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GO: Perillo diz que relator da CPI do Cachoeira quer atingi-lo

Terra

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), comentou nesta terça-feira sobre a possibilidade de ser indiciado pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira no Congresso, Odair Cunha (PT), em sua conclusão da investigação parlamentar. O relator teria antecipado a membros da comissão, ontem, a intenção de indiciar o governador.

Para Marconi Perillo, no entanto, isso deixa claro que a investigação é política. Durante entrevista coletiva hoje no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, após solenidade administrativa, o governador disse que na ação do relator há em curso uma manobra de desvio da atenção da opinião pública ante a proximidade do julgamento dos réus do escândalo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).

"É importante dizer que este é um indiciamento pífio, não tem validade nenhuma. O valor é político. É só para tentar, de alguma maneira, mitigar a questão do mensalão", disse. "Estão tentando acobertar o problema do mensalão, que vai pegar fogo a partir de agosto. E aí ficam tentando algum tipo de espuma, de fumaça, para acobertar um problema, que esse sim é grave", garante.

Para o governador, está mais do que claro que a intenção de "alguns parlamentares do PT, teleguiados," é de criar algum tipo de embaraço político para ele. "Isso tudo é uma grande palhaçada, uma grande desculpa que alguns setores da política nacional têm encontrado para justificar erros que eles próprios cometeram", avaliou.

Marconi Perillo assegurou também que está tranquilo, já que cabe ao Superior Tribunal de Justiça fazer a investigação sobre a hipótese de seu envolvimento, que ele próprio solicitou. "E esta investigação será feita de forma isenta e não da forma parcial como querem alguns membros da CPI. E caberá, em última análise, à Assembléia Legislativa de Goiás avaliar qualquer questão relacionada a qualquer eventual irregularidade neste procedimento todo", afirmou o tucano.

Marconi Perillo disse que vai entrar com um pedido via PSDB para alegar suspeição do relator Odair Cunha e do vice-presidente da CPI por eles estarem omitindo juízo de valor e "querendo transformar a CPI em um verdadeiro tribunal de exceção". "Isso não pode mais existir no Brasil. Cabe ao Judiciário fazer investigações e chegar a suas conclusões isentas, pautadas na legalidade e no âmbito do direito de defesa", colocou.

O governador goiano disse que é preciso que a CPI investigue a Delta no País inteiro, já que a empresa soma mais de R$ 4 bilhões de contratos praticamente em todos os Estados. "O absurdo é tentarem direcionar um problema onde ele não existe. Se tivesse qualquer problema relacionado a Delta aqui em Goiás, isso já teria aparecido há muito tempo. Não tem. E é por isso que eu não perco um minuto de sono em relação a estas bobagens todas que são ditas, estas maldades todas", assegurou.

Segundo Perillo, há uma tentativa também de se apressar a conclusão do relatório, por causa do receio "de que outras pessoas sejam convocadas pela CPI ou que outros fatos surjam envolvendo pessoas graúdas na política nacional. O governador voltou a reafirmar que não há nada de ilegal nos contratos e licitações firmados pelo governo.


Nova denúncia
Perillo mencionou ainda a reportagem da revista Época que cita pagamentos do Estado liberados para a Delta em troca de remuneração ao governador. "Saiu em uma revista nacional que nós pagamos três mensalidades para a Delta relativo a um contrato de prestação de serviços. Não pagamos três não. Nós pagamos 13 no ano passado. O problema nosso aqui é que nós estamos pagando tudo em dia", disse, citando contrato de locação de carros firmado com a empresa.

"Prestou serviço tem que receber. A Agetop (Agência Goiana de Transporte e Obras Públicas) por exemplo, gasta três dias para pagar uma fatura. Não precisa político pedir. Não tem rolo, não tem propina, não tem direcionamento. A pessoa apresenta sua fatura por ordem cronológica e recebe", explicou.

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
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