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Achei! Três anos após ter dado vez a Neymar, Molina é artilheiro na Coreia

Globo Esporte

Molina é colombiano, carismático, faz sucesso entre a ala feminina da torcida do Santos e é lembrado pelos santistas mais jovens como exemplo de garra e bom futebol. Mesmo sem nunca ter conquistado um título pelo clube, o meia, que atuou pelo Peixe entre 2008 e 2009, é reverenciado. Tanto que sua imagem está eternizada no muro do CT Rei Pelé, em pintura realizada para comemorar o centenário do clube. O jogador, de 32 anos, também está na memória dos fãs por gols importantes, boas jogadas e passes precisos. Mas talvez sua maior contribuição para a história do clube tenha passado despercebida.

No dia 7 de março de 2009, aos 14 minutos do segundo tempo da partida entre Santos e Oeste, no Pacaembu, Molina deu lugar a um garoto franzino, de apenas 17 anos, mas que já tinha seu nome gritado nas arquibancadas: Neymar. Começava naquele instante a trajetória profissional do maior ídolo do futebol brasileiro na atualidade. O colombiano se recorda desse momento com carinho. Logo no primeiro toque na bola, o prodígio fez boa jogada e acertou a trave do gol do Oeste. O resto já é história.

Mais de três anos depois da sua saída do Santos, Molina guarda o clube no coração e não sabe especificar o motivo de seu sucesso com os torcedores. Nas palavras, o português praticamente fluente do colombiano mostra que, mesmo distante, ele jamais esqueceu do Brasil. Durante quase uma hora, o meia-atacante falou da nova vida na Coreia do Sul, onde virou artilheiro. Somando os gols por Seoul (29) e Seongnam Ilhwa (35), ele totaliza 64 bolas na rede, mais de um terço dos 156 em toda a carreira. Além disso, ele também falou das dificuldades para se adaptar a uma cultura totalmente desconhecida e, claro, relembrou os tempos no Peixe, clube que ainda deseja voltar a defender.

Trote de Neymar, André e Ganso

Molina chegou ao Santos em 2008, por intermédio da parceria entre o Grupo DIS e o clube, à época amigável (nos últimos anos, houve profundo desgaste entre a empresa e o Peixe, principalmente em função do meia Paulo Henrique Ganso). O colombiano estava no Estrela Vermelha, da Sérvia, e foi oferecido a empresários do grupo investidor, que o contratou para o Santos.

Durante um ano e meio na Vila Belmiro, o colombiano não pegou uma fase fácil. Nas duas temporadas, o Peixe lutou para não cair no Brasileirão e trocou de técnico algumas vezes. No Paulistão de 2009, o time conseguiu chegar à final da competição, mas foi derrotado pelo Corinthians, de Ronaldo. Tudo isso, porém, não significa que a passagem de Molina pelo Santos tenha sido só de lamentações. Com 17 gols em 78 jogos pelo clube, ele foi o segundo maior estrangeiro artilheiro da história, atrás apenas do argentino Etchevarrieta, que marcou 20 vezes na década de 40 (veja abaixo um gol de Molina contra o São Paulo pelo Paulistão de 2009).

Além do carinho da torcida, Molina lembra com saudade do clima no vestiário e das brincadeiras. Em 2009, o colombiano, acompanhado de medalhões como Fabão, Fabiano Eller e Kleber Pereira, entre outros, viu o começo de um trio de meninos da base que dariam o que falar: Neymar, André e Paulo Henrique Ganso. O entrosamento e os trotes com os garotos renderam histórias ao estrangeiro, que acabou servindo de "mentor" dos meninos. Não que isso o livrasse das molecagens.

- Tinha uma ótima amizade e brincava muito com os três. Um dia, eles esperaram o fim de um treinamento, depois que todos já tinham ido embora, e me pegaram. Fiquei brigando uns 20 minutos (risos). O Edinho, filho do Pelé, tinha uma algema e eles me prenderam em uma árvore durante uma hora - lembrou, com bom humor.

O trote não passou impune:

- No dia seguinte, eles sofreram. Juntei meus amigos Kleber Pereira, Fabão e Rodrigo Souto, e prendemos eles. Fizemos de tudo. Tiramos a roupa, jogamos água e amarramos na árvore - disse Molina.

Apelo inusitado do filho pelo Santos

Em julho de 2009, Molina encerrou seu ciclo no Santos sem ganhar títulos, mas com a admiração dos torcedores. À época de sua saída para o Seongnam Ilhwa, o atleta lembra que fez uma pedida salarial muito alta, imaginando que os coreanos não cobririam e, assim, ele permaneceria em Santos. Para sua surpresa, o clube se propôs a bancar o valor, e a saída se tornou inevitável. Ainda assim, ele confessou que a transferência não foi boa financeiramente para o Peixe.

- Não foi um bom negócio para o Santos e nem para o DIS, mas era muito atrativo para mim. Era um bom dinheiro, em um contrato de dois anos e meio. Eu tinha 29 anos e precisava pensar na minha família. A parte financeira pesou, pois não queríamos sair. Estávamos felizes e adaptados no Santos, mas tomamos essa decisão.

Quando chegou ao novo país, logo na primeira semana Molina sofreu com as reclamações do filho Alejandro, que tinha quatro anos. O pequeno cobrou do pai para voltar ao Santos, a ponto de pedir para Molina ligar para o presidente Marcelo Teixeira.

- Ele falava: ‘Liga para o Marcelo que eu quero falar com ele para comprar você de volta e voltarmos para o Brasil’ (risos). Imagina a briga que foi para explicar a um garoto de quatro anos que eu já tinha sido comprado e não tinha mais volta? Foi muito difícil no começo. Hoje ele está muito bem, mas ainda tem carinho pelo Brasil.

O choque cultural e o total desconhecimento com o idioma local fizeram o colombiano ter dúvidas se aguentaria viver na Coreia do Sul. No entanto, conseguiu se adaptar à nova realidade. Ainda assim, até hoje tem dificuldades com a língua. Molina diz que é frustrante depender sempre do tradutor para se comunicar. Às vezes, até se irrita por não conseguir dizer exatamente o que quer aos companheiros.

Depois de atuar entre 2009 e 2010 no Seongnam Ilhwa (foi o artilheiro do Mundial de Clubes de 2010 pela equipe, com três gols), o meia-atacante foi para o Seoul em 2011, onde joga até hoje. No novo clube, já soma 29 bolas na rede. Molina atribui a fase de artilheiro à confiança e tranquilidade que tem para atuar. Além da liberdade que recebe dos treinadores para atacar, ele quase não tem responsabilidade na marcação.

O atleta garante que o futebol sul-coreano não é fácil, pois tem características de muita correria e pressão, mas ele já se acostumou ao estilo. Atualmente, sua equipe lidera a liga nacional da Coreia do Sul com 80 pontos, e ele busca o título inédito. Seu contrato com o Seoul vai até o fim de 2013 e ainda não foram iniciadas conversas para renovação.

Neymar idolatrado

Justamente por ter acompanhado de perto o início da trajetória do jogador brasileiro mais badalado do momento, Molina é alvo de diversas perguntas na Coreia do Sul. Quando todos querem saber um pouco mais sobre Neymar, o colombiano é a fonte de informação.

- Todos falam dele na Coreia. Perguntam muito, porque sabem que vim do Santos. É muito legal ter tido a oportunidade de estar no vestiário e ter feito jogos com ele. Fico muito contente pelo sucesso dele. É um menino de bom coração, humilde e tranquilo. Imagino que até hoje ainda é o mesmo garoto, com aquele tesão de jogar futebol.

Mesmo tão distante, Molina garante que acompanha as notícias do Santos e do futebol brasileiro, pois se sente orgulhoso de ter feito parte da história do clube. A ponto de dizer que estava por dentro de toda a novela envolvendo a saída de Paulo Henrique Ganso para o São Paulo. Depois de ter atuado com o antigo maestro da Vila, ele lamenta e se diz triste pela forma como o atleta deixou o Peixe, mas afirma que a história do craque não se apaga.
Molina na partida do Seoul contra Daniel Alves do Barcelona (Foto: Getty Images)O meia colombiano Molina na partida do Seoul contra o Barcelona de Daniel Alves (Foto: Getty Images)

Admirado por alguns santistas que, por meio das redes sociais, fazem pedidos para seu retorno à Vila Belmiro, Molina diz que nunca foi procurado pelo clube desde que saiu e acha difícil tal contato acontecer. Ainda assim, se coloca à disposição para conversar com o Santos, pois tem o desejo de voltar a defender o time um dia.

- Seria muito legal. Fico contente que nesse tempo a torcida sabe que me entreguei 100% e dei meu melhor. Tenho um carinho especial pela cidade, pelo clube e por tudo o que vivi no Santos, mas não sei o que pode acontecer. Espero algum dia, seja como jogador ou ex-atleta, voltar.

Tempo para o retorno ainda em atividade não faltará, já que Molina pretende atuar por pelo menos mais cinco anos. Ou seja, depende da vontade das duas partes.
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