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Governo do Rio nega que Museu do Índio será desocupado amanhã
FOLHA.COM
O Governo do Estado negou neste domingo (13) que desocupará a partir de amanhã o antigo Museu do Índio, no Maracanã, zona norte do Rio. O prédio de 1862, ao lado do estádio, deve ser demolido por causa da Copa do Mundo.
"Não tem data para acontecer", afirmou a assessoria de imprensa da Emop (Empresa de Obras Públicas). "É um processo e depende de negociação".
A Secretaria de Ação Social informou que decidirá amanhã de manhã quais serão os procedimentos para a retirada das 23 famílias indígenas que vivem há seis anos no local. "Ninguém quer um derramamento de sangue", disse hoje a assessoria de imprensa. O cadastramento deve ser feito ao longo da semana.
Às 19h30 de sábado (12), 40 homens do Batalhão de Choque que cercavam a áreas desde a noite anterior deixaram o local porque não receberam a ordem judicial para a ação de reintegração de posse.
Durante quase todo o dia, o clima foi de tensão. "A situação é caótica. Se avizinha uma luta corporal entre policiais e indígenas", disse pela manhã o defensor público Daniel Macedo, titular do segundo ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva, que acompanhava os índios durante a operação.
O local foi tomado por estudantes e integrantes de movimentos sociais, que entravam na área pulando o muro depois que os moradores montaram uma barricada com madeira e arame farpado na tentativa de evitar a entrada da polícia. Índios com arcos e flechas e homens encapuzados permaneceram horas nas janelas mais altas do prédio.
À tarde, a situação acalmou um pouco. Às 16h, o cacique Carlos Tukano, 52, afirmou aos jornalistas que os índios decidiram não usar armas em caso de invasão pelos policiais, mas que iriam "resistir com a própria vida" caso tentassem tirá-los de lá. "Em nome da Copa, o governo está matando nossa história. Não vamos brigar, mas vamos resistir", disse.
Hoje, os indígenas disseram que a negociação depende de proposta documentada pelo governo. A tribo afirma que houve apenas tentativa de acordo verbal para pagamento de aluguel social, no valor de R$ 400 a R$ 500.
Ainda com barricadas na entrada principal do museu, índios observavam o movimento no entorno da tribo por cima do muro do imóvel.
"Estamos apreensivos porque não sabemos quando eles [policiais] podem voltar. Proposta oficial não tem. Emop falou em aluguel social, mas a nível de papel não tem nada de concreto", disse Tukano.
DISPUTA
O local é alvo de uma briga na Justiça. De um lado está o governo estadual, que quer demolir o prédio para melhorar as condições de acesso ao estádio. Do outro, índios e a Defensoria Pública da União, que defendem o tombamento do espaço.
A demolição do prédio está prevista na minuta do edital de licitação para concessão do Maracanã. A derrubada tem como objetivo, segundo o governo, facilitar a mobilidade do pública na chegada e saída do estádio.
Criado em 1953, o museu funcionou por cerca de 25 anos. Desde o fim da década de 1970, está abandonado. Um grupo de índios se mudou para o local em 2006, a fim de evitar a demolição.