Imprimir

Notícias / Esportes

Dana White: entre a paixão pelo MMA e os negócios do UFC

O Globo

Os mais brilhantes lutadores do UFC dividem os holofotes com um sujeito de 43 anos, careca e humor que oscila. O que não oscila em Dana White é a paixão que demonstra para falar do maior evento de MMA do planeta, que este americano preside desde 2002. Nesta sexta-feira, véspera do UFC 155 em que o brasileiro Júnior "Cigano" dos Santos enfrenta Cain Velasquez, ele teve um encontro com jornalistas brasileiros no escritório da Zuffa, empresa que controla o UFC, em Las Vegas, numa sala de reuniões em que se destaca uma enorme foto de Chuck Liddell, grande amigo de Dana.

Ao contrário do futebol, onde os encontros de representantes da imprensa com dirigentes e atletas costumam ser restrito, rápidos e superficiais, o MMA ainda vive outra realidade. Ainda que não tão acessível quanto a maioria dos lutadores profissionais, Dana White não tem problemas em espalhar suas palavras e ideias por aí. Durante cada edição do UFC, cria rodinhas com jornalistas em que repercute as últimas notícias do mundo da luta. Sejam convenientes ou inconvenientes, não costuma deixar perguntas sem respostas. Em Las Vegas, na última quarta-feira, discutiu com um jornalista americano sobre os exames de anti-doping no UFC. Com um vocabulário cheio de gírias e até palavrões e a linguagem corporal pouco ortodoxa para um homem de negócios, Dana transmite a imagem de alguém franco.

A coerência que mantém nos negócios costuma ser mandada para escanteio nestas conversar informais em que seu lado mais passional é exposto. O mesmo homem que critica Anderson Silva e Jon Jones é capaz de tecer os maiores elogios a dois de seus funcionários mais talentos - principalmente o brasileiro, que é descrito como um artista até na hora de negociar contratos. No fim, a paixão pelos negócios é que fala mais alto.

— É sempre interessante (negociar com o Anderson), é sempre diferente, ele é um artista. Talvez porque eu o respeite tanto, aceito com ele situações que me deixariam louco com outros - conta Dana, que ri ao relembrar reuniões com Anderson e seus empresários, Ed Soares e Jorge Guimarães, recheadas de gritarias em português entre os brasileiros. - Geralmente, eu falaria: "Olha, babaca, você está sob contrato. Você tem que lutar!" Mas com Anderson é diferente. Eu adoro como esse cara trabalha. Fico muito animado quando há uma luta do Anderson Silva. Ele faz coisas que outras pessoas não podem fazer.

De acordo com Dana, Anderson Silva está prestes a assinar um contrato de 10 lutas em três anos com o UFC. Ainda segundo ele, as superlutas com Georges St-Pierre e Jon Jones entrarão neste pacote. Não é a primeira vez que o assunto vem à tona, mas é curioso que seja repetido pelo manda-chuva do MMA, o mesmo que pouco tempo depois diz que prefere não comentar sobre possíveis novos eventos do UFC no Brasil. A justificativa é de que não é bom falar sobre negócios ainda não fechados.

O que Dana faz questão de falar é sobre a importância do Brasil no UFC. A empresa contratou neste mês de dezembro uma executiva para cuidar de seus negócios no Brasil, Grace Tourinho, e ganhará em breve um escritório em São Paulo. Como acredita que a experiência de assistir uma luta ao vivo é o sonho dos fãs do UFC, outras praças além de Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte receberão lutas. Estádios de futebol estão na mira, mas precisa ser para a luta certa. Uma dica para os brasileienses: além das três cidades que já recebem o UFC no país, o único outro local em que ele esteve no Brasil foi Brasília.

— Vocês (brasileiros) estão perto de se tornarem (o maior mercado do UFC) à frente de todo o mundo, perto de ficarem à frente dos Estados Unidos. A única coisa que deixa vocês em segundo é o pay-per-view — explica ele, destacando a venda de lutas por televisão que chegam a ser comercializadas para um milhão de lares nos EUA. — É impressionante o quão rápido e quão grande se tornou (o UFC) no Brasil.

O caso de Dana White com o Brasil parece mesmo ser de amor. Portador da Síndrome de Ménière, doença que pode levar à surdez, ele sofrerá em 15 de janeiro uma cirurgia em que não poderá evitar dezenas de pontos próximo à orelha. Não poderá evitar também sua ida para São Paulo dois dias depois. Em 19 de janeiro, o Ibirapuera sedia o UFC que colocará frente à frente Vitor Belfort e Michael Bisping.
— Eu vou estar lá, eu vou estar lá, eu vou estar lá — repete. — Não dou a mínima se minha orelha cair.

* O repórter viajou a convite da organização do UFC
Imprimir