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Brasil ainda está longe do número ideal de transplantes, diz associação

Bem Estar

Apesar do crescimento de 12,7% no número de transplantes de órgãos anunciado nesta quinta-feira (27), o Brasil ainda está longe do número considerado ideal por especialistas na área.

Médicos que trabalham com transplantes consideram um objetivo a ser atingido o número 30 doadores para cada milhão de habitantes – o que, no mundo, apenas a Espanha atinge. No Brasil, foram 12,8 doadores para cada milhão no primeiro semestre de 2012.

“Nós não estabelecemos uma meta escrita, é uma meta consensual”, disse o nefrologista José Medina Pestana, presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). “É o máximo que se alcança. Depois disso, a tendência é até diminuir. Nos EUA, o número é o mesmo há dez anos”, completou.

Na visão do especialista, o Brasil ainda levaria "pelo menos dez anos" para se aproximar dos valores ideais. “O Brasil está crescendo 10% a 15% ao ano. Não se cresce por decreto, é devagar”, afirmou Medina.

Segundo ele, o país faz hoje aproximadamente metade dos transplantes da América Latina e tem números semelhantes aos de países como Chile, Uruguai e Argentina. No panorama mundial, o Brasil fica entre os 20 mais eficazes do mundo em número por milhão de habitantes, ainda segundo o presidente da ABTO – que é uma sociedade médica e sem fins lucrativos.

Estados em queda
Apesar do aumento nacional, quatro estados registraram queda no número de transplantes feitos nos primeiros seis meses do ano, em comparação com 2011: Alagoas, Mato Grosso, Paraíba e Rio Grande do Sul.

Segundo dados do Ministério da Saúde repassados ao G1, a Paraíba teve redução de 61%. Já Alagoas registrou queda de 31% nos transplantes. Mato Grosso fez 17% menos transplantes em comparação com 2011. O Rio Grande do Sul teve redução de 3%.

São Paulo e Ceará registraram leve aumento no número de transplantes – respectivamente 1% e 4%, respectivamente. Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins não realizam transplantes, segundo o Ministério da Saúde, e por isso não constam no quadro ao lado.

Para Medina, variações de até 10%, tanto para mais quanto para menos, devem ser encaradas como normais. Por isso, mesmo com a queda de 3%, a situação do Rio Grande no Sul preocupa menos que a de outros estados que tiveram alta como, por exemplo, a Bahia, que cresceu 60%. Com uma população maior do que a gaúcha, o estado nordestino fez menos de um terço das operações.

Nos estados com maior variação, como a Paraíba, a queda pode ser explicada por detalhes, como, por exemplo, a troca na coordenação no programa de transplantes, aponta Medina. O presidente da ABTO enfatizou que a Paraíba é um estado pequeno – com 3,7 milhões de habitantes – e que alterações de poucos números podem ter grande impacto percentualmente.

Por isso, é mais importante observar dados como a série histórica, e o Brasil tem registrado crescimento ano após ano.

Ao todo, entre janeiro e junho deste ano, foram feitos 12.287 transplantes no Brasil, contra 10.905 no mesmo intervalo de 2011. Entre o primeiro semestre do ano passado e o de 2010, foi registrado um acréscimo de 10% nessas cirurgias.

Segundo o Ministério da Saúde, no ano passado, a pasta considerava os transplantes autólogos (a partir da médula do próprio paciente). Neste ano, o levantamento só considerou o transplante de órgãos de outros pacientes.

Condições
O rim é o órgão que deixa mais pacientes na fila – são 19 mil brasileiros à espera desse transplante. O volume pode ser explicado tanto pela disponibilidade do órgão quanto pela recorrência das doenças que o atingem.

A insuficiência renal pode ser provocada por problemas como a diabetes, a pressão alta e por doenças específicas do rim. “No Brasil, as doenças renais propriamente ditas ainda são a maior causa de transplantes, enquanto nos EUA é a diabetes”, explicou o nefrologista Agenor Stallini Ferraz, coordenador da Central de Transplantes do Estado de São Paulo.

Além da questão da alta incidência dessas doenças, é mais difícil encontrar um rim em bom estado. “Qualquer um que morre pode doar córnea, mas o rim não. Menos de 10% têm o rim aproveitável”, explicou Medina, da ABTO.

O transplante a partir de um cadáver só é feito quando a pessoa morre por algum trauma craniano – como um acidente de trânsito – ou por acidente vascular cerebral (AVC). Não existe uma idade limite, mas o órgão só pode ser doado se estiver comprovadamente em bom estado.

A doação depende da autorização da família. Por isso, quem quiser ser doador, deve avisar os familiares sempre. “Sempre que ela (a família) nega, é porque o indivíduo não falou em vida. Quando ele (o doador) deixa claro que quer doar, é até um conforto para a família”, apontou Medina.
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