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Gordon Brown admite falhas, pede união e consegue apoio após derrotas históricas

Folha Online

Um dia depois do anúncio de que o Partido Trabalhista do Reino Unido sofreu a maior derrota de sua história na eleição para o parlamento Europeu, o primeiro-ministro do país, Gordon Brown, voltou a mostrar sua capacidade de sobrevivência política ao conseguir que os parlamentares trabalhistas continuassem sob sua liderança, estancando um princípio de rebelião no seu próprio partido.

Brown se reuniu privadamente nesta segunda-feira com os legisladores das duas casas do Parlamento britânico durante quase duas horas para analisar os resultados no pleito europeu, nos quais os trabalhistas ficaram com 15,3% dos votos, o que os transformou na terceira força do Reino Unido, atrás dos conservadores e do antieuropeu Partido da Independência do Reino Unido (Ukip). Os trabalhistas também ficaram em terceiro lugar --atrás do Partido Conservador e do Social Liberal-- nas eleições locais, cuja votação aconteceu simultaneamente à da eleição europeia, na última quinta-feira, o pior resultado do partido em um século.

Embora esses resultados fossem esperados, eles expõem a ferida de um partido que precisará de uma grande reversão da tendência eleitoral para não perder o poder nas próximas eleições gerais e que se divide entre os que pensam que Brown é o problema e os que acham que o primeiro-ministro é a única solução possível.

Segundo os deputados presentes na reunião, Brown fez uma rara admissão de suas falhas e pediu união ao partido para enfrentar esta crise e se comprometeu a aprender com os erros cometidos em sua gestão.

"Tenho as minhas forças e tenho as minhas fraquezas, eu sei que preciso melhorar. Há algumas coisas que eu posso fazer bem, algumas coisas que posso não fazer tão bem assim. Eu aprendi que você tem de continuar a aprender o tempo todo ", disse Brown na reunião, de acordo com um texto do discurso fornecido pelo seu gabinete.

Repetidas palmas puderam ser ouvidas na reunião, e uma ministra disse que Brown teve o seu melhor desempenho até agora diante dos legisladores do partido.

"Houve uma enorme demonstração de unidade", disse a secretária de Cultura, Ben Bradshaw disse. "Ele fez o discurso de sua vida."

O primeiro-ministro teve que encarar os pedidos de renúncia de vários de seus parlamentares, como os do ex-ministro do Interior Charles Clarke, embora tenham sido minoria e procedido de deputados já conhecidos por sua insatisfação com sua liderança.

Em linhas gerais, segundo declararam à BBC o líder dos trabalhistas no Parlamento do Reino Unido, Tony Lloyd, e o deputado e ministro da Defesa, Bob Ainsworth, "o apoio a Brown foi arrasador".

As regras do Partido Trabalhista estabelecem que é necessário que 20% de seus parlamentares --71, atualmente-- apoiem a proposta de um candidato alternativo para que haja votação. Por isso, dificilmente haverá um "golpe de Estado" bem-sucedido atualmente.

Brown ganhou tempo em um dia que não ficou imune a sobressaltos, já que a ministra do Meio Ambiente, Jane Kennedy, anunciou sua renúncia, a última de uma longa série, por não se sentir confortável com a maneira de fazer política do atual Governo do Reino Unido.

Entretanto, em linhas gerais, foi um dia de apoio decisivo para o primeiro-ministro, como o expressado pelos líderes do Partido Trabalhista na Escócia, onde os eleitores também deram as costas à legenda nas eleições ao Parlamento Europeu.

Na Escócia, os trabalhistas ficaram na segunda posição com 20,8% dos votos, atrás do nacionalista SNP, que obteve 29,1%, em uma derrota que, segundo o secretário-geral do trabalhismo escocês, Jim Murphy, não põe em dúvida a liderança de Brown.

"Tenho a confiança de que Gordon demonstrará que é a pessoa adequada para o trabalho e eu estou convencido de que o é", disse Murphy.

O respaldo a Brown veio também indiretamente do novo ministro do Interior, Alan Johnson, considerado por muitos como o candidato com mais possibilidades de substituir o primeiro-ministro caso este venha a jogar a toalha.

Johnson não se referiu explicitamente à situação de Brown, mas disse que tirá-lo do poder "não é uma boa maneira de unir o partido".

"Podemos nos recuperar. Tenho certeza", disse Johnson, que convidou seus companheiros de partido a "escutar o que o povo está dizendo, e não só nossos militantes e ativistas".

A vice-líder do Partido Trabalhista, Harriet Harman, insistiu em que o governo do Reino Unido seguirá trabalhando para superar a crise econômica e os problemas institucionais gerados pelo uso abusivo de verbas públicas por parlamentares, e colocou Brown como o líder necessário.

O Partido Conservador, por sua vez, se anima ao estar na posição mais promissora para voltar ao Governo desde 1997, quando o trabalhista Tony Blair foi eleito primeiro-ministro.

O líder opositor, David Cameron, descreveu a crise do trabalhismo como "uma lenta dança de morte política", na qual "[Brown] não pode remodelar seu governo e na qual [os críticos] não parecem capazes de organizar uma manobra" que desbanque definitivamente o primeiro-ministro.
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