para o êxito de Mousavi nas urnas será o índice de participação.

Segundo especialistas, as chances dos rivais de Ahmadinejad passam por uma peregrinação em massa dos iranianos às urnas no próximo dia 12. Por isso, Khatami voltou hoje a pedir a seus compatriotas para que não se deixem vencer pelo pessimismo e que deem seu voto.

Cartazes dos reformistas em Teerã advertem que uma baixa taxa de participação significaria a manutenção do presidente no poder.

Animado pelos milhares de presentes, Khatami fez um discurso recheado de alusões à liberdade, aos direitos civis e à revolução, palavra que repetiu incessantemente.

"As próximas eleições devem ser uma oportunidade para recuperar a dignidade do país", disse o ex-presidente, que voltou a defender os direitos individuais, a liberdade de imprensa e de opinião, e que ressaltou que tudo isso "é compatível com o Islã, porque o Islã é uma religião humana".

Antes de entrar em cena, os telões levaram o público à loucura com imagens que misturavam cenas dos primeiros dias da Revolução, fotografias do aiatolá Khomeini e discursos do próprio Khatami.

Tratou-se de uma montagem bem cuidada na qual também apareceram discursos do ex-presidente e de Mousavi-- e que pareceu ter provocado o efeito desejado.

"É a dupla que vai fazer todos os iranianos felizes", dizia com uma inocência quase infantil Farshaneh, uma jovem de apenas 18 anos que não parava de erguer, como uma bandeira, o ramo de lírios verdes que segurava nas mãos.

Economia

São três os adversários de Ahmadinejad na eleição. Além de Mousavi, o também moderado Mahdi Karroubi tem prometido mudanças, enquanto o conservador Mohsen Rezaei, ex-chefe dos Guardiães da Revolução, o exército ideológico do regime dos aiatolás, jurou que vai "salvar" a economia do Irã, abalada pela brusca queda do preço do petróleo desde setembro do ano passado.

Neste sábado, Ahmadinejad rebateu críticas sobre sua capacidade de conduzir a economia do país. Ele disse que o Irã está tendo crescimento entre e 5% e 6%, apesar da desaceleração global.

Os rivais acusam-no de ter esbanjar as receitas quando os preços do petróleo estavam altos, alimentando a inflação e deixando o país vulnerável quando os preços do petróleo, produto central na economia do país, começaram a cair no ano passado.

Analistas dizem alta inflação e outras questões econômicas do dia a dia podem ser o tema-chave da campanha eleitoral, com capacidade de se sobreporem à da disputa nuclear com o Ocidente.

"Nós acreditamos profundamente que a situação econômica do Irã nestes dias é estável," disse Ahmadinejad em uma entrevista à imprensa iraniana transmitida ao vivo pela TV do país.

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