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Notícias / Jogos Olímpicos 2012

Polêmicas, apagões e choros marcam trajetória da Seleção de basquete

Terra

Enquanto o basquete masculino do Brasil mostra dar sinais de recuperação após 16 anos longe dos Jogos Olímpicos, a Seleção feminina parece que ainda está a passos bem distantes de voltar a chegar a um lugar no pódio como se viu em Atlanta 1996 e Sydney 2000.

Eliminado por antecipação da fase final, o time acumula até o momento quatro derrotas e traz consigo uma trajetória da saída ao Brasil até a chegada a Londres que inclui polêmicas, apatia em muitos momentos da Olimpíada e muito choro por conta dos resultados pouco expressivos ao longo da competição.

Depois de fazer uma bela campanha na Copa América e garantir uma vaga na Olimpíada no ano passado, o time já deu uma escorregada ao longo dos Jogos Pan-Americanos e acabou com o bronze, após um apagão na semifinal contra Porto Rico.

Hortência

Muito chateada com a vacilada da equipe em Guadalajara, a diretora de Seleções femininas da Confederação Brasileira de basquete, Hortência, decidiu que era hora de mandar embora o treinador Ênio Vecchi e trazer Luiz Cláudio Tarallo, mais acostumado a trabalhar com jovens para o seu lugar. Segundo a dirigente, o foco era pensar na Olimpíada de 2016.

Após turbulências e críticas públicas de Ênio, o time viu a poeira diminuir e o assunto foi esquecido já meses antes dos Jogos Olímpicos. Veio a convocação olímpica e com ela a presença da principal estrela do basquete brasileiro na atualidade: a ala Iziane.

A jogadora teria recusado atuar na WNBA para defender o Brasil nos Jogos Olímpicos. Após uma série de amistosos no Brasil, o time toma o primeiro grande baque ao enfrentar os Estados Unidos em Washington e sofrer uma derrota contundente por 99 a 67.

A equipe viaja para mais uma série de amistosos na França e lá tem a segunda grande polêmica de sua trajetória rumo a Londres. Iziane acaba cortada da equipe por levar seu namorado ao hotel onde a equipe estava concentrada para jogos contra Austrália, França e China.

A jogadora ainda tenta se desculpar, chora diante de todas, pede perdão, mas a CBB e Hortência mantêm a postura de mandar a atleta de volta para o Brasil, chegando à capital inglesa com uma jogadora a menos já que não se podia mais trocar a ala por outra atleta.

Bombardeio

A chegada a Londres que poderia ser marcada apenas por expectativas girou em torno do tema Iziane. Os jornalistas que cobriram o desembarque bombardearam Hortência e o grupo sobre a saída da principal jogadora da equipe.
 
"Blindadas", as atletas ficavam sem graça em falar sobre o assunto e jogavam a responsabilidade nas mãos da medalhista de prata com o Brasil em Atlanta. Hortência afirmou que a tática foi adotada por ela e que perguntassem somente para ela sobre Iziane.

"Esse assunto já está totalmente falado, não vou falar sobre isso. A confederação fez essa regra. Tem a hora certa para se fazer isso: o período de folga. Isso foi falado várias vezes para as atletas. Isso é regra do atleta de convivência em equipe, desde a minha época é assim. Não tem muito segredo", afirmou Hortência na época. A dirigente tentava amenizar a questão para focar nos Jogos Olímpicos.

"Ela estava se encaixando, estava treinando bastante. Teve um problema de indisciplina, só isso. A gente não fala mais desse assunto, porque além de já ter passado, a importância dessa Olimpíada e o sonho tem que ser muito maior que qualquer outro problema que possa acontecer ou já aconteceu. O foco é a Olimpíada. Esse é o nosso potencial e a coisa mais forte que a gente tem. Um basquete alegre, descontraído, forte e firme".

Apagão

Mesmo sem Iziane, o basquete alegre, descontraído, forte e firme destacado por Hortência no dia do desembarque entrou em quadra nos primeiros quartos da estreia contra a França. Mas o apagão, semelhante ao que se viu nas semifinais do Pan, voltou a aparecer justamente nos últimos 15 minutos do duelo e a equipe acabou derrotada por 73 a 58.

Veio a Rússia e novamente erros no fim custaram mais uma derrota, dessa vez 69 a 59. O time via sua situação complicando dentro dos Jogos Olímpicos. Uma vaga entre os três primeiros para evitar os Estados Unidos passou a ser o alvo principal do time.

Mas contra a Austrália, mais uma decepção. Dessa vez o apagão foi diferente, ao invés de ser no fim, aconteceu no começo da partida. Depois de passar os dois primeiros quartos atrás, o time dirigido por Tarallo igualou a partida no terceiro quarto, mas não teve forças para se manter parelho às vice-campeãs olímpicas e perdeu por 67 a 61.

Choro

Com mais um tropeço, começou a vir junto às lágrimas. Parecendo entregar os pontos, as armadoras Joice e Adrianinha não conseguiram conter a decepção. "Eu amo tudo que eu faço, eu amo de verdade. Se eu soubesse (o que está errado), a gente estava sendo campeão de todos os jogos. Não sei o que falta. Garra, vontade, fé. Temos tudo isso. Até vibração, que se não tinha no passado, tem até demais eu acho. É complicado", afirmou Joice, muito emocionada.

Praticamente sem chances de evitar um confronto direto com os Estados Unidos nas quartas de final se passasse de fase, Tarallo já não queria mais pensar na fase final.
 
"Tentamos o primeiro lugar não deu, o segundo não deu. A vaga que tiver a gente está pegando", afirmou o treinador. Veio então o duelo mais decisivo do Brasil na Olimpíada diante do Canadá, adversário direto na última vaga da chave. Com as canadenses, veio o derradeiro "apagão" do time.

Apática, a Seleção teve atuação pífia nos primeiros dois quartos, deixando transparecer que já tinha "jogado a toalha". Depois do intervalo, veio uma reação surpreendente.

O Brasil fez marcação sob pressão em quadra inteira, encurtou os espaços das rivais e conseguiu o que era praticamente impossível para o grupo desanimado do começo da partida: virar o jogo e tirar uma desvantagem de 14 pontos. A "blitz" brasileira, porém, cansou a equipe que não teve forças para segurar o ritmo até o final, algo semelhante ao que aconteceu com a Austrália. Mais um tropeço (79 a 73) e a eliminação.

Hortência, que passou todos os jogos na arquibancada, saiu sem manifestar sobre a campanha. A maioria das jogadoras também não fala à imprensa. Cabe novamente a Adrianinha e Joice sofrerem e chorarem muito diante das câmeras. A primeira tem um motivo extra para as lágrimas: essa foi sua última participação olímpica.

Erros

Se as duas davam explicações emocionadas, a pivô Clarissa deu a visão racional dos erros do Brasil ao longo da competição.

"Faltou mais o tesão pelo jogo, que os técnicos falam. Faltou acreditar e ir buscar. Não só ficar no 'eu acredito'. A gente pecou por entrar alguns jogos por isso, de entrar meio apática, meio débil. Foi um time medíocre no início, jogando em um nível mediano, e isso não pode acontecer na Olimpíada".

O Brasil ainda tem jogos na Olimpíada. Enfrenta a Grã-Bretanha, dona da casa, para encerrar de forma honrosa sua participação neste domingo. Ainda não se sabe como esse time vai recolher os cacos deixados em Londres pensando nos Jogos Olímpicos de 2016.

Hortência havia dito antes da estreia que o ciclo não acabava na capital inglesa, e sim, começava focando no Rio de Janeiro daqui a quatro anos. Resta esperar para ver se a dirigente mantém sua palavra ou se novamente vai mudar o treinador e o projeto.
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