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Morte de torcedor expõe impotência do país da Copa-2014

Folha Online

Um dia após a maior batalha campal entre torcedores em São Paulo dos últimos dois anos, autoridades e até membros de torcidas organizadas reconheceram que a violência promovida por torcedores em dias de jogos é quase incontrolável, e uma das poucas soluções viáveis para contornar o problema seria a realização de partidas para torcida única.

"Estamos aumentando o efetivo há anos. O problema dessas torcidas organizadas é que elas sentem satisfação em brigar. Reforçamos o policiamento e, mesmo assim, ainda temos problemas", disse o major José Balestiero Filho, subcomandante do 2º Batalhão de Choque da PM, que diz ser pessoalmente favorável à adoção do plano de torcida única.

Ele acrescentou que não houve erro da polícia, uma vez que o efetivo usado na escolta dos ônibus de vascaínos (20 motocicletas e dois carros da polícia) foi o dobro do normal.

O promotor Paulo de Castilho mostrou-se contrário ao remanejamento de um número excessivo de policiais para controle específico de violência relacionada a torcidas de futebol. Ele admitiu que não há um efetivo suficientemente grande para contornar este problema.

"Não podemos desguarnecer a população. Quantos policiais serão necessários para escoltar torcedores que venham de outros Estados? Não tem policial sobrando. A sociedade quer pagar esse preço [de perder segurança em outros locais] para escoltar apenas 500 torcedores de organizadas?", questionou.

Devido à falta de segurança suficiente, o promotor, mais uma vez, fez campanha pela adoção de torcida única em jogos de "alto risco".

As quatro maiores torcidas organizadas do Estado, Mancha Alviverde, Gaviões da Fiel, Independente e Torcida Jovem, afirmam que é impossível manter 100% de controle sobre seus associados e que as brigas, invariavelmente, acontecem.

O confronto de quarta-feira começou às 21h30 na marginal Tietê (zona norte de São Paulo), próximo à ponte das Bandeiras. Um comboio de 15 ônibus da torcida do Vasco, escoltado pela PM, foi abordado por um ônibus com 60 membros da Gaviões da Rua São Jorge, deflagrando a briga.

Barras de ferro, fogos de artifício, pedras, facas e pelo menos duas armas de fogo --uma espingarda calibre 12 e uma pistola-- foram usados no confronto. Parte desse armamento estava no ônibus corintiano e em quatro carros particulares.

A PM informou que até 450 pessoas participaram da briga, mas a Polícia Civil disse ser impossível contabilizar. O tumulto acabou em 15 minutos, com a chegada de mais policiais.

O torcedor Clayton Ferreira de Souza, 27, foi encontrado sem roupas e com ferimentos provocados por pancadas e uma estocada de objeto cortante no rosto. Ele morreu no hospital, e outras oito pessoas e um policial ficaram feridos.

Os ônibus com a torcida do Vasco seguiram para o estádio. Após o jogo, corintianos incendiaram um ônibus vascaíno.

Apenas torcedores do Corinthians foram presos por causa do confronto, pois a PM liberou os vascaínos sem revistar seus ônibus ou apresentá-los à Polícia Civil. Segundo a Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), 32 pessoas foram detidas.

Até a noite de ontem, cinco delas tinham sido indiciadas pelos crimes de formação de quadrilha, rixa com resultado morte e dano ao patrimônio privado. Porém as investigações não haviam terminado e a polícia tinha indícios para prender ao todo 11 homens e um adolescente.

Segundo a delegada Margarette Barreto, não é possível saber se o confronto resultou de uma emboscada preparada por corintianos ou de encontro eventual de torcidas rivais.

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