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Obesidade infantil pode trazer riscos, alertam especialistas

G1

 Três em cada 10 crianças em idade escolar são obesas. Os dados são do Ministério da Saúde e chamam atenção nesta quinta-feira (11) quando é comemorado o Dia Mundial Contra a Obesidade. A data, véspera do Dia das Crianças, desperta preocupação em pais e até mesmo nos pequenos, que encaram dietas, exercícios e lutam contra a balança desde cedo para fugir do sobrepeso.

De acordo com a psicóloga Anelise Vespasiano de Paiva, a data estimula os pais a fazerem a vontade dos filhos e isso, muitas vezes, inclui presentes ou passeios recheados com guloseimas, o que estimula e faz crescer as estatísticas brasileiras. “O maior problema é que, com a vida moderna, os pais não tem tanto tempo para os filhos e querem compensar essa ausência com presentes e alimentos. O mais comum no Dia das Crianças são passeios que incluem fast-food, comidas calóricas e brinquedos que vem acompanhados de doces”, alerta.

Um exemplo é Michaela Bastos Ribeiro Batista Nogueira, de 9 anos. Além da rotina no colégio, ela encara aulas de natação, academia, abdominais e tenta se conter diante de alimentos gordurosos e dos doces, que naturalmente agradam as crianças.

“Eu faço dieta, mas às vezes como um doce ou outro”, conta a garota, que não pediu nada de presente no Dia das Crianças e vai ganhar uma viagem em família para Fortaleza (CE), onde pretende não sair da dieta. “Acho que não vou comer muito por lá”, diz.

E esse comportamento foi adotado por ela desde os três anos, quando um exame médico apontou colesterol alto. Na época, toda família entrou no ritmo da pequena e passaram a comer menos.

“Nós a levamos no médico e como ela estava com o colesterol alto, começamos a comer menos comidas com gordura, para ajudá-la. Deu certo e hoje já temos um outro ritmo, mas, quem é gordinho enfrenta desafios todos os dias”, comenta Simone Cristina Ribeiro, mãe de Michaela.

A garota conseguiu perder oito quilos com a mudança de hábito no último ano e hoje pesa 46 quilos, mas ainda precisa perder mais, segundo a mãe dela.

“Ela emagreceu, mas ainda não está no peso ideal. Precisa perder mais peso, mas ela se esforça”, comenta.

Além de Michaela, ela tem outra filha, Rebeca, de dois anos, que embora não apresente problemas de saúde, é rechonchuda e já preocupa a mãe. “As duas tem o mesmo estereótipo, certamente a Rebeca também ficará gordinha e terá que fazer dieta quando crescer um pouco mais”, comenta a mãe.
Já Michaela conta que se incomoda em ser gordinha. “Eu não gosto quando vejo minha barriga”, diz. Ela comenta também que no último ano, era vítima de brincadeiras de mau gosto na escola em que estudava. “As crianças mexiam comigo, me dava raiva, mas eu não falava nada, agora já não ligo mais”, diz.

Pesquisa e ação

Diante do cenário de obesidade infantil em todo país, o governo federal lançou um programa de mapeamento de sobrepeso nos municípios. Na região, 30 municípios aderiram à campanha, entre eles Poços de Caldas(MG) e Pouso Alegre (MG) aderiram à ação e desde 2010 foi implantado um programa de alimentação saudável entre as crianças da cidade.

De acordo com a coordenadora da Vigilância em Saúde de Poços de Caldas, Yula Merola, responsável pela pesquisa na cidade, foi feita uma avaliação da incidência de obesidade e sobrepeso em crianças e adolescentes de cinco a 15 anos nas escolas públicas e privadas do município. "Fizemos a pesquisa por meio de amostragem mais de mil alunos nessa faixa etária foram entrevistados e pesados, tendo o Índice de Massa Corpórea (IMC) medido. Ao todo, 44 escolas das redes pública e particular participaram do levantamento", explica.

Durante as entrevistas os estudantes responderam perguntas como a série, a idade e os hábitos alimentares como comer na frente do computador, da TV ou sentados à mesa, com a família. Outras perguntas como quais as atividades físicas que fazem, o que costumam comer, se fazem as três refeições do dia, entre outras também foram feitas.

O resultado mostrou que entre as crianças de seis a nove anos, 19% estão com risco de sobrepeso. Já entre as crianças e adolescentes com idades entre 10 e 14 anos, 20% já estão acima do peso.
Diante dos dados, nas escolas públicas, foi feito um plano nutricional, no entanto, nem sempre isso parece suficiente para equilibrar o peso das crianças.

O resultado da pesquisa aponta também que o maior problema pode estar em casa, onde crianças e adolescentes consomem produtos industrializados, sem falar nas guloseimas.

“Em casa, sou eu que faço supermercado e não compro as besteirinhas, como doces, bolachas, etc, mas como elas vão muito à casa dos avôs, acabam comendo coisas que eles dão”, comenta Simone.

Após a pesquisa, as crianças que apresentam, de fato, obesidade ou sobrepeso, são encaminhadas a tratamento no Programa de Saúde da Família (PSF).

Tratamento

O professor de educação física, Leonardo Rodrigues de Souza acredita que a obesidade infantil está ligada ao estilo de vida, que pode ser adaptado para beneficiar os pequenos. De acordo com ele, as crianças com sobrepeso tendem a se tornar sedentárias na vida adulta e é preciso que os pais saibam lidar com isso antecipadamente. “A ideia, para os pais e educadores, é movimentar a criança com brincadeiras. Ginástica é algo que as crianças acha
m chão, então não fazem. O ideal é que elas gastem energia brincando”, incentiva.

Já para a nutricionista Marília Zambon, é importante que a criança aprenda a comer. “Assim como os adultos, os pequenos também precisam de educação alimentar e quanto antes isso começar, mais fácil será para lidar com o problema. O que acontece é que os pais acham bonitinho as crianças gordinhas, mas depois de uma certa idade, a partir dos quatro, cinco anos, já começa a incomodar e a própria criança começa a sofrer com isso”, destaca.

Para ela, a melhor maneira é aliar a boa alimentação com uma rotina de exercícios, mas, sempre envolvendo brincadeiras. “É importante que as crianças gostem das coisas, inclusive das dietas e dos exercícios, então eles devem vir sempre acompanhados de diversão e brincadeiras. Na hora da alimentação, o ideal é que os pais preparem pratos coloridos e gostosos e que a hora de comer seja também um momento divertido, em que a criança se concentre na ação e não o faça diante da TV ou do computador. É possível fazer dieta, se divertir e ter uma vida mais saudável, basta querer”, enfatiza.
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