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Escândalo político e crise econômica abalaram governo Brown

Folha Online

Os problemas políticos enfrentados pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, começaram com denúncias feitas em maio pelo jornal britânico "Daily Telegraph" que ficaram conhecidas como o escândalo dos gastos.

Parlamentares de todos os partidos foram acusados de mau uso de verbas públicas, destinadas aos políticos na forma de verbas extrassalariais e auxílios-moradia.

Os políticos britânicos recebem um salário anual de 63.291 libras (R$ 197.467,92), mais uma ajuda de custo para cobrir despesas de escritório e para manter uma residência adicional, entre outros gastos.

Foram revelados diversos casos de mau uso de verba publica, como o da então ministra das Comunidades, Hazel Blears. No espaço de um ano, ela indicou três propriedades diferentes como sua "segunda residência", usando dinheiro público para mobiliar ou pagar juros sobre a hipoteca dos imóveis.

Depois, Blears vendeu uma das propriedades, lucrando cerca de US$ 68 mil (R$ 132.600,00).

Já a conservadora Cheryl Gillan pediu reembolso do dinheiro usado para comprar comida para seu cachorro.

Após o surgimento das denúncias, muitos parlamentares renunciaram ao cargo. O mais emblemático foi o presidente da Câmara dos Comuns. O trabalhista Michael Martin não foi citado em nenhuma das acusações de uso antiético do auxílio-moradia ou gastos supérfluos. Mas se opôs à liberação das informações sobre gastos e é visto como defensor do atual estado de coisas.

No final do mês de maio, o governo tomou um baque quando a então secretária do Interior, Jacqui Smith, que já era investigada por mau uso do auxílio-moradia, pediu desculpas por ter usado dinheiro público para pagar filmes adultos assistidos com seu marido.

Na última segunda-feira (1º), o ministro das Finanças, Alistair Darling, se desculpou por ter pedido reembolsos para despesas de um apartamento alugado ao mesmo tempo em que tinha as despesas de sua casa oficial pagas.

Dois dias depois, a ministra das Comunidades, Hazel Blears, renunciou ao cargo por causa das denúncias.

Ao mesmo tempo em que lidava com o escândalo de gastos, o primeiro-ministro teve de lidar com a provável saída do governo de três integrantes do governo: a ministra do Interior, Jacqui Smith, o chefe de gabinete, Tom Watson, e a ministra das Famílias, Beverley Hughes, indicaram que poderiam renunciar. Citando Watson, o jornal "Financial Times" descreveu as deserções como tentativas de se abandonar um navio que afunda.

A crise foi aprofundada pela divulgação de um movimento de parlamentares trabalhistas, que preparam um documento pedindo a substituição do líder de seu partido e primeiro-ministro.

Novas baixas no governo aconteceram. Nesta quinta-feira à noite, o então ministro do Trabalho e da Previdência, James Purnell, renunciou. Na carta que entregou ao primeiro-ministro, ele pediu que Brown também deixasse o cargo para salvar o Partido Britânico.

O último a renunciar foi o ministro da Defesa, John Hutton, que alegou "motivos familiares" para deixar o governo nesta sexta-feira.

Com todas as deserções, Brown anunciou uma restruturação de seu gabinete, e afirmou que, apesar das pressões, não irá renunciar. "Se eu não achasse que sou a pessoa correta para liderar essa equipe e enfrentar os nossos difíceis desafios, eu não estaria aqui", disse em entrevista coletiva nesta sexta-feira realizada no número 10 da Downing Street, sede do governo britânico.

Ele manteve no cargo alguns dos principais ministros, como o das Relações Exteriores, David Miliband, e trouxe para mais perto de si Alan Johnson, que agora ocupa o cargo de ministro do Interior, e é apontado como seu possível sucessor.

Apesar de rumores, ele não substituiu Alistair Darling no Ministério das Finanças, o que parece ter aplacado uma revolta dentro de seu partido --pelo menos por enquanto. Mas sua autoridade foi ferida em um momento em que o Reino Unido enfrenta sua mais profunda recessão nos últimos 60 anos, e em que os mercados e o país esperam por um governo forte.

A libra esterlina enfrentou duas semanas de queda frente ao euro antes de recuperar boa parte de seu nível.

Nos últimos 18 meses, os preços dos imóveis despencaram, bancos foram nacionalizados, o desemprego voltou a assombrar a população e a dívida pública e os impostos subiram.

A população deixou de lado as preocupações com a crise econômica apenas para se indignar com o escândalo de mau uso de verbas públicas por parlamentares e integrantes do governo. Por isso, projeções indicam que o Partido Trabalhista amargou um terceiro lugar nas eleições locais realizadas no país nesta quinta-feira, ficando atrás dos conservadores e dos liberais-democratas.

Na entrevista coletiva desta sexta-feira, Brown listou as medidas que pretende tomar para "limpar a política britânica" e para "tirar o país da crise".

Entre outras ações, ele prometeu a criação de três comissões especiais que irão tratar da reforma constitucional e do sistema parlamentar, da política nacional, e das medidas econômicas necessárias para enfrentar a crise.
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