Imprimir

Notícias / Jogos Olímpicos 2012

Os Jogos em casa: Brasil tenta repetir evolução de anfitriões recentes

Globo Esporte

A história mostra que sediar os Jogos Olímpicos quase sempre significa alcançar uma boa campanha ao fim da competição. Desde a primeira edição do evento na Era Moderna, em Atenas 1896, apenas cinco países que receberam as disputas terminaram fora dos dez primeiros lugares no quadro de medalhas: Suécia (Estocolmo 1912), Grã-Bretanha (Londres 1948), México (Cidade do México 1968), Canadá (Montreal 1976) e Grécia (Atenas 2004).

Em Londres 2012, a Grã-Bretanha não fugiu à regra e encerrou as disputas na terceira colocação, com 29 ouros e 65 medalhas no total, seu melhor resultado em 100 anos. Os principais responsáveis pela marca foram os esportes individuais, que trouxeram 19 conquistas douradas para os donos da casa. E é justamente no exemplo britânico que o Brasil quer se inspirar para manter a tradição dos anfitriões que atingem desempenhos vitoriosos em Olimpíadas.

A opção britânica em se reforçar nos esportes individuais - que têm maior número de medalhas em disputa - ocorreu imediatamente após a nomeação oficial para receber esta edição das Olimpíadas. A partir de 2005, a Grã-Bretanha passou a apostar nessas modalidades e estima-se que o gasto tenha sido de 264 milhões de libras (aproximadamente R$ 834 milhões). Deu certo. Em 2012, ciclismo e atletismo, por exemplo, foram responsáveis por nove ouros, quase um terço do total de 29.

Apesar de ter investido R$ 1,7 bilhão no ciclo olímpico, mais que o dobro do que os donos da casa, o Brasil não foi tão bem quanto imaginava nos esportes coletivos e encerrou sua participação em 22º lugar geral, com 17 medalhas (três de ouro, cinco de prata e nove de bronze). Desse total, 11 vieram de esportes individuais (cerca de 65% do total): natação (prata e bronze), judô (ouro e três bronzes), ginástica (ouro), boxe (prata e dois bronzes) e pentatlo moderno (bronze), sendo que nestas duas últimas modalidades com alguns atletas que até então não eram o foco principal e, por isso, não receberam os mesmos incentivos financeiros que seus colegas de delegação.

Com tantos exemplos favoráveis aos esportes individuais em 2012, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) já admite mudar o rumo dos investimentos e olhar com atenção para estas modalidades. E a nova estratégia tem uma missão: ver o Brasil entre os dez primeiros colocados nos Jogos do Rio 2016. Para isso, conta com os altos investimentos que normalmente são feitos nos países-sede, que buscam boas apresentações diante de seu próprio público. A tradição de anfitriões com campanhas vitoriosas passou a ganhar força a partir de Seul 1988, quando a Coreia do Sul recebeu as Olimpíadas e alcançou o quarto lugar, sua melhor colocação na história (12 de ouro num total de 33). Depois foi a vez da Espanha, que, com o sexto lugar geral em Barcelona 1992, também conseguiu sua marca mais positiva na competição: foram 13 medalhas de ouro, oito a mais do que havia conquistado em toda a sua história olímpica.

Mesmo os Estados Unidos, com uma performance muito acima da média de seus adversários, experimentou um aumento no número de pódios em Atlanta 1996. Nesse evento, os americanos consolidaram a hegemonia no esporte mundial, com 101 medalhas (44 de ouro). Quatro anos depois, foi a vez de a Austrália registrar sua melhor participação em 44 anos, com o quarto lugar (16 de ouro). A Grécia também viveu esse aumento, ainda que menor, passando de 14 medalhas, obtidas em Sydney 2000, passando para 16 em casa (com seis de ouro que fizeram o país subir duas posições no quadro geral, de 17º para 15º).

Para os Jogos de Pequim 2008, os chineses decidiram investir pesado nas modalidades individuais e seguiram à risca o roteiro de anfitriões com boas campanhas. Com 100 medalhas conquistadas (51 de ouro), sobraram na ponta e tiraram os EUA do topo do esporte mundial pela primeira vez após três Olimpíadas consecutivas (posto que os americanos retomaram neste ano).

Mais do que participar, o objetivo agora é ganhar. E essa constatação fica explícita na declaração ao jornal inglês "The Guardian" do atleta japonês Hiroshi Hoketsu, que participou dos Jogos de Tóquio (1964) e aos 71 anos competiu na prova de adestramento dos Jogos de Londres:

- Naquela época, participar era o mais importante para todos nós (japoneses). Mas agora eu acho que medalhas são muito mais importantes, não só para atletas, mas também até mesmo para a política.
Imprimir