A Igreja Matriz de Cuiabá é um dos maiores templos católicos da capital, onde há centenas de anos é rememorada e celebrada a vida de Cristo. Porém, poucos metros dali, na Praça da República, encontra-se outro “Cristo”, não tão famoso quanto aquele que nasceu há 2009 anos em Belém, e possui milhares de templos pelo mundo, onde é cultuado; mas sim, uma figura emblemática, que apesar de não possuir um teto para se abrigar, é uma unanimidade entre os hippies de todo o Brasil.

Esse outro “Cristo” não vive de pregação. Reaproveitando o que encontra pelo caminho, ele faz sua arte. Pulseiras, colares, brincos são feitos com materiais reaproveitados. Quase tudo que se encontra pode ser “reciclado” e transformado em artesanato. A Praça da República é um ponto de encontro onde ele e outros remanescentes da geração hippie vendem seus adereços.

Natural de Teresópolis, Rio de Janeiro, lugar que segundo ele “tem o dedo de Deus”, Walter Garcia Sá Barreto, o “Cristo”, num domingo ensolarado resolveu, sem saber muito o porquê, largar tudo, colocar a mochila nas costas e encarar o mundo.

Seus olhos, que já não lhe permitem fazer artesanato quando o sol se põe, trazem as desventuras de um homem que roda há cinco décadas o país. Viúvo, pai de oito filhos e sobrevivente de um câncer que chegou a lhe tirar a notável barba, tem na liberdade sua filosofia de vida.

“Cristo” diz que, apesar de não ter lugar fixo para morar, adora Cuiabá e já chegou a viver aqui com sua esposa. Porém não sabe até quando permanecerá na Cidade Verde, seu próximo destino já está escolhido: Santarém (PA). Quando “der na telha” ele se vai.

Provavelmente sua ausência não será notada pelas centenas de pessoas que circulam diariamente na praça. Mais um na multidão, ele segue a vida assistindo o exagerado consumismo e a pressa do centro de Cuiabá. Cercado por lojas, Cristo vive de sua arte e de suas idéias, idéias libertárias como aquelas do Cristo que inspirou a imponente Igreja Matriz, que há poucos metros se faz presente no coração de Cuiabá.