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190: serviço de emergência da PM recebe 5.000 trotes por dia

R7

 “Por falta de comunicação, estou encerrando a ligação”. Esta frase é pronunciada cerca de 5.000 vezes por dia por atendentes do serviço de emergência da Polícia Militar do Rio de Janeiro, o 190. É assim que eles encerram a maior parte dos trotes ou ligações consideradas indevidas, que respondem por 25% do total de atendimentos diários do serviço, que variam de 20 mil a 22 mil na região metropolitana do Rio. Ouça abaixo alguns exemplos de trotes à PM do Rio.

Em um ano, foram registradas 7,4 milhões de ligações ao 190 - média de 20,5 mil por dia, 850 a cada hora e 14 por minuto. As ligações para o 190 são gratuitas e podem ser feitas de qualquer lugar.

Por trás das brincadeiras, informações falsas, paqueras, elogios, denúncias e xingamentos, há quem realmente precise do atendimento da polícia, como feridos e vítimas de acidentes ou crimes, e que, muitas vezes, encontram o telefone ocupado, caindo automaticamente em uma lista de espera, conforme explica a coordenadora do serviço, a coronel da PM Edite Bonfadini.

— Infelizmente, recebemos todo tipo de ligação. Tem gente que liga para saber números de telefones e endereços de hospitais, por exemplo. E também tem gente que liga para bater papo. É preciso ter consciência que se trata de um serviço de emergência. Quem passa trote ocupa um atendente e, muitas vezes, mobiliza policiais e viaturas nas ruas, que deixam de atender a quem realmente precisa.

Com 28 anos de Polícia Militar, a coronel promete punir quem liga para passar trotes ao 190. Segundo Bonfadini, há uma parceira com o Ministério Público Estadual para identificar e acionar judicialmente os responsáveis. Já existe uma lei que prevê pagamento de indenização para quem passa trotes, principalmente para serviços de emergência, mas ainda falta regulamentação.

— Temos identificador de chamadas. Algumas pessoas passam trotes diariamente. Precisamos provar que é trote para que a pessoa responda por falsa comunicação de crime, por exemplo. Por isso, os casos crônicos já estão sendo monitorados. Estamos fazendo um levantamento e vamos encaminhar à Justiça. Já houve um caso concreto, de um senhora que foi presa em Belford Roxo.

Trotes de crianças

Não há estatísticas sobre trotes feitos por crianças, mas a coordenadora do 190 diz que são muitas. Realizados principalmente de telefones públicos, eles aumentam no horário de saída das escolas. Recentemente, uma menina foi baleada em Campinho, ao lado do pai. Ao perceber que a voz era de uma criança, o atendente pensou, de imediato, que se tratava de um trote. Diante da insistência dela, o atendimento foi realizado.

— Há pouco tempo, um menino ligou dizendo que a casa dele estava sendo invadida. Entrei em contato com o pai e mostrei a gravação. O pai pediu desculpas e o filho também. A gente espera que as punições reduzam os trotes.

Em uma sala do 14º andar do prédio da Central do Brasil, onde funciona o serviço, trabalham 150 atendentes, divididos em quatro turnos de seis horas por dia. Contratados de uma empresa terceirizada fazem o atendimento ao público e PMs supervisionam o trabalho, do registro da informação e envio para o batalhão da área até o atendimento na rua. Os horários de pico para os atendentes são das 6h às 8h30; do meio-dia às 14h e de 22h até 1h.

Essa central atende a região metropolitana do Rio. Nas outras regiões do Estado, as ligações para o 190 caem diretamente nos batalhões ou destacamentos da PM.

Tráfico usa o serviço contra a polícia

O crime organizado também faz uso do serviço. Segundo a coronel, quando há operação policial em alguma comunidade dominada por traficantes, a incidência de ligações sobre crimes na região, mas fora da favela, aumenta. Bonfadini diz que o objetivo é mobilizar os policiais, retirando-os da operação.

A quantidade de ligações indevidas é tão grande, que o índice de atendimentos que se transformam em ocorrência, quando policiais nas ruas são mobilizados, varia entre 12% e 15%. Parte dos trotes só se confirma após a mobilização policial.

Perturbação do sossego e do trabalho motiva o maior número de ligações, muitas relacionadas a som em alto volume. Também entram na lista das principais reclamações: lesões corporais, ameaça, rixa, conduta inconveniente, posse e uso de entorpecente, veículo abandonado, batida com vítima e roubo.

No início de 2013, apesar dos trotes e ligações indevidas, a expectativa é de que o atendimento à população melhore. Com a inauguração do Centro Integrado de Comando e Controle, a central de atendimento 190 vai trabalhar ao lado de outras forças, como Defesa Civil Municipal, Guarda Municipal, Corpo de Bombeiros, Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal e CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego).

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