Imprimir

Notícias / Educação

Expulsão por engano no Enem faz filha ir mal nos vestibulares, diz mãe

G1

A Justiça marcou para quinta-feira (20), às 13h, a realização da segunda prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela estudante paulista Jacqueline Meei Yi Chen, de 16 anos. Jacqueline foi expulsa do exame no dia 4 de novembro depois de ser confundida com uma homônima que, segundo o Ministério da Educação, tirou foto do cartão de respostas do Enem no dia anterior e postou nas redes sociais. Para a mãe de Jacqueline, Wu Shang Yi, a remarcação da prova da prova de linguagens e códigos, matemática e redação para esta data é uma derrota, pois coincide com a festa de formatura da estudante no ensino médio e deixa a filha sem condições psicológicas para fazer uma boa prova.

A família ainda tenta mudar a data e entrou com ação contra os organizadores do Enem por danos morais. “Estão fazendo deste caso um descaso. Se eles erraram, a gente está dando uma chance para eles se corrigirem. Agora parece que a gente está correndo atrás deles. Fazer a prova no dia 20 é assinar embaixo que ela vai tirar zero”, diz a mãe.

Em entrevista ao G1, a mãe de Jacqueline conta que o incidente abalou muito a filha e resultou em um mau desempenho dela nos vestibulares da Fuvest/USP e do Mackenzie, onde disputava uma vaga em arquitetura. A lista dos aprovados na segunda fase da Fuvest foi divulgada nesta segunda-feira (17) e o nome de Jacqueline não estava entre os convocados. "Ela ficou abaixo da nota de corte", diz Wu.

Jacqueline também prestou a prova da Universidade Estadual Paulista (Unesp), para o campus de Presidente Prudente --ela passou para a segunda fase-- e a da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que ainda não divulgou o resultado da primeira fase.

VEJA A CRONOLOGIA DO CASO

03/11: No 1º dia do Enem 2012, o MEC anunciou a eliminação de 37 candidatos que haviam publicado em redes sociais fotos do cartão-resposta e da prova. Uma delas foi Jacqueline Tchia Lin Chen.

04/11: No 2º dia, outros 28 candidatos tiveram a eliminação anunciada pela mesma atitude.

08/11: O MEC admitiu que, no dia 4, Jacqueline Meei Jy Chen foi confundida com Jacqueline Tchia Lin Chen e retirada da prova por engano. O ministro Aloizio Mercadante pediu desculpas e ofereceu à menina a chance de refazer a prova.

10/11: O MEC afirma ter enviado um telegrama a Jacqueline confirmando a data da nova prova nos dias 4 e 5 de dezembro, data do Enem aplicado para detentos. Segundo o MEC, a garota não respondeu.

27/11: Jacqueline consegue na Justiça uma liminar que a desobriga de fazer o Enem em 4 e 5 de dezembro. A defesa da garota alegou que a data era próxima de outros vestibulares dela. A data da prova específica para a garota é marcada para os dias 12 e 13 de dezembro.

29/11: O MEC afirma ter enviado um segundo telegrama a Jacqueline sobre a data da prova, também sem resposta.

04 e 05/12: O MEC aplica as provas do Enem para detentos, e Jacqueline não comparece à unidade da Unip em que foi alocada para o exame.

11/12: O TRF da 3ª Região aceita um recurso de agravo de instrumento do MEC, alegando que não teria tempo hábil de elaborar uma prova do Enem para os dias 12 e 13. A desembargadora fixa nova data para o dia 20, quando apenas as provas do segundo dia seriam aplicadas.

12/12: Segundo a assessoria de imprensa do advogado de Jacqueline, a Justiça não informou a defesa dela a tempo e, por isso, a garota chegou ao seu colégio para fazer o Enem, mas não encontrou ninguém.

15/12: A assessoria do advogado Evaristo Araújo confirma que a defesa de Jacqueline pediu no TRF a retificação da data do Enem dela para os dias 18 e 19. Segundo a assessoria, Jacqueline quer refazer os dois dias de prova, e não só o segundo.

“O Enem foi a primeira prova dessa maratona. E aquele incidente mexeu muito com ela. Ela não conseguia fazer nem lição de casa”, explica Wu. “A minha preocupação como mãe foi de não fazer barulho nenhum para que ela achasse que isso que aconteceu não era nada, mas acho que não consegui.”

Jacqueline quer usar as notas do Enem como bônus nas provas do Mackenzie e Unicamp. A mãe diz que a jovem foi bem no primeiro dia do exame do Ministério da Educação, até ser expulsa da sala quando iria começar a prova do segundo dia. Wu foi ao prédio do Mackenzie, onde a jovem fazia a prova, e pediu para que a coordenadora do exame provasse que ela tinha tirado fotos do cartão de respostas.

“A resposta que tive foi: são ordens de Brasília”, diz. Segundo a mãe, a jovem foi muito bem orientada quanto às regras do Enem. “Naquele dia, antes da prova, ela me mandou uma mensagem de celular dizendo que iria desligar para entrar na sala”, afirma.

Três dias depois, o Ministério da Educação reconheceu o erro. Outra estudante com o mesmo prenome e sobrenome (Jacqueline Chen, mas com nomes do meio diferente), também estava inscrita no Enem e teria sido a responsável por tirar a foto, o que é proibido pelo edital.

Ministro ligou
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ligou para a mãe da jovem e garantiu que ela teria outra chance de fazer a prova. “Eu falei ao ministro que mesmo que ela faça uma nova prova ela não terá as mesmas condições. O lado emocional derruba um aluno. Ele me falou da moça que teve um bebê antes da prova e iria fazer novamente o Enem. Mas aquele foi um problema que surgiu a partir dela. Eu respondi: ‘minha filha não fez nada, vocês colocaram o problema para ela’. Como ela vai ficar em condições normais iguais às daquele dia?”

Começava então uma batalha pelas datas. O MEC enviou um telegrama marcando a prova para 5 de dezembro, quando o Enem seria aplicado nas unidades prisionais. Mas a família obteve uma liminar na Justiça, dias antes do telegrama, marcando a prova para o dia 12. O MEC conseguiu um recurso judicial alegando não ter tempo hábil de preparar uma nova prova para este dia e remarcou a prova para o dia 20. Segundo o advogado da família, ninguém foi avisado, Jacqueline apareceu no dia 12, mas não fez a prova. Agora, os advogados da família ainda tentam remarcar a data para não coincidir com a festa de formatura da estudante no ensino médio. A nota de todos os candidatos do Enem deve ser divulgada no dia 28.

Resposta do MEC
O Ministério da Educação afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não compareceu ao colégio por causa da mudança da data e que vai enviar um comunicado oficial à família de Jacqueline informando-a da realização das provas de linguagens, matemática e redação no dia 20, a partir das 13h (horário de Brasília) e com duração de cinco horas e meia.

Na decisão, a desembargadora Consuelo Yoshida afirmou que deferiu o agravo do MEC, que alegou não ter tempo hábil para preparar uma nova prova para o dia 11, que a "decisão agravada deve ser alterada tão somente para se conceder uma dilação maior de prazo para a preparação adequada da prova e demais trâmites" e que o adiamento se trata de uma "solução equânime que atenda os interesses de ambas as partes".

A decisão da desembagadora do TRF-3 acatou dois pedidos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação das provas, incluídos no agravo: o primeiro pedia o adiamento da prova, pois o Inep não teria tempo hábil de preparar uma nova prova específica para a garota, já que as questões não podem se repetir.

O segundo alegava que, como Jacqueline só foi retirada do Enem no segundo dia de provas, em 4 de novembro, não seria necessário reaplicar as provas do dia 3 (ciências humanas e ciências da natureza).

Cobrança da família
O sonho da mãe da jovem é que Jacqueline siga a tradição da família e entre em uma universidade pública. “Damos muito valor à educação. A cobrança é muito grande na nossa parte. Todos na família fizeram faculdade pública.” Wu Shang Yi chegou ao Brasil aos seis anos de idade trazida pelos pais, que nasceram na China e a criaram em Taiwan. Filha de um professor de geologia aposentado da Unesp, Wu se formou em odontologia em outra universidade pública de São Paulo, a Unicamp.

Jacqueline fez a pré-escola em uma escola para a comunidade chinesa de São Paulo, e entrou no ensino fundamental do Colégio Dante Alighieri, um dos mais tradicionais da capital paulista, uma série adiantada. Foi sempre tratada como a mascote da turma. Com talento para a redação, desenvolveu jornais laboratórios na escola, mas acabou optando pelo curso de arquitetura.

“O tanto que eu trabalhei em cima da idade para ela entender que era uma menina diferente das colegas de repente vai acabar. Ela pode fazer um ano de cursinho, mas vai ter momentos de recaída. Não é uma semana a mais, é um ano inteiro. É um tempo muito longo.”

Wu acredita que o futuro do país está na educação. “O maior medo que eu tenho é o de as crianças desacreditarem no país e no sistema. Quero que eles estudem no Brasil, não quero voltar para a China.”
Imprimir