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Carniceiro e brincalhão, Schiavi é alma do Boca na decisão da Liberta

Globo Esporte

Em treino num pedaço mínimo de gramado, Schiavi perde a bola para Mouche e não tenta recuperar. Opta por uma solução mais fácil. Agarra o companheiro por trás, dá-lhe um safanão na orelha e o joga no chão. Em seguida, caído, leva o troco. Uma bolada do atacante que o faz gritar e rolar desesperadamente de dor. Pura encenação.

Não contente, o zagueiro nota que toda comissão técnica está sentada no banco de reservas e começa a chutar bolas com toda sua força (que não é pouca) em direção aos senhores, que se esquivam. Tudo isso em meio a gargalhadas. Schiavi é uma das figuras mais interessantes do Boca Juniors, finalista da Libertadores contra o Corinthians.

Como se não bastasse, ele, que não se destaca pela leveza em campo, ainda pode ser chamado de carniceiro sem reclamar. Em sua adolescência, Schiavi trabalhou no açougue do pai em Lincoln, quase um povoado da província de Buenos Aires. Sua tarefa não era das mais agradáveis: receber os animais, tirar a gordura, a pele e separar as carnes. Quase tão delicado quanto é dentro de campo com os adversários.

Se as divididas com os atacantes deixam marcas na perna, nenhuma se compara à cicatriz de seis centímetros que possui na mão esquerda. Herança de uma manhã em que trabalhava com a faca após ter passado a noite acordado na balada. Schiavi só agradece pelo fato de o instrumento de trabalho naquele dia não ter sido a serra elétrica.

Aos 39 anos, o veterano zagueiro faz a alegria de quem está em volta. Espirituoso, sempre sorridente, com um semblante até irresponsável. Depois de já ter passado por tanta coisa na vida, não tem o menor medo de Emerson, Danilo, Jorge Henrique, Alex e companhia, por melhores que sejam os adversários na final da Libertadores.

Quando garoto, além de tirar a pele dos animais, Schiavi era repreendido pelos pais por bater na mãe e pegava um ônibus lotado de Lincoln até a Bombonera para torcer pelo Boca no meio da “Doce”, a torcida mais empolgada e temida do clube. Torcida que hoje grita seu nome.

As histórias do zagueirão também são excêntricas no que dizem respeito aos relacionamentos. Em 2009, um jornalista inventou que ele estava tendo um romance com ninguém menos do que a atriz de Hollywood Sandra Bullock. Os dois desmentiram e, posteriormente, o próprio repórter admitiu ter inventado o romance. E no último domingo, surgiu em um jornal da Argentina um folheto que teria sido colado por um rapaz, na zona portenha de Saavedra, em Buenos Aires, acusando a namorada de trai-lo com Schiavi.

Uma notícia que pode abalar seu casamento com Jimena del Río, antiga rainha dos carnavais argentinos, que já brilhou até mesmo no Brasil. Em meio a acusações de traição, lembranças do passado e a preparação para a final da Libertadores, Schiavi ainda precisa pensar no futuro. Seu contrato com o Boca terminaria no último sábado, mas uma prorrogação foi feita para que ele pudesse enfrentar o Corinthians. Ele fez questão de deixar claro que não renovou.

- Só assinei a prorrogação. A única coisa em que penso é ganhar na quarta-feira, e agradeço todo o apoio que tenho recebido - afirmou.

Em 2012, talvez se preparando para o que fará depois que pendurar as chuteiras, Schiavi já participou de cursos de técnico com Carlos Bilardo e até mesmo uma aula de finanças ao lado de seu agente. Mas nada disso agora importa. O açougue, os romances ou se imaginar de terno e gravata. O mais velho jogador do Boca Juniors só pensa em colocar mais uma medalha da Libertadores em sua sala de troféus. Ele ganhou em 2009, pelo Estudiantes, e em 2003, pelo próprio Boca. Ambas contra times brasileiros: Cruzeiro e Santos, respectivamente.
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