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Analfabeta, doceira de 67 anos usa o instinto para desenvolver as receitas

G1

Uma doceira empreendedora de 67 anos é exemplo de superação em de Santa Cruz das Palmeiras (SP). Sem nunca ter ido à escola ou ter feito cursos, há 20 anos ela usa o instinto para desenvolver as mais de 80 receitas que são vendidas por sua filha em toda a cidade.

As mãos de Dona Laurinda da Silva parecem se multiplicar diante de tantas tarefas feitas em um espaço de dois metros de largura por quatro de comprimento no corredor da casa onde mora.

Ela prepara a massa do pão, cuida do forno para que o bolo asse de acordo e, no tacho, mexe pacientemente até o doce alcançar o ponto certo. Tudo praticamente ao mesmo tempo.

O trabalho começou por acaso. “No início eu vendia dos outros depois eu achei que também poderia fazer, não sabia fazer nada. Ai eu comecei a fazer, mexer com esfihas, depois comecei a fazer doces e depois pães, bolos. Faço de tudo um pouco”, disse.

O que mais impressiona é que Dona Laurinda é analfabeta e, portanto, nunca seguiu receita nenhuma. Ela vai acrescentando os ingredientes a olho mesmo. ”Eu vou pela palma da minha mão, sempre pensando se não falta algum ingrediente e sempre deu certo”, afirmou.

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Ajuda
Hoje ela tem uma infinidade de pratos para oferecer aos clientes e conta com a ajuda da filha Márcia Maria Rocha da Silva. “Sou o braço direito. Eu faço os brigadeiros, as bolachinhas de nata, os cajuzinhos”, explicou.

Márcia teve meningite na infância e, por muito tempo, perdeu os movimentos do corpo, mas com tratamento foi se recuperando. Além de ajudar na cozinha, ela também faz as entregas. “A gente leva de tudo um pouco, salgado, doce. Cada freguês pede de um jeito”, disse.

Ela percorre cerca de oito quilômetros por dia com uma velha bicicleta, antigo brinquedo de infância de mais de 30 anos. As encomendas vão juntas em uma cesta e, de porta em porta, vai vendendo as guloseimas.

O comerciante Marco Antônio Vieira dos Santos não consegue recusar. “Quando ela traz um pé de moleque eu não consigo resistir. Ela ajuda a gente a criar a barriga”, brincou.

Doceira é exemplo de superação em Santa Cruz
das Palmeiras (Foto: Pedro Santana/EPTV)

Informalidade
Dona Laurinda também mantém o negócio informalmente e não contabiliza os lucros. “Porque se eu levar na ponta do lápis eu não trabalho. Então, se no fim do mês eu paguei força, água, telefone e não fiquei devendo nada, deu lucro”, afirmou.

Assim como 43,5% das pessoas que atuam como empresas no Brasil, segundo o Sebrae, ela não se considera uma empreendedora. “Eu me considero uma vencedora. tudo que vem, eu consigo vencer, batalhar”.

A doceira já fez de tudo na vida para sobreviver. Foi trabalhadora rural e empregada doméstica. “Já passei fome. Fritar um ovo para dar comida para três crianças. Já tive que trabalhar na roça.

Como na cozinha, na vida ela inventou a própria receita. Experimentou, modelou alternativas e criou. Mesmo depois de tantos sofrimentos, leva no semblante um sorriso tranquilo “Eu amo demais meus dois filhos. Então é isso que talvez faça eu trabalhar muito, muito, para não faltar nada para eles. Pode faltar tudo para mim, mas para os dois não”, disse.
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