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Nascem em Goiânia as gêmeas geradas no útero da avó de 52 anos

G1

Nasceram por volta das 20h de segunda-feira (7), em um hospital do Setor Aeroporto, em Goiânia, as gêmeas Emanuele e Júlia. Elas foram geradas no útero da avó de 52 anos. As crianças nasceram saudáveis e avó, segundo os médicos, reagiu muito bem. "É uma felicidade que não tem tamanho", descreveu, emocionada, a mãe biológica das gêmeas, a funcionária pública Fernanda Medeiros, de 34 anos, momentos após o nascimento.

Os médicos haviam dito que dependendo do estado de saúde, as irmãs precisariam ficar internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o que não foi necessário.

Amiga da família, a aposentada Mercilene Rodrigues acompanhou de perto a ansiedade de Fernanda momentos antes do parto. Para ela, a atitude da avó foi um ato de amor: "É amor. É o maior presente que o ser humano pode ganhar. É uma prova de amor muito grande e ela [a avó] vai ser mãe três vezes".

Os bebês se desenvolveram no útero da avó, a dona de casa Maria da Glória. Para engravidar, ela teve de voltar a menstruar e emagreceu 11 kg. A família é de Santa Helena de Goiás e já estava na capital nos últimos dias aguardando o nascimento. A previsão para a cirurgia cesariana era para o final desta semana, quando a dona de casa atingisse a 37ª semana de gestação. A família foi pega de surpresa na tarde de segunda-feira, durante uma consulta de rotina, quando o médico anunciou que o nascimento aconteceria na mesma noite.

Fernanda esperou pelo parto do lado de fora do centro cirurgico. Emocionada, ela não conseguia disfarçar a ansiedade. "Meus Deus, meu coração está quase parando de bater. Se nasce um bebê, nasce uma mãe. Hoje eu estou nascendo", disse, em meio a lágrimas, enquanto esperava o nascimento das filhas gêmeas.

Registro Civil
Fernanda reclama não conseguiu autorização da Justiça para que ela e o marido, pais biológicos das gêmeas, possam registrá-las em seus nomes. A advogada da família, Léa Carvalho, conversou com o G1 por telefone e explicou que o Ministério Público (MP) deu parecer favorável ao pedido. “O MP autorizou que a unidade hospitalar que fizer o parto emita a declaração de Nascido Vivo no nome dos pais biológicos. Agora, falta a decisão do juiz de Santa Helena”, explicou.

No entanto, a família das gêmeas reclama que não há juiz na cidade para dar o parecer. “Quando levamos o processo à juíza, ela disse que estava saindo do cargo na cidade e, por isso, não poderia analisar o processo. Depois, entrou uma juíza no plantão, mas também não fez nada alegando que o processo não foi protocolado no plantão dela. Depois, disseram que iria um juiz para a cidade, mas até agora nada”, lamentou Fernanda.

Sem a autorização, a declaração de Nascido Vivo será registrada no nome da mãe de Fernanda, dificultando assim que os pais biológicos registrem as crianças. A advogada explica que, sem os documentos no nome dos pais, as gêmeas não podem ser incluídas no plano de saúde deles, e a funcionária pública não pode tirar licença-maternidade para cuidar das filhas.

A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Goiás informou ao G1 que a presidência do Tribunal já designou um juiz para responder por Santa Helena de Goiás e que na terça-feira (8) ele já estará a serviço no fórum da cidade. A família espera uma decisão favorável da Justiça ainda antes da alta de Maria da Glória, que deve acontecer até na quita-feira (10), segundo familiares.

Presente
De acordo com a dona de casa que emprestou o útero para a filha, o empréstimo é um “presente”. Fernanda Medeiros perdeu o útero há 20 anos. Mãe de três filhos, Maria da Glória já tem um neto de 9 anos e teve de emagrecer 11 quilos e voltar a menstruar para poder gerar as netas.

Fernanda conta ainda que está fazendo um tratamento para tentar amamentar as filhas. No entanto, a questão da amamentação das crianças ainda não foi definida e está sendo acompanhada de perto por uma psicóloga.

Retirada do útero
Fernanda descobriu que não poderia ter filhos aos 13 anos. A servidora nasceu com deficiência uterina e, segundo ela, precisou retirar o órgão após a primeira menstruação, quando teve cólicas tão fortes que a levaram para o hospital. “Só fui saber que não tinha mais útero 15 dias depois da cirurgia, quando fui retirar os pontos. O médico me explicou tudo e tive que me conformar. Na época, foi triste demais porque desde nova eu já gostava de criança e tinha vontade de ser mãe”, lembra a mãe biológica das gêmeas.

Fernanda se casou aos 20 anos e tentou adotar uma criança, mas não conseguiu. Em 2005, a servidora pública viu na TV a história de uma sogra que gerou o neto para a nora. “Minha mãe e minha sogra se ofereceram para gerar meu filho. Fomos ao médico, eu e minha mãe, mas o doutor disse que seria muito arriscado por causa da idade dela. Então, não deu certo”, lembra a funcionária pública, que na época também não tinha condições financeiras para bancar o procedimento.

Mesmo diante da tentativa frustrada, Fernanda não desistiu e, no início de 2011, voltou ao médico. Maria da Glória foi submetida a exames que revelaram a ótima saúde para gerar os bebês. “A primeira tentativa para a fertilização fracassou porque não ovulei muito. Mas na segunda vez ovulei bem e separamos quatro embriões bons. Dois usamos e os outros dois estão congelados”, revela Fernanda.
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